Acabei por fazer paragem a um táxi e depois de entrar disse para onde queria ir. Rapidamente fui deixado em casa. Tirei uma nota da carteira e dei-a ao homem, não me preocupando com o troco. Subi as escadas para entrar no me duplex, e quando o fiz, bati a porta com muita força. Subi até ao meu quarto, lentamente devido à dor no meu pé, e quando pensava que ia estar em paz, eis que vi o Matt, sentado na minha cama. Quando ele me viu, foi como se me tivesse lançado fogo com o olhar, e esse mesmo me tivesse atingido brutalmente. Eu não disse nada, preparei-me para caminhar até ao meu armário. No entanto a voz dele impediu-me.

- Eu espero bem que tu tenhas uma explicação. - ele falou firme. Virei a cabeça para ele e vi-o olhar para a porta. - E espero que seja realmente uma boa explicação.

- Eu não tenho de te dar explicações da minha vida. - respondi no mesmo tom.

Ele levantou-se e vei-o até mim. A sua altura um pouco superior à minha, mas não muito. Os olhos escuros dele olharam bem para mim, talvez com o intuito de me causar medo. Mas, naquela altura, ele já devia saber que medo era algo que eu não tinha em relação a ele.

- Vamos lá ver Harry. - dei um passo atrás devido a toda a proximidade dele. - Enquanto viveres com o meu dinheiro, tens de fazer tudo aquilo que eu quero. Eu pensei que isso já estivesse esclarecido.

- Vai-te foder. - desviei-me para o lado e tirei uns boxers da gaveta. - Eu tenho idade suficiente para fazer o que eu quiser.

- Também tens idade suficiente para ser preso. - paralisei, por completo. O meu corpo ficou tenso e a linha do meu maxilar devia ser bem notória naquela altura. - Pois é! Estás a ver como eu consigo tudo o que quero?

- Se eu for preso, tu vais primeiro. - atirei, com o intuito de causar medo.

- Quando vierem à minha procura, já estarei longe. - ele virou costas e caminhou para a saída. - Às dez no laboratório. Tenho produto novo e vamos experimenta-lo hoje.

Depois ele saiu e quando ouvi a porta da frente bater, atirei um pequeno cinzeiro contra a parede em sinal de frustração. Fez um pequeno estrago, mas pouco me preocupei. Vou ter de mudar as fechaduras. Pensei e depois fui logo para a casa de banho, onde tomei um banho.

Às nove da noite eu estava sentado em cima da bancada da cozinha a comer uma caixa de lasanha pré cozinhada. Eu tinha dormido a tarde toda para poder recuperar energias e cozinhar era claramente a última coisa que me apetecia fazer. Por vezes eu até ganhava vontade e fazia alguma coisa. Para ser sincero acho que aprendi a cozinhar para poder escapar um pouco ao Matt. No entanto sempre comprei caixas de comida pré cozinha a partir do momento onde troquei os meus horários e passei a viver de noite. Não valia a pena continuar a esforçar-me para fazer uma coisa que ao fim eu não iria desfrutar.

Quando acabei de comer, atirei a caixa para o lixo e bebi um copo de água. Passei pela casa de banho para lavar os dentes e depois desci para ir para o carro. Ainda consegui ver um dos meus vizinhos, que me cumprimentou e que eu ignorei. Entrei no carro e depois conduzi até à quinta do Matt. Assim que lá cheguei o enorme portão foi aberto. Entrei com o carro e estacionei-o perto do laboratório.

A chuva bateu contra a minha roupa quando saí do carro, e isso deixou-me num nível de irritação demasiado elevado. Suspirei e depois de ter entrado tirei o casaco e pendurei-o no cabide. Desci as escadas para o laboratório e quando lá cheguei já o Matt estava com a sua bata branca e com os tubos de ensaio à sua frente. Vesti a minha e fui para a beira dele.

- Quero o Carl para hoje. Ele tem sempre reações rápidas. - ele nem olhou para mim. Continuou a fazer a mistura que pretendia. - Mas traz-me também o Scott, eu preciso de testar a reação nos dois.

Deixei-o sozinho e caminhei pelo corredor até chegar às escadas que davam para a cave. No meu caminho parei a meio e percebi o quão reprovador aquilo era para mim. O Matt tinha raptado três homens sem culpa nenhuma e tinha feito deles reféns para o resto da vida. Tal como fez comigo. Só que ligeiramente diferente. Comigo os meus pais deram consentimento e eles venderam-me ao Matt. Acho que nunca na minha vida inteira percebi que tinha sido vendido. Mas eu tinha. E ao contrário do que eu pensava, a minha vida apenas piorou. Se ela já estava péssima quando vivia com os meus pais, no momento onde passei a viver com aquele monstro pior se tornou. Mesmo com tudo o que ele me deu.

- Carl, Scott. Vocês os dois. - abri a porta do quarto e chamei-os. Eles saíram e depois seguiram-me.

Entramos no laboratório e o Matt já estava com as seringas prontas. Aquilo deu-me a volta ao estômago. Nunca lidei bem com agulhas, especialmente quando elas eram usadas para injetar diretamente na veia daqueles homens. Não que eu sentisse pena. Apenas sabia que depois que o líquido começasse a circular nas veias deles e se misturasse com o sangue, eles ficavam rapidamente infetados com aquela droga.

- Eu injeto no Scott e tu no Carl. - passou-me uma seringa. Tentei controlar-me para não ser preciso atira-la para o caixote do lixo e sentei-me.

O Carl estendeu o braço e depois eu procurei pela veia correta para injetar a droga que o Matt tinha feito. O homem sentado à minha frente gemeu de dor quando eu lhe apertei o braço. Olhei para ele e o olhar que me lançou pedia urgentemente que não o fizesse. No entanto eu não tinha opção devido à presença do Matt. Até que a campainha tocou.

- Foda-se. - ele praguejou. - Eu vou lá em cima. Mas injeta na mesma. Quando eu vier faço ao Scott.

Ele desapareceu pelas escadas e logo a voz do Carl impediu-me de fazer fosse o que fosse.

- Não o faças. Não aguento mais. - ele falou desesperado. - Estou cheio de dores. Aquele filho da mãe tem abusado.

- Tu reages muito rápido Carl, é por isso que ele te escolhe. - tentei justificar os acontecimentos.

- Mas eu já não aguento mais Harry. Olha para o meu braço. Doi só de tocar.

Não pensei duas vezes. Puxei a manga da bata para cima e depois de procurar pela veia, injetei o líquido que estava na seringa. Ao início senti um ligeiro desconforto, mas depois ignorei.

- Para todos os efeitos eu injetei esta merda em ti, mas não deu efeito. Agora cala-te e tu também. - passei o meu olhar do Carl para o Scott enquanto a minha voz saia no seu tom mais rude.




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