CAPÍTULO 6 — "Proteja-o."
A caixa de remédios estava aberta sobre a mesa, comprimidos espalhados como confete pálido. Jiang Yunshu a revirou inteira, mas nada ali servia — só anti-inflamatórios fortes demais para um ômega debilitado.
Ele soltou um suspiro cansado.
— Bai Tang... tem alguma farmácia perto daqui? — perguntou com calma. — Preciso comprar um analgésico mais leve.
Assim que ouviu a pergunta, Bai Tang tentou levantar num impulso automático, usando apenas a mão não ferida, como se acompanhar o "senhor" fosse obrigação. Yunshu agiu rápido, segurando-o pelo ombro e o empurrando de volta ao sofá.
— Eu só pedi o caminho — disse, firme, mas sem dureza.
Bai Tang baixou a cabeça imediatamente.
— T-tem uma... na entrada da comunidade. Saindo, vira à esquerda.
— Certo. — Yunshu trocou de roupa. Antes de sair, deixou um copo de água morna perto dele. — Quer ir ao banheiro antes?
A rigidez que atravessou o corpo do ômega era quase palpável.
— N... não, senhor...
— Então só fica quietinho. Não encosta a mão machucada em nada. Volto rápido.
Quando fechou a porta atrás de si, Yunshu finalmente respirou. O ar fresco da noite dissipou o perfume doce e denso dos feromônios de Bai Tang, que pareciam se agarrar à pele dele dentro do apartamento.
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Quando voltou, o cheiro antes sufocante estava mais suave. E foi direto para a cozinha.
Bai Tang ainda estava sentado no mesmo lugar, imóvel. O rosto manchado de lágrimas, o nariz entupido, o cabelo grudado na nuca.
— S-senhor... — a voz falhou. — Eu... posso limpar...
Yunshu olhou ao redor: cacos no chão, a pia suja, o jantar destroçado. O ambiente parecia um cenário de crime.
— Não. — respondeu imediatamente. — Você vai se machucar de novo. Deixa isso comigo.
O jantar estava arruinado, então ele pediu comida. Limpou o básico para ninguém se cortar e voltou ao sofá. Sentou-se ao lado de Bai Tang, mantendo uma distância respeitosa.
— Bai Tang... — disse num tom baixo, controlado. — A gente precisa conversar.
O corpo do ômega se encolheu, como se a frase fosse um aviso de punição. Ele baixou mais a cabeça, segurando a mão ferida contra o peito. Só depois de longos segundos, assentiu — um movimento quase invisível.
Yunshu observou as cicatrizes finas na mão esquerda. Linhas antigas. Linhas repetidas.
Linhas que contavam história demais.
O tipo de marca que não vem de um acidente.
Respirou fundo.
— Bai Tang... nós temos uma certidão de casamento?
O efeito foi imediato: os ombros dele travou.
— ...Temos, senhor.
— Esse casamento... — Yunshu escolheu as palavras com extremo cuidado. — Foi algo que nós dois quisemos?
O ar pareceu ficar pesado. Bai Tang engoliu seco, apertando o tecido do próprio joelho até os dedos ficarem brancos.
— F-foi... — respondeu rápido demais. — Foi sim...
Yunshu sentiu o estômago afundar.
Não fazia sentido. Nada fazia sentido. Mas a reação dele fazia.
Ele inspirou fundo — e perguntou o que precisava ser perguntado.
— Bai Tang... eu... te machuquei? Antes de perder a memória... eu bati em você?
Não precisou de palavras.
Os olhos de Bai Tang se arregalaram num terror tão puro que bastou um segundo para Yunshu entender tudo.
E naquele mesmo segundo, Bai Tang abaixou a cabeça com força, tremendo.
— N-não! Não, senhor! Eu... eu que estava errado... me perdoa... eu...
A voz dele se desfazia no ar, como se falar qualquer coisa errada fosse perigoso demais.
O silêncio que veio depois parecia um campo minado.
Yunshu finalmente conseguiu falar:
— Bai Tang... eu perdi a memória. Não sei o que fiz. Mas sei que te fiz coisas ruins. E... — o peito apertou — se isso te machuca estar ao meu lado... nós podemos nos divorciar.
Ele não disse "se você quiser".
Não disse "só se preferir".
Ele falou como quem oferece uma saída.
E Bai Tang ouviu como quem recebe uma sentença.
Foi instantâneo.
O corpo dele desabou no chão. Não tropeçou — caiu. Caiu de joelhos com tanta urgência que Yunshu ficou sem ar. Mesmo ferido, agarrou a barra da calça dele com as duas mãos, segurando com medo de apertar demais, medo de sujar, medo de perder.
— P-por favor... — a voz falhava. — Por favor, senhor... não me manda embora... eu... eu posso ser melhor... eu prometo... eu não quero... eu não quero...
Yunshu arregalou os olhos, horrorizado.
— Bai Tang, calma! — Ele se inclinou, tentando erguer o garoto. — Você vai machucar a mão!
Mas Bai Tang tremia, repetindo como alguém que tenta impedir o próprio mundo de desmoronar:
— Eu... eu mudo... eu faço certo... não me abandona...
— Ei! — Yunshu segurou o rosto dele entre as mãos, com extremo cuidado. — Olha pra mim. Eu não estou te expulsando. Não tem divórcio. Você não fez nada errado.
Os olhos de Bai Tang brilhavam como se ele estivesse à beira do desmaio.
— O-obrigado... senhor...
— Limpa as lágrimas — pediu Yunshu, suavizando o tom.
Só então Bai Tang obedeceu.
Yunshu respirou fundo, a voz firme, promissora:
— Eu não sei o que aconteceu entre nós antes. Mas eu nunca mais vou levantar a mão pra você. Nunca mais vou te ferir. Isso eu posso prometer.
⸻
Para Jiang Yunshu, os sentimentos eram simples.
Profundos. Mas simples.
Ele era médico.
Ver alguém quebrado daquele jeito... era impossível ignorar.
E agora ele era, oficialmente, o "marido" de Bai Tang.
Responsável por um passado que não lembrava, um passado que não é seu, mas que via marcado na pele dele.
E além disso... Bai Tang era lindo.
Lindo de um jeito triste.
De um jeito que dava vontade de proteger, não de possuir.
E havia Zhou An.
O garoto mais forte que ele já conheceu.
O menino que sorria entre crises de dor.
"Dr. Jiang... eu fui forte hoje?"
Ele perdeu o cabelo.
Depois a perna.
Depois... a vida.
Yunshu nunca superou isso.
E quando viu Bai Tang — frágil, gentil, obediente mesmo machucado — sentiu a mesma dor antiga.
A mesma vontade desesperada de salvar.
A mesma promessa silenciosa:
"Desta vez... eu vou proteger."
Fechou a mão em punho.
Neste mundo... Bai Tang não vai sofrer mais.
BINABASA MO ANG
Why Is It Possible For This Type Of A To Also Have An O?
General FictionTítulo: Como é possível que esse tipo de A também tenha um O? Autor(es)图 南 鲸 Status: Sinopse: Depois de 18 horas de operação, um certo médico muito bonito morreu na mesa de cirurgia - só para acordar e descobrir que havia transmigrado para o corpo...
