8. Maybe With A Chance Of Certainty

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Meus olhos se fecharam e eu provei desejo e sangue enquanto minha língua se movia entre os lábios dele. Fiquei surpreso ao perceber que ele estava correspondendo ao beijo. Meu braço escorregou até suas costas e eu pude sentir um músculo duro debaixo do fino tecido da camisa que desapareceu quando ele se inclinou. "Quis fazer isso a noite toda," ele disse, encostando a testa na minha.

"Por que?" minha boca perguntou enquanto meus olhos permaneciam fechados.

Eu senti uma risada percorrer todo o seu corpo enquanto ele pressionava sua boca contra minha mais uma vez antes de afastá-la e sussurrar em meu ouvido. "Porque talvez eu gosto de você?" ele disse, sua respiração quente contra minha pele.

"Talvez?" eu perguntei, sem nem perceber que estava prendendo minha respiração.

"Talvez, com uma grande chance de certeza," ele disse, beijando meu pescoço. "Você gosta de mim?" ele perguntou de forma inocente.

"O que você acha?" perguntei, sorrindo como um idiota.

"Eu acho que você precisa de um livro de história maior se for cobrir sua ereção no meio do corredor de agora em diante," ele disse, sua língua se movendo contra a pele do meu pescoço por alguns segundos, me fazendo estremecer da cabeça aos pés.

Pude sentir minhas bochechas ficarem vermelhas enquanto aceitava o conselho. "Você percebeu," respondi.

"Oh, sim," ele rosnou enquanto voltava a roçar os lábios nos meus. "Você não é feio," ele repetiu, dessa vez de forma mais concreta. Nos beijamos de novo, o gosto forte de sangue me fazendo imaginar que estava lambendo uma bateria.

Nós paramos de nos beijar depois que ouvimos a briga dos pais dele se intensificar cada vez mais. Ele saltou da cama e correu para o banheiro enquanto eu tentava juntar meus livros antes que seus pais entrassem no quarto e nos vissem. As vozes se afastaram depois de alguns segundos, mas meu peito ainda estava apertado, com a mesma sensação familiar que passei em todas as noites que minha mãe brigava com o namorado dela.

"Você está pronto?" ele perguntou repentinamente, ajoelhando-se ao meu lado, meus olhos fixos nele enquanto eu tentava me recompor. Apenas balancei a cabeça e peguei minhas coisas.

Ele segurou minha mão assim que entramos na garagem; suas mãos eram grandes e grossas devido aos prováveis tombos no futebol. Meus dedos traçaram os calos lentamente enquanto ele dirigia em silêncio. Minhas mãos eram macias, tão frágeis e pequenas que me senti desconfortável perto de tamanha masculinidade. Quase as puxei de volta, mas ele a segurou firmemente e começou a acariciá-la com seu polegar.

"Sua mão é tão suave," ele disse.

Eu precisei de um minuto para perceber que aquilo era um elogio. Seu toque era tão gostoso. Eu acariciei sua mão de volta e sorri largamente. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa e depois a fechou de novo enquanto dirigia pelas ruas escuras da noite.

O silêncio estava ocupando o espaço entre nós dois enquanto ele virava na esquina da minha casa. Eu estava tão preso na minha própria miséria que pela primeira vez não me senti envergonhado de onde morava. Nós morávamos em um bairro horrível repleto de apartamentos pichados que ficava em uma parte afastada e violenta da cidade. Um lugar onde você teria mais chances de ser assaltado do que de comprar leite. Eu nem sequer havia percebido que estávamos em frente ao meu prédio quando ele disse, "eu nunca conheci ninguém que morasse aqui antes."

Merda.

"É, sinto muito por isso," eu disse, pegando minha mochila no banco de trás. "Eu não acho que seu carro esteja seguro por aqui."

Eu tentei puxar minha mão, mas ele se recusou a soltá-la, me impedindo de sair do carro. Eu o olhei de volta e ele disse, "eu não estou preocupado com meu carro."

Eu sabia onde isso iria parar, sabia disso quando saímos de sua casa, na verdade. "Olha, Harry, eu não espero que você fale comigo amanhã." Ele olhou para mim de volta, confuso, e eu continuei. "Eu sei que isso não é sério." Olhei para os meus pés, sabendo que não conseguiria fazer aquilo se estivesse olhando para ele. "Eu quero dizer, você é você e eu sou eu, e não há chance alguma disso significar algo, mas... Bem, é isso. Eu não quero que ache que vou ficar maluco por você ou te incomodando na escola ou algo assim. Quero dizer, eu entendi, está tudo bem."

Ele não disse nada, o que pareceu um silêncio de aceitação, então eu continuei. "Eu sei como esse filme termina. Não vamos virar amigos na segunda de manhã e vamos apenas esquecer tudo o que aconteceu. Eu não vou ficar atrás de você e tentar falar com você no corredor na frente dos seus amigos ou algo assim. Eu não sou esse tipo de cara." Eu respirei profundamente enquanto tentava engolir o nó que havia se formado em minha garganta. "Então não se preocupe, você está a salvo."

Ele olhou para mim por um longo tempo sem piscar. "Okay."

"Eu falo sério."

Em minha mente, eu já estava começando a gostar dele, estava completamente caído por ele, mas sabia que em algum momento ele iria se aproximar de mim completamene furioso e diria que aquilo nunca aconteceu e que ele não gostava de mim dessa forma. Então eu passaria longas semanas ouvindo músicas de emo e chorando até querer me matar. Tudo isso se passou pela minha cabeça em sete minutos na volta para casa. "Eu não sou esse tipo de cara." Mesmo que eu fosse completamente esse tipo de cara.

Ainda sem piscar, ele murmurou outro "okay."

"Eu não sou estúpido, sabe," eu disse, tentando lutar contra as lágrimas que queriam sair. "Eu sei que você não pode sair comigo." E era verdade; mesmo que eu acordasse no dia seguinte com uma vagina e peitos, de jeito algum ele namoraria comigo sendo tão conhecido na escola. Apesar de que eu seria uma garota maravilhosa, não havia motivos para ele namorar alguém como eu.

"Okay," ele disse de novo, confirmando tudo que eu já sabia.

"Então não se preocupe, não vou ficar parado lá esperando que você caminhe até meu armário amanhã e fale comigo." Afastei minha mão da dele. "Mas vou te ajudar com os estudos de qualquer forma."

Depois de uns dez segundos ele suspirou. O carro estava muito escuro para mim ver seu rosto, mas quando vi, ele não parecia feliz. "Obrigado."

Destravei a porta. "E você não precisa me beijar só porque estou te ajudando." Sem esperar uma resposta, eu abri a porta e sai o mais rápido que pude. Bati a porta como se fosse uma líder de torcida que havia levado um pé na bunda do garanhão da escola. Minha chave parecia não acertar a fechadura propositalmente enquanto eu soluçava em meio as lágrimas.

A porta se abriu e minha mãe estava parada do outro lado, suas palavras saindo embaralhadas enquanto ela perguntava "onde diabos você..." e depois ela viu o carro de Harry desaparecer no meio da noite. "Quem você conhece que tem um carro daquele?"

Eu a ignorei e passei por ela, sabendo que no meio de sua noitada com uma garrafa de Jack Daniels, ela jamais perceberia como eu estava chateado. O som da minha porta se batendo foi o mesmo nos apartamentos ao lado. Eu tentei não me jogar na cama e enfiar o rosto no travesseiro igual uma garotinha de doze anos. Eu tentei, mas falhei miseravelmente.

Boys Don't CryOnde as histórias ganham vida. Descobre agora