CAP 4

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Capítulo 4 — "Não... não me bata..."

Jiang Yunshu estava afundado no sofá, tão esgotado que parecia ter carregado o mundo inteiro nas costas. A sala era iluminada por uma luz morna, que espalhava sombras macias pelos móveis. E ali, na cozinha, quase escondido atrás do vão da porta, estava Bai Tang — pequeno, silencioso, delicado ao ponto de parecer que qualquer movimento mais brusco faria ele desaparecer.

Mais cedo, quando Bai Tang viu a mão dele suja da água do arroz, a reação do ômega tinha sido imediata: os olhos arregalados, o corpo encolhido, um susto tão puro e tão desesperado que fez o peito de Jiang Yunshu travar. Não era só medo. Era pânico. Desses que vêm do fundo da pele.

E foi por causa dessa reação — e não por gentileza — que Bai Tang, tremendo da cabeça aos pés, o convidou para a cozinha. Com uma formalidade tão cuidadosa que mais parecia um ritual criado para evitar tragédia.

Não havia educação ali.
Havia sobrevivência.

Jiang Yunshu não sabia como lidar. Pegou o jornal só para ter algo entre as mãos, mas não leu absolutamente nada. Depois de um tempo, respirou fundo e foi até a cozinha. Encostou-se no batente tentando parecer menos ameaçador do que se sentia.

— Bai Tang... tenta colocar um pouquinho menos de sal, pode ser?

A verdade é que, na primeira colherada, Jiang Yunshu quase chorou. O mingau estava tão salgado que sua boca formigou. Ele disfarçou o espasmo, cuspiu discretamente de volta no prato e, sem pensar, virou meio copo d'água como quem tenta tirar o gosto ruim da alma.

Bai Tang, sentado diante de uma mesa dobrável, acompanhou a careta dele e congelou. As mãos pararam no colo, os ombros murcharam, o corpo inteiro foi encolhendo até virar só medo, só desculpas engasgadas.

— S-senhor... m-me desculpe... — murmurou, a voz miúda, quase engolida pelo ar.

Jiang Yunshu limpou a garganta, mais surpreso do que irritado.

— Você... não acha que isso está muito salgado? — tentou perguntar no tom mais neutro possível.

Mas Bai Tang balançou a cabeça, devagar, como quem tem medo até da própria opinião. No começo, ele também achava aquela comida impossível de engolir. Mas depois de três anos comendo a mesma coisa... o corpo parou de protestar.

E isso dizia tudo.

As sobrancelhas finas do ômega se juntaram num arco trêmulo. Ele encarava Jiang Yunshu como quem espera um tapa. Só o fato de existir já parecia um risco.

Jiang Yunshu exalou, sentindo o peso da situação.

— Comer assim faz mal... Você... — desistiu de completar. Não queria impor nada, não tinha esse direito. Respirou de novo e suavizou a voz. — Se puder, tenta fazer menos salgado. Só se puder, tá?

Planejava ir ao centro comprar uma cama nova, então nem teve coragem de repetir o mingau. Trocou de roupa, colocou os sapatos e estava quase saindo quando passos apressados se aproximaram.

Bai Tang veio com as mãos erguidas acima da cabeça, segurando um adesivo de barreira como se carregasse algo sagrado. Os dedos tremiam tanto que parecia que o papel ia voar.

— S-senhor... o senhor... esqueceu de colar o adesivo...

A postura dele, abaixado, oferecendo aquilo como quem entrega um tributo, apertou o coração de Jiang Yunshu de um jeito incômodo.

Ele pegou o adesivo.

— Ah... obrigado. Eu... tinha esquecido. — (Não era verdade, mas Bai Tang não precisava saber).

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