O alfa percebeu o efeito e sorriu como quem pisa numa ferida aberta.
— O quê? Você sabe que se me deixar, sua vida vai ser mil vezes pior, né?
Bai Tang virou o rosto de lado, devagar, com lágrimas misturando-se ao sangue que já escorria do queixo.
Jiang Yunsu estalou a língua, impaciente:
— Vem aqui. Ajoelha. — o tom dele era animado, perverso. — Implora pra eu te bater.
Essa frase.
Esse olhar.
Essa postura.
Era sempre igual.
E naquele momento, Bai Tang percebeu:
A suposta "amnésia" que Jiang Yunsu demonstrara dias antes...
O arrependimento falso...
A mudança de comportamento...
Tudo não passava de outro jogo. Outra brincadeira sádica.
Outra forma de deixá-lo confuso, indefeso, pedindo desculpas sem saber por quê.
E Jiang Yunsu provavelmente riria por dentro:
"Olha como esse ômega idiota acredita em qualquer coisa."
Bai Tang sentiu o gosto de sangue ficar mais forte.
Só então percebeu que estava mordendo a boca por dentro.
Porque ele sabia: qualquer reação fora do esperado, qualquer dúvida, qualquer respiração no tempo errado... Jiang Yunsu usaria aquilo contra ele por semanas.
—
De repente, a cena virou.
A sala já não era mais um campo de batalha.
Agora havia tigelas de mingau, pratos fundos, bolinhos, almôndegas, camarão, costelinhas, garras de frango, pãezinhos no vapor... A mesa parecia uma pequena versão de um jantar cantonês, preparado com cuidado, quase carinho.
Jiang Yunshu — o homem que agora ocupava aquele corpo — levou Bai Tang até a mesa com calma, puxando a cadeira para ele sentar.
Bai Tang piscou, atordoado, como se estivesse andando em dois mundos ao mesmo tempo. Quando percebeu onde estava, tentou se levantar imediatamente:
— S-senhor... eu... eu vou pra mesinha pequena... a que eu devo usar...
— Não precisa disso — respondeu Yunshu, gentil, colocando a colher ao lado das mãos enfaixadas. — A partir de hoje, você come comigo na mesa.
Ele já sabia.
Já tinha entendido: o dono antigo obrigava o ômega a comer no chão.
Mas Bai Tang pareceu entrar em pânico.
Sua respiração começou a falhar. Os dedos tremeram. Os olhos fugiam de Yunshu com medo puro. Ele tentava morder o lábio pra se controlar, mas só se machucava mais — como se já estivesse antecipando a punição.
E então, sem aguentar, chorou.
— D-desculpa... senhor... eu... eu estava errado...
Aquelas palavras entraram em Yunshu como uma facada.
Era o tipo de desculpa que não devia existir.
Respirando fundo, ele se abaixou, pegou a mesinha dobrável no armário.
Mas, ao invés de mandar Bai Tang ir até ela como antes...
Colocou um travesseiro macio no chão.
Sentou Bai Tang ali com cuidado.
Ajeitou as pernas dele pra não machucar a ferida.
E trouxe todos os pratos para perto.
Depois, Yunshu se agachou no chão também, ao lado dele, como se fosse a coisa mais normal do mundo:
— Vamos comer assim. Sem pressa.
Bai Tang ficou completamente imóvel.
Como se aquilo fosse uma armadilha.
Como se o chão fosse abrir e engoli-lo.
Ele só mexia os olhos — assustados, brilhando, confusos.
Aos poucos, tentou comer.
Mas Yunshu notou que ele só pegava legumes.
Tentou usar a mão direita, falhou, gemeu baixinho de dor e desistiu.
Acabou ficando só no mingau.
Yunshu levantou pra pegar talheres. Quando voltou, viu Bai Tang encarando a beirada da mesa pequena como se tivesse medo de apanhar por existir.
O coração dele apertou.
— São pauzinhos públicos — explicou com calma. — Assim é mais higiênico.
Pegou uma almôndega e a colocou na colher de Bai Tang.
O ômega arregalou os olhos.
Uma fome sincera passou por eles — real, profunda — e depois sumiu num segundo, abafada pelo terror.
— E-eu não posso... eu não posso comer carne...
— Por quê? — Yunshu perguntou, mesmo já imaginando a resposta.
O olhar faminto, a vontade óbvia...
Nada daquilo era "fofo".
Era triste.
Era uma cicatriz viva.
— Pode sim. — disse Yunshu, com leveza. — Vai por mim. Você precisa comer bem. E eu sozinho não dou conta de tudo isso.
Mas Bai Tang recusou.
Não teve coragem.
Só respirou mais rápido, tentando não entrar em pânico.
Yunshu não insistiu.
Retirou a almôndega, voltou a tigela pro lugar.
— Tudo no seu tempo. Come o que quiser.
Bai Tang soltou um suspiro trêmulo — como se tivesse se salvado de uma tempestade.
Depois do jantar, ele insistiu, quase suplicando, pra lavar a louça.
Mas Yunshu não deixou.
Enquanto lavava, viu Bai Tang inquieto, andando de um lado pro outro como um animal assustado preso numa sala pequena.
— O que foi? — perguntou, aproximando-se.
Bai Tang travou imediatamente.
Esse tipo de pergunta sempre vinha antes de um golpe.
Baixou a cabeça, mãos apertando a própria roupa:
— S-senhor... não... não fica com raiva... eu... eu posso... eu posso te dar banho agora...
Yunshu congelou.
— Eu não estou com raiva — respondeu, controlando a voz. — E você não vai me dar banho. Eu mesmo dou conta. Você não pode molhar as feridas. Hoje você não toma banho.
O rosto de Bai Tang ficou branco.
Branco mesmo — como se tivesse sido drenado.
— S-senhor... eu... eu preciso... senão... senão eu vou ser espancado...
A cada palavra dessas, algo dentro de Yunshu se rompia.
Ele fechou os olhos, respirou fundo — e repetiu pra si mesmo, firme, decidido:
"Calma. Não tenha pressa.
Ele precisa aprender, devagar, que agora não existe mais medo."
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Why Is It Possible For This Type Of A To Also Have An O?
General FictionTítulo: Como é possível que esse tipo de A também tenha um O? Autor(es)图 南 鲸 Status: Sinopse: Depois de 18 horas de operação, um certo médico muito bonito morreu na mesa de cirurgia - só para acordar e descobrir que havia transmigrado para o corpo...
CAP 7
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