Emprego Novo

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Chego em casa, entro no meu quarto e toco uma música de Ed Sheeran, que sempre me faz lembrar da minha mãe. Photograph. Ainda guardo uma foto minha com ela, de quando eu tinha 8 anos, é meu objeto mais valioso.
Fecho os olhos e fico repensando tudo o que a Gina disse.

"Loving can hurt
Loving can hurt sometimes
But it's the only thing that I know
When it gets hard
You know it can get hard sometimes
It is the only thing that makes us feel alive"

Talvez ela tenha razão, talvez eu não consiga ir pra Londres afinal. Não tenho nem metade do dinheiro que preciso para ir.

"We keep this love in a photograph
We made these memories for ourselves
Where our eyes are never closing
Our hearts were never broken
And time's forever frozen still"

Talvez eu não cante tão bem assim, e esteja desperdiçando tempo.
Talvez eu não consiga. Talvez eu não seja assim tão forte. São tantos "talvez".

"So you can keep me inside the pocket
Of your ripped jeans
Holding me close until our eyes meet
You won't ever be alone
Wait for me to come home..."

Abro os olhos quando ouço palmas ecoando no meu quarto. Sorri assim que vi que era minha vó.

Ela tem 76 anos e é bem forte, embora sofra de pressão baixa. Tem cabelos longos, totalmente brancos e é magra.

Seus olhos são de um azul tão intensos, que inveja, penso. Gostaria de ter herdado essa cor.

- Música linda, Mel, fica linda na sua voz. - seu tom de voz é meigo, porem um pouco sapeca. Como se estivesse escondendo algo.
- Obrigada vovó. - olho o relógio do meu pulso. - Meu Deus! Hoje tenho que ir trabalhar!
- Essa hora, querida? A mesma hora da escola? - ela pergunta.
- Ah, sabe como é né. Hoje é o último dia de aula, então falei que tudo bem trabalhar de manhã, e a propósito, a tarde também, chego 22hrs. Esta bem?
Foi mais uma pergunta retorica. Ela sabe que quando ponho algo na cabeça, ninguém consegue tirar. E eu também não queria falar sobre a tal recuperação, pois a velha poderia ter um ataque.

- Claro, Lissa... Mas espere! - ela me para perto da porta. - Não vá agora, preciso te perguntar uma coisa...
Parei. Meu Deus! Será que ela já sabe da minha recuperação? Será que o diretor filha da mãe já ligou e avisou tudo? Tenho que fugir dessa.
- Ah, vovó, seja lá o que for, pode esperar até 22hrs, certo? Eu te amo vovó. - depositei um beijo em sua testa. Não deixei ela responder e eu fui direto para o ponto de ônibus.

[...]

Depois de alguns minutos, já estava dentro do ônibus, só que infelizmente tinha um probleminha: Estava completamente LOTADO!

Cuidei de segurar em algum bastão de apoio, o que não foi fácil. Centenas de crianças chorando, milhares de homens fedorentos, milhões de mulheres fofocando!

E como puro presente do destino, o único lugar que consigo me segurar, é um bastão onde um cara bem gordo, com a camisa suada, a calça abaixada com um nojento cofrinho aparecendo, também está. Disfarçadamente coloco as mãos no meu nariz, afim de não sentir aquele odor.

- A porra da viagem vai ser longa. - digo.
- O que disse, garota? - Uma mulher grávida de talvez uns cinco bebês-mutantes-super-gigantes (aquela barriga era enorme), me perguntou fazendo carinha de nojo. Gelei. Não se deve aborrecer grávidas, certo?

- Anh... Eu disse que: No centro da cidade... tem uma bomba. - falei sem pensar. Quando olhei pelas janelas, por pura ironia, estávamos no centro da cidade. PORRA! E acho que foi a vez dela de gelar. A gorda segurou forte a linha do baixo ventre e esbugalhou os olhos. Meu Deus, eu vou provocar um aborto?

- VAI NASCER!!! - ela gritou, e na mesma hora o motorista fez um movimento brusco. Que me fez cair de cara na costa suada do cara do cofrinho da minha frente.

- PRO HOSPITAL, URGENTE! -alguém gritou e o motorista assentiu.

Todos olharam apavorados pra mulher que estava quase parindo.
- AAAAAAAAAAAAAH!!! - A mulher gritava.
- ELA TÁ TENDO CONTRAÇÕES. - Um idiota falou.
- MEU DEUS, VAMOS PARA UM HOSPITAL! - Um mais idiota ainda gritou.
- NÃO VAMOS NÃO! ESTOU ATRASADA PRO MEU PRIMEIRO DIA NO MEU EMPREGO NA LANCHONETE. E NÃO QUERO SER DEMITIDA! - essa foi eu,
desesperada.

Acho que minhas palavras não causaram tanto impacto assim, já que as pessoas me olhavam feio. Ah, qual é?!

- AAAAAAAAAAAAAAAAH, CA...RA. RALHO! VAI NASCER! - a grávida gritou e o quando eu menos esperava, ela me puxou e apertou meus braços com tanta força que juro que eu ouvi o doce som dos meus ossos sendo esmagados.

- AAAAAAAAAAAHHHHHHH. - agora era nós duas que gritavámos. - PELO AMOR DE DEUS, TEM ALGUM MÉDICO AÍ?

As pessoas se calaram. E alguém no fundo do ônibus lotado se pronunciou.
- Eu, sou médica, amiga! - E por incrível que pareça um cara totalmente afeminado, usando uma camisa rosa, uma calça amarela, e um lencinho azul no pescoço se aproximou
- FALA SÉRIO, VOCÊ NÃO É MÉDICO! - gritei.
- NÃO SOU MESMO NÃO! EU SOU MÉDICA, SUA TOSCA. ME DEIXE VER A PACIENTE. - disse com o nariz empinado. Deixei o medi... Opa, a médica afeminada e corri pro motorista. Eu precisava chegar no trabalho, nem que fosse correndo.

- AHHHHH, VOCÊ NÃO É MÉDICO, SEU BAITOLA ESCROTO! AAAAAH!
- É, MAS A DRAGA DA MINHA IRMÃ, É! E NÃO ME CHAME DE BAITOLA, SUA GORDA!

Ainda ouvi a médica com problemas mentais e sua paciente calma conversaram, e me dirigi ao motorista:

- Tem que me deixar sair, pelo amor de Deus!
- Estou indo pro hospital!
- PARA ESSA MERDA, OU EU ME JOGO DA JANELA! - ameacei
- PUTA QUE PARIU! Ah... Desculpa moça - ele olhou pra grávida esgoelada , freou a lata velha bruscamente e me empurrou pra fora do ônibus. E partiu logo em seguida.

- FILHA DA PUTA! AQUI PRA VOCÊ: - e mostrei meu lindo e dedo do meio para o infeliz.

Ouvi alguém pigarreando, então olhei para trás. E lá estava, meu futuro chefe sério, um cara de nariz maior que a cara, super alto e magro de cabelos ruivos. E logo atrás, uma lanchonete ao ar livre, lotada de gente e todas olhando pra mim. Que ótimo! Dei um sorrisinho amarelo.

- Olá, Sr Tomá. Muito prazer em conhecê-lo, sou Melissa Yo...
- Eu sei quem você é, menina insolente. E você está 4 minutos atrasada, quando deveria chegar adiantada. Não coloco funcionários dentro desde estabelecimento que descumprem e desrespeitam as nossas normas. Tendo assim, sugiro que você entre e vista seu uniforme. Saiba que só te contratei pois você é a única garota que sabe inglês por esse lugar. Já tenho serviços pra você. E... Meu Deus! Isto no seu braço é sangue? - ele tinha um sotaque estranho e um ar arrogante. Deus, não vou aguentar isso todo dia. Olhei para meu braço, realmente estava sangrando.

- Uma grávida me apertou na vinda, um homem que era médica ajudou ela, eu consegui chegar aqui e...
- Sem desculpas! Entre, olhe se cabelo! Ta toda amarrotada, e... - ele se aproximou e me cheirou. Esse cara é louco - FEDORENTA!

Algumas garotas que estavam sentadas em uma mesa riram alto, entre elas, estava nada mais nada menos que Gina Darcley. Isso era humilhação! Entrei correndo para a cozinha e suspirei alto.
- Garçonete? Estou precisando de ajuda aqui, benzinho. - A loira maldita chamou.

É, hoje vai ser um dia longo.

Give me Love [COMPLETA]Where stories live. Discover now