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E L O R A.

Passou-se uma semana inteira e só hoje é que me autorizaram a sair do hospital. A verdade é que eu não tenho para onde ir e não faço ideia do que é que vou fazer a seguir a pôr os pés fora do estabelecimento hospitalar. Sei que ainda tenho o resto do dinheiro que me sobrou porque bem, os meus pais tiveram a amabilidade de trazer a mala que deixei na casa deles, quase aposto que não foi porque pensaram que eu iria precisar de algo mas sim porque não queriam o que quer que fosse meu dentro da sua casa. Não os culpo por isso, mas é mau demais eles já terem esquecido que tiveram uma filha há vinte anos atrás e apesar de nunca terem querido saber de mim eu tenho pena que isso tenha acontecido porque a casa deles dava-me muito jeito agora. Sei que não temos qualquer relação e eu iria ignorá-los o tempo todo assim como iria tratá-los mal a cada vez que tentassem ter uma conversa comigo, mas comida e uma cama era tudo o que eu pedia agora.

Levantei-me finalmente daquela cama horrível e que já estava a aborrecer-me demasiado, e senti-me como se já não soubesse andar. As minhas pernas estavam doridas e meio que dormentes, por isso dei uma pequena caminhada dentro do quarto e ganhei finalmente coragem para abrir a mala e vestir-me. Quando já estava pronta, sentei-me um pouco aos pés da cama e suspirei. Não sei que raio vou fazer da minha vida e para ser honesta só me apetece é partir este quarto todo. De repente ouço a porta a abrir e como já sabia que seria o médico a dizer-me para pegar nas minhas coisas pois já poderia ir embora, fí-lo imediatamente sem ouvir qualquer palavra dele, mas assim que me virei deparei-me com uma pessoa bem diferente do médico. Liam. Porque estaria ele ali? Era assim tão burro ao ponto de ainda querer continuar a insistir para que eu fosse ter as tais sessões?


"Olá." Ele falou alguns segundos depois.

"O que estás aqui a fazer?" Perguntei chateada, querendo ir direita ao assunto.

"Ouve Elora." Ele suspirou, levando a mão à cara. "Eu estou aqui para te ajudar, quero que percebas isso de uma vez por todas e bem, sei que tu e os teus pais não se dão minimamente por isso no outro dia quando eu saí daqui deixei o meu número na recepção para me ligarem quando saísses daqui."

"E daí?" Cruzei os braços.

"E daí que espero que não sejas resmungona e que não negues a ajudar que te vou oferecer a seguir." Ele fez uma pausa, talvez para avaliar a minha reacção.

"Fogo Liam, fala de uma vez por todas antes que eu pegue na minha mala e desapareça daqui para sempre." Revirei os olhos e comecei a bater o pé impaciente.

"Tem calma." Ele falou no seu tom meigo, como sempre fazia. "Só queria saber se aceitas vir para minha casa por uns dias."


Assim que ele acabou de falar, eu comecei-me a rir fazendo com que a sua expressão mudasse para uma expressão confusa. Ele não tinha entendido de todo que o meu interessa na porra das sessões era completamente nulo, apesar do seu convite ser extremamente tentador, eu não queria conviver com um rapaz na mesma casa. Não era algo que me incomodasse, mas ao mesmo tempo incomodava-me um pouco. Alguém que é rapaz e que se oferece para me deixar ficar na sua casa por uns tempos é apenas sinónimo de que algo não vai correr bem - seja pela parte dele ou seja pela minha parte. Os rapazes nunca são coisa boa e eu não me vou dignar a dizer-lhe que sim.

Olhou para ele quando acabo de me rir e deixo ficar um sorriso na minha cara, pego na minha mala e abano a cabeça negativamente. Depois de perceber que o Liam tinha a minha mensagem bem recebida, fiz o favor de me despachar a sair do quarto, porém ele agarrou-me a mão e a sensação foi estranha demais para mim.


"Desculpa." Ele apressou-se a dizer assim que eu soltei a mão e me virei para o canto mais perto do quarto. "Não queria assustar-te, apenas não queria que fosses embora com essa decisão." Acrescentou rapidamente e eu notava nervosismo na sua voz.

"Eu faço tudo o que quiseres." Respondi, com esperança que ele se calasse.

"O quê?" Perguntou sem entender o que eu lhe dizia, continuei a encarar a parede.

"Eu vou contigo, vou morar na tua casa até alguém melhor se lembrar da minha existência." Suspirei.

"Elora..." Ele tentou falar, mas eu interrompi-o.

"Apenas não me toques." Era suposto eu ser forte ao dizer-lhe aquilo, mas sabia perfeitamente que a minha voz estava fraca e saía fraca em vez de segura.

"Desculpa." Ele repetiu-se.


Eu não disse mais nada e ganhei, finalmente, coragem para o olhar. Ele parecia triste e ao mesmo tempo chateado consigo próprio. Não o culpo, pois ele não iria adivinhar. Mas sinceramente nem eu própria sei o que é que me deu, não aconteceu eu comportar-me assim com mais ninguém, porque estaria a acontecer agora?

Ele fez-me sinal para que eu fosse à frente e assim o fiz, não querendo dizer nada que fosse piorar a situação e tenho bem a noção de que também já fui demasiado dura com ele quando ele me quer apenas ajudar. Mas como já lhe disse: eu não preciso de ajuda. A única pessoa que me pode ajudar sou eu própria e nem auto-ajuda eu consigo aceitar porque vamos ser sinceros. O que há para ajudar aqui? Nada. Eu tenho apenas que aceitar o que estava escrito para mim e se foi ter tido uma vida horrível então tudo bem, okay já aceitei tudo e agora melhorou alguma coisa? Nem um bocado. E para além disso, eu não estou doente por isso é apenas mais uma razão para que eu não queira aceitar a ajuda de ninguém.

Passou pela recepção acenando apenas com a cabeça em sinal de adeus à enfermeira e ela dá-me um sorriso que apenas me faz revirar os olhos. Tanta simpatia para nada mesmo. Assim que saio do hospital, praguejo mentalmente por estar tanto frio e eu ter vestido apenas uma t-shirt, só que ainda assim não faço nada para que Liam entenda que estou a precisar de um casaco; se ele me oferecesse o dele eu não aceitaria.


"O meu carro está ali," ele informa-me, apontando para um Audi A6 estilo desportivo.

"Okay." Respondo-lhe para não o deixar na ignorância e dirijo-me ao carro que rapidamente é destrancado.

"A casa não é muito longe. Meia hora talvez, nem tanto." Ele esclareceu depois de termos entrado no carro.

"Onde moras?" Murmurei.

"Wolverhampton."

"E vens até aqui? Para quê mesmo?" Ri cinicamente.

"Eu disse que te queria ajudar e se isso significa fazer uma viagem de meia hora três ou quatro vezes ao dia então eu faço se isso no final é sinónimo de que tu estás finalmente bem."

"Para!" Gritei com ele, encarando-o. "Entende que eu não preciso de ajuda porra! Não estou doente para falares dessa maneira, se o meu problema fosse uma doença então melhor ainda e se fosse grave era mesmo o ponto de perfeição, assim morria mais de pressa. Chiça!" Disse furiosa.


O Liam olhou-me um pouco arrependido com a escolha das suas palavras, mas assim que eu foquei o meu olhar na estrada, ele ligou o carro e arrancou.



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Oi lindas u.u Não demorei muito a postar pois não? ahah

Talvez amanhã haja mais, que tal se fosse um POV do Liam? Digam lá que ele não foi super amável? E bem, ela aceitou meio a mal, mas aceitou e agora eles vão viver os dois muahahahah


Btw, se alguém tiver sugestões a fazer, estejam à vontade :p



Psychiatrist // L.P. {terminada}Where stories live. Discover now