10. Two Lost Souls

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Devo ter ficado parado lá no corredor em frente ao meu armário por anos enquanto minha mente tentava decifrar o que meus olhos estavam vendo. Deveria ser algum tipo de miragem, uma ilusão criada pela minha cabeça para me mostrar o que meu coração verdadeiramente desejava. De jeito algum Harry estava ali encostado no armário, com um sorriso em seu rosto, apenas me desafiando a dizer alguma coisa. Eu estava paralisado entre querer passar minha mão nele para provar que ele não estava realmente ali e não me mover pelo medo de que ele talvez desaparecesse. Absolutamente nada saiu de minha boca. Parte minha tinha certeza de que aquilo era uma brincadeira da minha mente para me fazer agir normal. Outra parte minha se perguntou o que diabos ele estava fazendo ali depois de tudo que eu tinha lhe dito na noite anterior.

"Continue me encarando e as pessoas vão achar que você está caidinho por mim," ele disse em um tom baixo o suficiente para que só eu ouvisse.

Isso foi o suficiente para me fazer sair do meu transe e finalmente reagir. Eu agarrei um dos braços dele e o puxei para a primeira sala de aula vazia que encontrei, batendo a porta atrás de nós. Parecendo mais irritado do que eu realmente estava, eu exigi. "O que está fazendo?"

Seu sorriso não diminuiu, mas o brilho em seus olhos pareceu sumir quando ele respondeu. "Eu estava dizendo bom dia, qual o problema?"

Minha mochila escorregou por meu ombro enquanto eu me sentava em uma das cadeiras. "Eu te disse que estava tudo bem sobre ontem a noite," eu disse, suspirando, me perguntando como algo que parecia tão incrível na minha cabeça pudesse parecer uma merda quando eu falasse.

"Sim, você disse um monte de coisas ontem a noite." Seu sorriso sumiu. "Agora é a minha vez," ele disse, movendo-se em minha direção e se inclinando para frente, apoiando-se na mesa. "Olhe, Louis, eu não tenho ideia do que é isso, e eu não vou fingir que sei, mas eu posso te dizer isso. Eu não te beijei como forma de pagamento por você estar me ajudando a estudar." Sua voz estava tão visivelmente alterada, mas eu não conseguia me sentir nervoso ou apreensivo com isso. "Eu não tenho certeza de onde isso veio, mas deixe-me esclarecer as coisas: você não é algum tipo de vadia que está me ensinando história."

A frase "vadia que está me ensinando história," de qualquer forma, está eternamente gravada em minha memória.

"Você acha que me conhece. Acredite em mim quando digo que ninguém sabe quem diabos eu sou. Todo mundo pensa que eu..." Ele parou enquanto percebia que não importava qual palavra usasse, ele iria soar como um babaca. Ele sabia que era mais do que uma celebridade na escola, assim como em toda a cidade. Quero dizer, não "celebridade" como Paris Hilton ou alguém fútil, mas celebridade do mesmo jeito. Então se ele dissesse algo a menos do que isso, ele estaria mentindo.

Ninguém na nossa escola admitia o quão popular era a menos que estivessem muito bêbados ou fosse apenas uma vadia.

Era através dos outros que eles se tornavam populares ou a garota mais bonita que já caminhou pelos corredores, então se ele dissesse algo que se parecesse com "eu sou popular" agora iria violar todo o tipo de lei social da selva que era nossa escola.

Então ele apenas balançou a cabeça e disse, "todo mundo acha que eu sou esse tipo de cara, todo mundo menos eu." Ele olhou para mim e pela primeira vez eu percebi que não importa o quanto você acha que conhece alguém, a verdade é que você não conhece realmente. "Eu estou quebrado, Louis, estou quebrado por dentro..." Sua voz saiu como um sussurro. "E eu não sei o que fazer sobre isso."

Eu acho que ele disse algo depois disso e eu devo ter dito algo de volta, mas independente do que seja, não era importante porque eu finalmente achei algo que não sabia que existia. Eu devo ter ficado em silêncio por alguns segundos, porque ele olhou para mim preocupado e perguntou "Louis?"

Eu olhei para ele e sorri, porque eu acabei de perceber algo importante.

Eu encontrei outra pessoa como eu.

Existe um tipo de medo ou pavor quando você entra em um carro e sabe que ele vai bater no final da corrida. Mesmo que todos os comandos estejam perfeitos, algo te diz que ele não funcionará como deveria e que em algum momento irá colidir, mesmo que seja um modelo que acabou de sair da fábrica e esteja em condições ideais. E mesmo que você não se machuque tanto assim, você não pode fazer nada além de se sentir um pouco mal pelo carro por ele não saber o que irá acontecer no final.

É a mesma coisa quando você decide amar alguém. Você não tem ideia se as coisas vão funcionar. Em fato, na maior parte do tempo você não sabe se essa pessoa gosta de você da mesma forma. É preciso ter mais coragem para segurar a mão de alguém que talvez a afaste da sua do que para se sentar em um carro que você sabe que irá bater.

Eu não tinha certeza do que Harry e eu éramos, mas eu sabia que era algo completamente novo. O sinal interrompeu meus pensamentos e nos lembrou que mais uma vez estávamos no mundo real, onde havia consequências quando ignorávamos o tempo. O tempo existia porque a primeira aula era sempre na mesma hora todas as manhãs, e não importa o quão importante essa conversa era, o tempo não iria parar para que a continuássemos. Haveria consequências se nós cabulássemos a aula, nos meteríamos em uma confusão muito grande, então com grande relutância nós nos separamos, garantindo que falaríamos sobre isso mais tarde.

"Mais tarde" sendo um momento que não precisava ser especificado.

Em um relacionamento, você quer ter certeza de que tudo está perfeito antes de começar. As duas pessoas envolvidas querem dar o seu melhor para que tudo ocorra bem, mesmo que saibam que há uma grande possibilidade de falharem.


Boys Don't CryOnde as histórias ganham vida. Descobre agora