22. Baby, We're Perfect

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Eu já estava quase perto do meu armário quando Liam me viu. Ele estava obviamente cansado de explicar seu lado da história para cada pessoa que o perguntava o que havia acontecido. Bater nele foi um ato de extrema coragem ou de tamanha burrice. De qualquer forma, eu não tinha uma resposta para as perguntas das pessoas. Pela visão dos amigos de Liam, ele ter apanhado de mim foi uma história bem diferente.

Quando ele percebeu que eu estava tentando evitá-lo, ele soube que tinha a chance de mudar o rumo da história de uma vez por todas. "Hey!" ele gritou enquanto caminhava em minha direção. "Onde você pensa que está indo, viado?" ele completou.

Parei de caminhar e me virei para ele.

Ele trouxe um público, claro. De jeito algum eles iriam perder o que estava para acontecer. Normalmente as pessoas pagariam para ver brigas assim no pay-per-view, então assistir a uma de graça era quase que irrecusável.

Eu deveria estar assustado, eu deveria estar aterrorizado pela atenção. Metade da escola estava me olhando, cada um deles esperando para me ver apanhar. Mas eu não estava assustado, nem aterrorizado. Eu já estava cansado, e para ser sincero, não estou falando de Liam ou Harry. Eu já estava cansado de correr de tudo na minha vida, cansado de esperar para que algo de bom aconteça sem que eu precise intervir.

Liam começou a me empurrar, o que parecia mais com alunos da segunda série brigando. Eu não caí, nem chorei com o impacto de suas mãos pesadas contra meu peito. Eu me mantive firme e o empurrei de volta o mais forte que pude. Sua expressão mudou quando ele percebeu que eu não iria implorar por perdão na frente de todo mundo.

O que ele não sabia é que eu estava revidando não pela briga que havíamos tido, não por causa dele ou por causa daquilo tudo. Eu estava fazendo aquilo porque havia passado metade da minha vida com medo. Com medo das pessoas descobrirem o que eu sou. Com medo de que se eu fosse exposto, eu seria odiado por isso. Com medo de levar uma surra da minha mãe porque se ela descobrisse, saberia que o que sempre desconfiou, era verdade.

Mas honestamente, as coisas já não eram assim? Eu era sozinho, sem amigo e geralmente considerado estranho pelas outras pessoas, pelo menos as que sabiam que eu sequer existia, então qual o problema se descobrirem quem eu sou? Eu estava cansado de fugir, de fugir sobre quem sou, da minha mãe e de mim mesmo.

"Então você acha que é forte agora?" Liam rosnou, batendo em meu peito com um dos dedos para dar ênfase no que havia dito.

Empurrei seu dedo de volta e me aproximei dele. "Eu não comecei isso, Liam," eu disse em um tom calmo. "Mas se acha que estou com medo de você, está errado."

Ele deu um pulo em minha direção e eu me afastei em reflexo, percebendo que ele só queria mostrar que eu estava errado. Ele riu, sendo seguido pelas outras pessoas. "Você parece bem assustado, bichinha."

"Qual é a porra do seu problema?" eu rosnei de volta, as palavras saindo altas e arrastadas de minha garganta.

Liam automaticamente ergueu os punhos próximo do rosto para se defender.

"O que eu fiz para você, Liam? O que eu já fiz para você até hoje?"

"Bichas como você me deixam com raiva," ele disse, quase cuspindo.

"E daí? Por que se importa com o que eu sou?"

Seu cenho franziu. "Está dizendo que é viado?" ele olhou em volta. "Vocês ouviram? Ele admitiu!"

"E se eu for?" respondi, não me importando mais. "Como isso te afeta?"

Sua expressão congelou quando ele percebeu que eu não estava negando minha sexualidade. E eu entendi que zoar isso era a única coisa que ele sabia fazer.

"Quero dizer, sério, Liam? Por que se importaria sobre o que eu faço ou não? Você está tão fodido que precisa humilhar os outros pra se sentir bem? Você odeia tanto pessoas como eu que a única coisa que sabe fazer é bater nelas?"

Havia algumas pessoas rindo atrás de Liam.

"Eu não dou a mínima pra o que você faz," ele respondeu.

"Então por que está sempre atrás de mim? Quero dizer, qual é, Liam, o que eu já fiz pra você?"

Ele deu de ombros enquanto tentava pensar em algo, mas não lhe dei a chance.

"As pessoas são diferentes, seu babaca. Cada um de nós gosta do que nos convém e ninguém está pedindo sua permissão para isso." Um grupo de pessoas gritou "YEAH!" e eu me senti forte. "Eu não ligo se você gosta de mim ou não, Liam. E eu não ligo se você gosta ou não do jeito que vivo minha vida. Mas não vou correr de você sempre que vier falar da minha sexualidade. Homens de verdade não tem medo de coisas assim."

"Está dizendo que eu não sou um homem de verdade?" Liam rosnou e eu percebi que ia levar um soco.

"Eu estou dizendo que você não é um homem de verdade," Harry disse ao se aproximar de mim, puxando a atenção de todo mundo instantaneamente.

"Você não tem que fazer isso," eu disse em um tom baixo, tentando fazê-lo sair dali.

"Sim, eu tenho," ele respondeu.

"Qual é o seu problema, cara?" Harry perguntou enquanto se aproximava de Liam. "Você acha que todo garoto que gosta de garotos é afeminado e indefeso? Algum tipo de viado que você pode bater sempre que quiser?"

Liam riu. "Está dizendo que ele é um homem de verdade?" ele disse, apontando para mim.

Harry olhou para mim e sorriu. "Eu acho que ele é o único homem de verdade aqui." E depois se virou para Liam. "Ele está parado ali, sem medo, defendendo quem ele é e em quê ele acredita. Se isso não faz dele um homem de verdade, eu não sei o que faz então."

"Esfregar seu pau em outro garoto com certeza não." Liam respondeu.

"Por que, Liam?" Harry perguntou, pausando para dar efeito a sua pergunta. "Quando estávamos no ensino fundamental você esfregou bem seu pau em mim no campo de futebol, caso se lembre."

Houve uma explosão de risos e o rosto de Liam ficou vermelho. "Mentira! Você não pode provar isso!"

Harry deu de ombros. "Não preciso. Por que eu mentiria sobre algo assim?" ele disse, mais para as pessoas do que para Liam. "Quem liga de qualquer forma?" ele continuou. "Ninguém aqui é quem diz ser. E todos nós sabemos disso." Ele começou a olhar em volta para as pessoas. "Alguns de nós luta para ser magro, outros fazem sexo para ser popular, alguns batem nos outros para esconder quem são por dentro." Ele parou e olhou para mim. "E alguns machucam aqueles que mais amam para continuar se escondendo da verdade."

Eu balancei a cabeça em um não, mas ele me ignorou.

"Eu gosto de garotos também, Liam," ele disse, ainda me olhando. Pude ver algumas pessoas cobrindo a boca, completamente chocadas. "E se você tem um problema com o Louis, então você tem um problema comigo."

"Eu não preciso que você me salve," sussurrei.

"Não estou te salvando," ele disse, dando mais um passo em minha direção. "Estou me salvando."

E então ele me beijou.



Boys Don't CryOnde as histórias ganham vida. Descobre agora