CAP 5

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CAPÍTULO 5 — "ESCÓRIA."

O chão da cozinha parecia um cenário pós-guerra. Cacos de vidro por todos os lados, refletindo a luz amarelada da lâmpada como lâminas pequenas e afiadas, esperando o próximo acidente.

E bem no centro daquele caos, Bai Tang tremia.

O pequeno ômega estava de joelhos, os olhos arregalados e cheios de lágrimas, repetindo "desculpa" e "eu errei" entre soluços sufocados — como alguém tentando impedir o inevitável.

Jiang Yunshu abriu a boca. Não saiu som.
Qualquer palavra morreria antes de cruzar a garganta.
O vermelho brilhando nos cacos parecia zombar dele.

Um frio começou nos pés, subiu lento pela espinha e se espalhou pelo corpo inteiro, firme, pesado, sufocante. Não era choque — era a percepção amarga de que finalmente entendia quem o antigo Jiang Yunshu tinha sido.

De repente, tudo se encaixou.

Por que Bai Tang nunca sentava à mesa.
Por que dormia no chão duro, sem travesseiro.
Por que evitava carne.
Por que estava sempre coberto de hematomas.
Por que obedecia a qualquer ordem com medo.
Por que chamava qualquer mínimo gesto de "erro".

E ele lembrou do chicote no armário.
De como Bai Tang ficou branco como cal quando o viu.
De como tremia só de pensar ter respondido "errado".

— S-senhor... eu... eu prometo que vou mudar...

E o antigo Jiang?

Só deu um suspiro irritado e respondeu:

— Esquece.

Agora, aquela palavra queimava como ferro quente na pele.

A mandíbula de Yunshu travou.
O estômago revirou em ódio puro.

Se pudesse voltar no tempo, arrancaria o dono original desse corpo e o espancaria.
Era revoltante.
Era nauseante.

E Bai Tang...
Bai Tang estava vivendo o segundo trauma em sequência.

Jiang Yunshu respirou fundo, firme.

Isso acaba agora.

Quando viu Jiang Yunshu virar de costas, Bai Tang só conseguiu pensar em uma coisa:
ele vai buscar algo... para me bater.

O corpo inteiro do ômega encolheu como se esperasse um chute. Ele tentou se proteger como dava, abraçando os próprios braços, recolhendo os joelhos — um reflexo automático de quem já tinha apanhado demais.

Yunshu, por um instante, esqueceu onde estava. O hábito de uma vida inteira — de alguém que jamais levantaria a mão — piscou na cabeça dele.
Mas a realidade veio rápido:

Bai Tang não tinha como saber que o homem diante dele não era mais um monstro.

Essa constatação entrou como um soco no estômago.

Ele havia renascido no corpo de um abusador.

No corpo de alguém que ele mesmo odiaria.

E cada memória que continuava surgindo parecia uma facada girando dentro das costelas.

— ...Eu te bati antes?! — a pergunta saiu grave, rouca, quase um rugido contido.

Bai Tang, ainda no chão repleto de vidro, tremia tanto que parecia que ia desfazer-se. Os pés estavam cortados, sangue escorrendo entre os cacos — mas ele não demonstrava dor nenhuma, só terror.

Ao ouvir a pergunta, tentou recuar, mas o corpo fraco não respondeu.
O desequilíbrio o fez tombar para o lado.
Para se apoiar, esticou a mão — direto sobre os estilhaços.

A palma abriu na hora, como papel rasgado.

Jiang Yunshu sentiu o estômago afundar.
Aquilo doeu nele como se fosse na própria pele.

Respirou fundo, tentando domar o próprio impulso de correr até ele.

Primeiro, acalmar Bai Tang.
Depois, consertar o resto.

Ele levantou as mãos devagar, mostrando-as vazias.

— Bai Tang... olha pra mim. Eu não vou bater em você. — A voz saiu baixa, calma, quase um pedido. — Eu só levantei a mão porque achei que você fosse se cortar ainda mais. Eu não ia te machucar.

Bai Tang congelou. Nem piscava.

— Isso... muito bem, Tangzinho. — Yunshu deu dois passos para trás, diminuindo a presença. Depois, se abaixou devagar, como se aproximasse de um animal selvagem ferido. — Seus pés estão machucados. Eu vou te pegar no colo, tudo bem? Só pra te tirar do vidro.

O ômega se encolheu mais, o corpo rígido de tensão.
As mãos tremiam segurando a barra da camisa.
O suor escorria pela testa.
A respiração vinha curta, trêmula.

Ele quer correr... mas acha que, se ficar quieto, apanha menos.

E então veio o aroma doce.
Feromônios de ômega ferido.
Denso.
Forte.
Inconfundível.

A cabeça de Yunshu deu um branco por um segundo.

Ele prendeu a respiração, controlando o próprio corpo com força.

— Eu vou encostar em você agora, tá? Só isso.

Bai Tang travou completamente quando ele passou o braço por baixo dos joelhos dele.
Era leve demais.
Quente demais.
Magro demais.

Yunshu o colocou no sofá com cuidado, ajeitando as pernas.
O ômega tremia sem parar.

— Onde está a caixa de primeiros socorros?

— S-segundo... prateleira direita... — Bai Tang murmurou, sufocado pela dor e medo.

Yunshu buscou rapidamente e voltou, sentando ao lado.

Ao tocar o pulso dele, Bai Tang puxou sem pensar — instinto puro.

— D-desculpa... eu... não devia...

— Ei. — Yunshu interrompeu, firme. — Você não fez nada errado. Eu É que tenho que te pedir desculpa.

Bai Tang piscou, confuso, sem entender aquela lógica.

Com a pinça esterilizada, Yunshu tirou cada pedacinho de vidro.

Clac.
Clac.
Clac.

Cada lasca parecia um testemunho silencioso do que aquele menino vivia.

— Ainda bem que não entrou fundo — disse baixinho, lavando a mão ensanguentada. — Senão... teria que dar ponto.

Bai Tang mordia o lábio para não gritar, o corpo inteiro trêmulo, a respiração instável.
As lágrimas escorriam mesmo que ele tentasse contê-las.

Os ômegas eram mais sensíveis à dor — Yunshu tinha lido isso, mas ver ao vivo era completamente diferente.

— Vou desinfetar agora. Arde um pouco.

O "sim" de Bai Tang foi quase inaudível.

Quando terminou a bandagem, Yunshu passou para o pé.

A ferida era maior.
Quando ele puxou o caco principal, o sangue jorrou.

— Vou estancar primeiro. — Ele elevou a perna do ômega, apoiando-a na própria coxa. — Aguenta firme. Já tá acabando.

O corpo de Bai Tang tremia com tanta força que parecia prestes a desmaiar.
A pele suada, o cabelo grudado na testa, o rosto pálido, as mãos dormentes.

Yunshu trabalhou rápido.

Quando finalmente terminou, soltou um suspiro pesado.

— ...Agora eu entendi o que o folheto quis dizer com "a atração entre A e O é irresistível".

A testa dele estava suada.

O ar da sala estava tão denso de feromônios que parecia pegajoso, quente, intoxicante — como tentar ficar sóbrio após tomar 5 garrafas de álcool.

E então veio o pensamento que o fez suspirar de alívio:

Ainda bem que coloquei o adesivo de barreira hoje.

Sem ele...
As consequências seriam inimagináveis.

Why Is It Possible For This Type Of A To Also Have An O?Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang