- Quem está aí? - pergunto grudada em meu cavalo, qualquer coisa eu monto e saiu voando.

A pessoa continua seu andar em minha direção com uma das mãos no bolso enquanto a outra é apoiada nas árvores à medida que anda. Ainda não consigo ver sua fisionomia.

- Não vai falar? - eu digo com a voz elevada por conta do nervosismo e tento controlar a minha respiração. - É melhor você falar ou...

- Ou?... - sua voz é grossa e forte. É homem.

Pensa Melissa, pensa! Ou o que?

- Ou... Eu serei obrigada a lutar com você. E olha que eu sou boa. - falo de nariz empinado.

- Isso seria fascinante de ver.

- Eu conheço essa voz... - murmuro me afastando de Lucky e cerrando os olhos para enxergar melhor o rosto do homem. - Thomas! - sussurro surpresa por vê-lo.

- Você não tem noção do quanto é perigoso andar por aí sozinha? - sua fala é leve e com censura.

- Eu poderia dizer o mesmo. – replico já conseguindo ver seu rosto.

- Mas eu sou um homem. – fala com explicação e ergo meus olhos.

- E por acaso tem algum problema eu ser mulher? - digo e cruzo meus braços.

- Nenhum. - ele sussurra e me arrepio. Ele me devora com seus olhos passeando por meu corpo.

Vejo sua mão fechar em punho e sua boca tomar gosto por alguma coisa. Thomas parece bem a vontade ainda que estejamos em uma floresta onde a escuridão só aumenta. Acho que tenho sorte de ser lua cheia. Minha mente entra em alerta. Olho novamente para os olhos desejosos de Thomas queimando minha pele.

- Ai minha nossa, você vai me devorar? - minha voz sai trêmula e percebo ele piscar vacilante.

- Como?

- É que é lua cheia... – menciono e ele olha para cima.

- E qual o problema? – pergunta confuso.

Ele está realmente embaralhado ou está só fingindo? Ou ele não vai me comer? Ele dá um passo a minha frente e eu dou outro pra trás.

- Por que você está com medo? - diz Thomas interpretando minhas emoções. Como ele pode me conhecer tão bem?

Ele só pode saber disso porque talvez saiba ler mentes. Ele devia estar me seguindo e quando percebi ele teve que sair do esconderijo, mas porque ele parece tão incerto do que falo?

- Você é uma fera e não sabe? Oh... Você se transforma e depois não se lembra de nada. Ainda deve estar longe de dar meia noite. - murmuro para mim mesma a última frase olhando ao redor.

- Melissa... - ele resmunga o meu nome de forma tão sutil que sinto minhas pernas fraquejarem.

- Ah não, já estou enfeitiçada. – sussurro tendo a certeza de que ele ouviu. Thomas dá mais um passo em minha direção e nem tenho forças para sai do canto.

- Você quer me explicar o que está acontecendo? - Thomas diz sério e impaciente, e resolvo explicar.

- As pessoas dizem que você é uma fera e que toda meia noite do mês, você sai por aí em busca de pessoas que dão bobeira e eu não acreditava nisso... Até agora.

Thomas parece segurar um riso com a ajuda de uma mão no queixo, apoiada pelo outro braço. Sua reação me deixa abalada.

- E o que te levou a acreditar nisso agora? – indaga interessado e tenho a sensação de estar debochando de mim.

- É lua cheia e você está aqui. – falo insegura.

- Eu posso dizer o mesmo sobre você.

- Tem razão. - digo pensativa. Mas eu sei que não sou uma fera, é ele que tem a fama.

Passado alguns segundos, levo minhas mãos até meu rosto. É só uma fama!

- Que vergonha, fiz papel de boba e agora você está aí... Rindo de mim. – choramingo me sentindo uma tola.

Thomas se aproxima de mim e consigo sentir o calor de seu corpo irradiando.

- Eu não estou rindo de você... - ele diz relaxado e levanto minhas sobrancelhas. - Mas confesso que essa história é um tanto...

- Impressionante? Imaginária? - chuto alguns adjetivos.

- Divertida. - ele conclui seu pensamento, porém seu rosto toma uma expressão tensa. - Eu falei sério sobre andar sozinha á noite, pode ser perigoso e tenho certeza que você não luta nada.

- Você sempre tem tantas certezas?

- Só do que vejo. - ele diz sincero me pegando desprevenida.

- E o que você vê? - pergunto ansiosa.

Olho dentro de seus olhos e consigo me ver refletida neles apesar de ser noite. Como posso me sentir tão bem do seu lado? Sentir-me tão segura de que nada pode me machucar quando ele está por perto? Penso que isso pode ser ilusão da minha cabeça e que isso só acontece por ele ser uma novidade, mas desde a primeira vez que senti suas mãos em mim, meu corpo correspondeu. Eu podia até está nervosa mais eu gostei de senti-lo tão próximo.

Thomas fecha a pouca distância que havia entre nós e leva sua mão até meu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

- Você... - seu sussurro sai doce e gentil, e meu coração acelera apenas com isso.

Lucky até então quieto relincha tirando-nos do transe. Ele se afasta e imediatamente sinto falta do seu calor. Poxa Lucky!

- Você deveria voltar, vamos eu te acompanho. – diz prestativo e acato.

- Vamos Lucky, nos guie de volta a nossa casa. - digo para meu cavalo, que vai a nossa frente mostrando o caminho.

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