OS SEGREDOS DELE

A história completa

Abri os olhos enxergando com a visão embassada. Vi o teto branco com as luzes fortes e senti uma dor nos olhos botando o braço pra cobrir daquela luz intensa. Virei pro lado e vi Dex numa poltrona dormindo.

-Oi princeso adormecido.

Ele abriu os olhos devagar e quando logo percebeu que era eu levantou com rapidez.

-Oi princesa adormecida.-ele disse acariciando minhas bochechas.- Como está?

-Tirando o fato de ter levado um tiro, tudo bem. Onde estamos?

-Hospital de SmithTown. Vim correndo pra cá depois do incidente.

-Você comunicou a polícia?

-Na verdade não.

-Mas por quê?

-Eu não sabia de onde eles eram, vai que eram caçadores atrás de nós mandados pelo cara que sequestrou Ric. Não posso arriscar que descubram que Ric foi capturado. Matariam-no antes de a polícia encontrar o assassino. E se não matassem levariam Ric preso.

-Mas por que preso?

-Não te contaram a história completa né?!

Balancei que não com a cabeça. Ele suspirou e sentou do meu lado na maca.

-Os pais de Richard eram conhecidos por ter umas das maiores heranças da história de SunnyCity. Esses assassinos souberam disso e queriam arrumar um jeito de pegar essa grana. Como não seria fácil tê-la em mãos se os pais dele estivessem vivos, foram e mataram Dora e Luke numa noite em que Ric estava na casa de sua namorada Sally. Richard soube apenas no dia seguinte sobre o ocorrido e ele deveria assinar alguns documentos para a comprovação de que a herança seria passada para ele. Os assassinos logo souberam novamente e foram até a casa dele para ameaça-lo. Disseram que iam ferir todas as pessoas queridas dele até que a herança fosse repassada para o nome de Lourenzo Callaway. Ric achou besteira e não os deu atenção, mas ele não sabia que aqueles homens eram os verdadeiros assassinos. Foi então que na noite seguinte Sally ligou pra ele dizendo que dois homens armados invadiram sua casa e mataram seus pais, antes que Ric pudesse responder um tiro foi lançado e Sally não falou mais nada. Um dos homens no final da ligação apenas disse: "Lourenzo Callaway". Desde então Richard vem procurando por eles durante três anos atrás de vingança paga pela mesma moeda.

-Nossa! Mas ainda não entendi por que raios Richard seria preso?

-Durante essa perseguição Ric acabou matando um dos homens de Lourenzo, o problema é que um policial viu e o perseguiu até que Ric entrou num trem mas infelizmente deixou cair a carteira onde havia identidade, RG etc.

-Ainda procuram por ele?

-Sim, suspeitam que ele tem algo a ver com a morte de Sally e dos pais.

-Que coisa horrível! Mas matou o homem por legítima defesa?

-Na verdade não, o homem que ele matou era um dos melhores capangas de Lourenzo e matou justamente para provoca-lo.

-Não posso acreditar que estamos fazendo uma coisa para o bem dele, mas que pode se tornar algo ruim se alguém descobrir.

-Também tenho um pouco de medo quanto à isso.

-Posso te contar uma coisa?

-Diga.

Me endireitei na maca e consegui sentar encostando a cabeça no encosto.

-Antes de você aparecer eu estava começando a gostar de Richard, mas ainda não tinha certeza de nada sobre meus sentimentos. É que eu não sei o que vai ser depois que resgatarmos ele.

Ele colocou a mão sobre a minha e acariciou suavemente.

-Eu não vou obrigar você a ficar ou sentir algo por mim. Quero que tudo aconteça por vontade própria. Se quando ele voltar as coisas forem diferentes tudo bem, afinal quem chegou de repente fui eu né?!

Ele disse pacientemente e deu um tapinha na minha mão.

-Mas eu não quero ficar sem você, acho que já se tornou mais importante do que ele.

Quando disse isso ele levantou o rosto e me encarou diretamente nos olhos, deu um sorriso mostrando compaixão. Ele chegou mais perto e sussurrou no meu ouvido.

-Você já é mais importante pra mim.

Coloquei a mão nas suas bochechas macias e inclinei seus lábios para tocar os meus. Beijei-o sentindo que aquele era o lugar onde eu devia estar, com medo de deixa-lo se afastar de mim a qualquer momento, mas tive a certeza de que ele também queria ficar comigo quando sussurrou novamente:

-Acho que já quero assumir o compromisso.

Ri e o abracei forte querendo nunca mais sair dali. Fomos interrompidos quando uma enfermeira veio para falar comigo.

-Como a senhorita está?

-Muito bem, obrigada. Eu vou ter que fazer mais algum exame?

-Pelo que o doutor me disse não, a propósito posso saber como a senhorita...?

-Mellanie.

-Mellanie conseguiu um ferimento desses no braço?

Ela disse puxando a manga da minha camisola para ver melhor a cicatriz que a bala havia feito. Antes que eu pudesse inventar alguma resposta criativa Dexter interviu dizendo:

-Sabe como é, moramos num bairro muito perigoso, e estava rolando meio que uma briga e acidentalmente...

Então apontou pra mim mostrando o machucado.

-Qual o nome da senhora?-perguntei querendo saber um pouco mais sobre ela.

-Enfermeira Karen.

-Pois então Karen muito obrigada pela sua atenção, estamos bem.-disse dando um sorriso forçado.

-Ok. Sugiro apenas que mudem de bairro.-Karen disse saindo com uma cara de que não entendeu nada do que havia acontecido.

Quando ela finalmente saiu suspiramos de alívio. Comecei a rir e Dex disse:

-Ah qual é Mel, você tinha uma história melhor pra contar?

-Na verdade eu achei super aceitável sua justificativa.

Ele sorriu entrando na brincadeira e sentou na poltrona em frente à minha maca.

-Eu não vou ficar internada aqui né?! Amanhã mesmo partiremos.

-Você precisa se recuperar senhora corajosa.

-Não posso ficar parada só por causa que machuquei o braço enquanto Richard pode estar sendo torturado.- disse um pouco mais irritada com a situação.

-Eu sei que você quer salvar ele Mellanie, mas agora a prioridade é você. Se você não se preocupa com si mesma agradeça porque tem a mim pra se preocupar com você.

Dexter saiu do quarto médico e bateu a porta com força. Fiquei com muita raiva dele e estava desejando esquecer tudo o que acontecera a poucos minutos atrás. Me lembrei do dia em que conheci Richard e comecei a ficar pensando que mesmo ele tendo feito algumas coisas muito ruins ele não poderia mais ficar sofrendo por isso. Resolvi tomar uma atitude por conta própria já que Dexter nem ligava mais tanto. Levantei devagar e pus os pés no chão, recuando imediatamente quando senti o piso gelado tocar meu pé. Avistei os chinelos e fui depressa calçá-los. Peguei um casaco longo e azul que achei e abri a porta devagar com medo de alguém me ouvir saindo. Fui em direção à recepção procurando uma saída mas sem sucesso. Foi então que ao virar pra olhar pra trás vi Dexter me encarando com uma cara de "onde pensa que vai?", suspirei e voltei ao quarto lembrando que aquele não chegava nem perto de ser meu dia de sorte.