– O que ela disse?

– Que nada do que eu dissesse mudaria o fato de você ter a abandonado. Ela acredita que você foi um fraco por não enfrentar seu pai e ir atrás da mulher que jurou proteger. Disse que você, com vinte e sete anos, não foi homem para enfrentar seu pai e não acreditou no sentimento da mãe dela, quando ela, com apenas vinte e dois, foi uma mulher forte para cuidar delas sozinha.

Sim, eu fui um covarde de merda e me deixei levar pela maldade de papai. E agora estou pagando caro por isso.

– A convidei para tomar um chá comigo e conversar, tentar nos conhecer. Mas ela se negou, alegando que não quer conhecer nenhum de nós e me disse para esquecer o fato de termos o mesmo sangue.

Respiro fundo, derrotado. Ela nunca perdoará e nunca nos aceitará como uma família.

– Irei tomar um banho para me juntar a vocês no jantar, mamãe. Não quero te ver chorando mais, isso quebra meu coração. – Digo isso acariciando sua bochecha enrugada, limpando as últimas lágrimas que ainda ficaram riscadas em seu rosto.

Subo as escadas para o meu quarto que fica no mesmo corredor que os de Camila e Jacob. Quando passo perto de sua porta a encontro entreaberta, me aproximo a escuto conversando com alguém, com voz de choro. Paro quando a escuto falar:

– Eu o odeio, papai! Ele foi o responsável pela morte da mamãe e de todo o sofrimento que ela passou. Eu não quero estar aqui com essa família que só fez mal a ela.

– Eu não sei se consigo, papai, eu não quero passar pelo o que mamãe passou. Eu quero voltar para casa e ser livre. Ele não me deixa sair de casa, eu não posso ir para a Jade e nem para sua casa sem a proteção de três brutamontes idiotas. Eu quero minha moto e quero você.

– Você prometeu me proteger e está me deixando viver com ele.

– Não. A conversa é sobre isso, não é? Você não fará nada para me tirar daqui?

Engulo em seco com medo da resposta de Teodoro. Eu não posso deixa-la ir embora, essa é a única chance de me aproximar dela e me explicar, dizer o quanto me arrependo do que fiz e que eu amei sua mãe profundamente. E que a amo. Mesmo que ela não me aceite, eu a amo e quero que ela faça parte da minha vida.

Abro a porta do seu quarto e a encontro deitada, encolhida na cama, e isso acaba de destruir meu coração, saber que ela está assim por minha culpa. Pela primeira vez desde que soube que ela era minha filha e a obriguei a conviver comigo, me pergunto se isso é o certo. Ela olha para a porta e se assusta quando entro.

– O que acontece nessa casa? Você não pode ter privacidade nem na porcaria do seu quarto?

– Olha a boca, Camila. Você tem um irmão de seis anos e outra de dezesseis, e também tem uma senhora já de idade. Não aceitarei esse linguajar na minha casa.

– O que você quer aqui? Eu já disse que não o quero perto de mim.

– Estava indo para o meu quarto, não teve como evitar ouvir o que falava pelo telefone. Camila, eu ouvi a parte que disse que me culpa pela morte de sua mãe e, acredite em mim, também me culpo. Eu fui um fraco e não quis ouvi-la quando ela tentou se defender. E eu sei que vou viver com esse arrependimento pelo resto da minha vida.

Ela me olha com raiva e lágrimas nos olhos, mas pisca para não deixa-las cair e se mostrar fraca na minha frente. Isso é tão eu que sinto uma pontada em meu peito.

– Eu não quero saber do seu arrependimento, eu já disse que quero que você saia do meu quarto! Me deixe sozinha, ou melhor, me deixe ir embora. Meu pai pode me proteger com os seus homens eu não preciso de você, nunca precisei e não é agora que eu preciso.

Mentira ExplosivaWhere stories live. Discover now