[29]

813 165 42
                                    

L I A M.

Assim que estaciono e saio do carro, deparo-me com duas caixas grandes de cartão em frente à porta da minha casa. Estranho o facto de elas estarem cá fora, uma vez que a Elora está em casa e se tivesse havido alguma entrega ela teria recebido, a não ser que desconfiasse que alguém de não confiança nos estivesse a tocar à campainha.

Abri lentamente a porta e não me parecia haver qualquer sinal dela, mas logo reparei nas suas coisas penduradas no bengaleiro.


"Elora?!" A minha voz soou um pouco mais surpreendida que o suposto. "Que raio são estas caixas e o que estão elas a fazer à nossa porta?"

"Caixas?" Perguntou curiosa e apareceu a correr desleixadamente com um bebé ao colo.

"E esse bebé?" Eu olhei-a um pouco triste, embora não fosse a minha intenção.

"Longa história?" Ela meio que perguntou e meio afirmou. "Mentira, é bem curta mas trás as caixas para dentro."


Eu apenas assenti ainda um pouco indignado por a ver com um bebé ao colo. Era impossível ser dela. Entrei em casa deixando a porta aberta e retirei os meus agasalhos pendurando-os no bengaleiro e depois pousei a minha pasta no pequeno móvel que estava à entrada da casa. Agarrei nas caixas à vez e levei-as para a sala, onde depois nos sentámos no sofá.

Levei um pouco a pensar se as abria ou não pois não queria ter uma surpresa desagradável e acabei por ganhar a coragem que precisava ao ver o bebé no seu colo e abri as caixas. Quando vi o que lá estava dentro era meio impossível de acreditar, as coisas eram de bebé, roupas e cobertores pequenos que deveriam ser para a cama e fraldas e tudo o que tinha haver com isso.


"Mas que raio vem a ser isto?" Perguntei indignado.

"Os meus pais estiveram aqui hoje." A Elora admitiu e eu olhei-A demasiado espantado. "Pediram, quer dizer, eles iam pedir que eu tomasse conta do Ramsay e eu nem sequer aceitei, eles praticamente deixaram aqui o miúdo e foram-se embora."

"Mas porquê?"

"Não faço ideia, mas vindo deles, nada é bom. Eles é que precisavam de ir às tuas consultas e não eu." Disse sincera. "Eu tenho quase a certeza que eles acabaram de abandonar o bebé aqui connosco."

"Diz-me que estás a brincar, eu prometo que não me chateio mesmo que hoje não seja o primeiro de Abril."

"Liam, eu ia mentir para quê?" Olhou-me séria e um pouco chateada por eu estar a desconfiar.


Eu ia responder-lhe mas ela não me deu tempo, apenas agarrou no primeiro cobertor que estava à vista, embrulhou o bebé e saiu para o andar de cima.

Eu não estava a desconfiar dela, apenas estou confuso e cansado. O dia no trabalho foi de loucos e quando chego a casa deparo-me com nada mais nada menos do que um bebé e a sua tralha atrelada. Eu não tenho nada contra bebés, mas é preciso ter muita lata para abandonar dois filhos. Principalmente quando este deve ter apenas sete ou oito meses. Principalmente quando é já o segundo filho que eles abandonam, é mesmo uma atitude de loucos. Para que é que eles fazem isto? Há milhares de perguntas a passarem-me pela cabeça e eu não consigo achar nenhuma resposta para elas. Realmente acho que a Elora tem razão e quem devia ter uma consulta comigo eram eles e não ela, se bem que ela nunca chegou a ter nenhuma consulta comigo porque decidiu contar-me tudo, um pouco por obrigação mas contou.

Psychiatrist // L.P. {terminada}Where stories live. Discover now