Capítulo XXI - Viveu Intensamente, Mas...

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– Sono, mamãe. - Ashton anunciou colocando a cabecinha morena em meu colo. Estávamos no avião de volta para Seattle. A viagem para a China realmente nos deixou cansados. Tínhamos planos de viajar para o Egito, porém algo nos atrapalhou, ou melhor, alguém. Eu! Mas o lado bom desta viagem foi que serviu para me aproximar mais de Robert e me fazer começar a aceitar o seu triste destino. Acredite, está sendo muito difícil, mas aos poucos eu sei que vou conseguir. O problema para mim seria Ashton, ao qual eu não sabia se já estava a par sobre o que aconteceria com o pai.

Robert olhou-me com olhos extremamente reluzentes. Sentiu pena do menino e sorriu de forma terna.

– Coloca suas pernas na coxa do seu pai e deita sua cabeça aqui, no meu colo. - Eu disse-lhe. Assentindo, Ash fez o que lhe foi comandado, deitando-se sobre nós. O embrulhei com seu lençol laranja e preto, do Tigrão, seu personagem favorito do desenho do ursinho Pooh. Rapidamente ele agarrou minha mão, e só então se acomodou para dormir. O gesto foi tão emocionante para mim que eu tive que segurar a vontade de chorar. Limpei as lágrimas dos olhos e olhei para fora, e contemplei as nuvens branquinhas que abraçavam o avião.

– Tá chorando, Ana? - Ouvi meu marido questionar do meu lado. Olhei-o.

– Não.

– Então porque seu narizinho tá vermelho? - Questionou ele, avaliando-me.

– Não foi nada. Só me emocionei com o gesto de Ashton. Aliás, sabe... Só agora reparei que ando me emocionando muito, às vezes sem motivo. O que será isso? - Questionei retoricamente, porém Robert pensou junto comigo.

– Não sei. - Respondeu ele por fim, com uma cara de interrogação. Ri dele. - O que foi? - Olhou-me franzindo a testa. Ele ficava tão lindo quando fazia aquilo. Novamente me emocionei e meus olhos marejaram. - Ana, o que está acontecendo? - Perguntou agora preocupado.

Eu dei de ombros sorrindo e limpando os olhos com os dorsos das mãos.

– Não sei. Só achei fofo o jeito que você me olhou e daí me emocionei novamente!

– Olha, seja o que for não parece ser grave, porém vamos procurar um médico quando chegarmos, ok? - Ele disse. Eu assenti. - Está com sono, querida?

– Não muito. Mas estou me sentindo cansada, sabe?

– Muito bem. Tente descansar. Eu fico reparando você e Ashton.

– Obrigada, querido.

Eu não estava com sono, mas sentia meu corpo pesado, como se eu tivesse trabalho muito sem tempo para descansar. Meu corpo estava estranho e eu sentia algo diferente, contudo, não sabia o que era. Recostei minha cabeça no encosto da macia e confortável poltrona e fechei os olhos. Neste momento tudo silenciou-se e não demorou muito para eu encontrar com coelhinhos branquinhos e um par lindo de olhos verdes.

...

– Mamãe? - Eu senti alguém me cutucar no braço. - Mamãe?

Sonolenta, eu abri primeiro um olho para espiar o que estava acontecendo. Ashton estava de joelhos na poltrona olhando para mim.

– Acordou? - Perguntou ele. Pelo estado amassado de sua face, supus que ele também havia acabado de acordar. Eu cocei meus olhos e pus a mão na boca para tentar reprimir um bocejo.

– Sim. Cadê seu pai? - Perguntei após não encontrar Robert em seu lugar.

– Foi ao banheiro. Mamãe, estou com sono.

– Porque acordou então?

– Não sei.

– Deita aqui de novo com a mamãe. - Chamei-o, e ele deitou-se sobre meu corpo. Como as cadeiras eram reclináveis, eu a deitei toda praticamente, então eu e Ashton ficamos deitados em minha poltrona e como eu ainda estava meio grogue, o sono veio rápido.

...

Sabe quando você volta a dormir e não consegue mais sonhar e quando acorda, pensa que nem dormiu? Pois é. Depois que me deitei com Ashton, o sono foi leve e livre de sonhos, ou eu simplesmente acordei e esqueci se havia ou não sonhado. Ash ainda dormia sobre mim e parecia sonhar com algo bom, pois seus lábios estavam entreabertos e curvados em um pequeno sorriso. Alisei seus cabelos e ele suspirou.

– Acordou, amor? - A cabeça de Robert apareceu à cima de nós. Eu ri assentindo. - Então levante-se, pois já iremos pousar.

– Ok. Me ajuda aqui com Ash. - Robert o pegou com delicadeza e o sentou em sua poltrona. O menino balbuciou alguma coisa, porém curvou-se sobre os braços da cadeira e voltou a dormir. Rob atou seu sinto. Ajeitei minha poltrona e me sentei. Uma rápida tonteira me fez fechar os olhos com força e parece que Robert percebeu.

– O que foi? - Agachou-se diante de mim.

– Nada. Foi só uma tontura pós-sono.

– Não minta para mim.

– Não estou mentindo. Ó. Já passou.

– Atenção Senhores passageiros. Por favor, assentem-se em suas cadeiras e coloquem o sinto de segurança, pois o avião pousará em 20 minutos. - Anunciou a comissária de bordo.

– Tá tudo bem mesmo? - Robert indagou.

– Tá sim.

– Ok.

Levantando-se, Rob sentou em sua cadeira e passou a me fitar com olhos de gavião. Franzi o cenho e virei-me para a janela. Já estava noite, provavelmente já passava das 19h00min. Assim que chegássemos, iríamos descansar e no outro dia, eu iria visitar o Sr e a Sra Yoco. Estava sentindo saudade deste casal que me ajudou no momento em que mais precisei e também iria para conhecer sua filha, Yana. Eu estava ansiosa, porque também iria lhes contar sobre meu câncer e esta seria a primeira vez que eu exporia isso a pessoas que não eram da família. Nem Kate e nem José sabiam ainda sobre isso, e eu refletia muito a respeito para decidir se devia ou não contar a eles.

Alguns minutos se passam e logo estamos pousando em solo norte americano. Assim que nos autorizam a tirar os cintos, Robert remove o seu e vem até Ashton, onde o liberta também. Como o menino está sonolento, com extremo carinho e amor, Robert o coloca no colo. Ash, por sua vez, aninha sua cabeça no ombro do pai e lhe passa um braço pelo pescoço. Eu apenas babo vendo aquela cena. Tão lindos. Parecem mesmo pai e filho.

Levanto-me e juntos nós começamos a andar até a saída do avião. O vento nos envolve e eu sinto minhas entranhas congelando-se. Percebendo isso, Robert, com o braço livre enlaça minha cintura e abraçados, nós caminhamos até o aeroporto, onde vamos esperar por nossas malas.

50 Tons de IraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora