CAP 3

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Capítulo 3 — Leve o seu tempo para entender

Os pardais do quintal pulavam entre as árvores, chilreando de vez em quando, como se o dia tivesse começado sem pressa. A luz amarela e quente da manhã batia na toalha de mesa de pano. Jiang Yunshu pegou um pedaço de coração de legumes com os hashis, levou à boca... e parou de mastigar. Quase cuspiu. Experimentou um pouco de cada prato e, no fim, precisou beber vários copos d'água.

Muito sal. Sódio estourado.
Hipertensão. Edema de mucosa. Irritação respiratória.
Uma enxurrada de diagnósticos profissionais pulou da memória de Jiang Yunshu sem permissão.

Mas quem tinha cozinhado não fora ele. E quem trabalha duro não merece crítica dura.
Por isso, ele apenas comeu um pouco e colocou os hashis de lado. Bai Tang percebeu e, assustado, tratou de empurrar para dentro da boca o resto do próprio arroz, às pressas.

— Coma devagar. — disse Jiang Yunshu, levantando-se. — Vou guardar o restante.

Ele embrulhou metade dos pratos com filme plástico e os levou à geladeira, pretendendo reaproveitar no dia seguinte — mas Bai Tang correu até ele, segurando sua própria tigela como se fosse um escudo.

— S-senhor... — ele sussurrou, quase implorando. — A comida tem que ser jogada fora no mesmo dia...

A mão de Jiang Yunshu congelou no ar.
Depois de alguns segundos em silêncio, ele soltou o filme plástico dentro da lixeira.

— Certo. Vou lavar a louça.

— N-não precisa! — Bai Tang ficou pálido, desesperado. — Eu... eu lavo...

O rosto dele ficou vermelho de aflição. Com tanta insistência, Jiang Yunshu recuou.

— Tudo bem.

Bai Tang ficou diante dele com a cabeça baixa, segurando o próprio braço quebrado, a franja escura grudada na pele da bochecha.

— A água do seu banho... já está pronta, senhor.

Jiang Yunshu ficou alguns segundos olhando para o topo da cabeça dele, confuso.

— Obrigado — disse enfim. — Mas eu posso preparar sozinho da próxima vez.

O banheiro era praticamente uma sauna de tão luxuoso. A banheira enorme soltava vapor por todos os lados.
Dentro dela, Jiang Yunshu relaxou como se tirasse dez quilos da alma.

Ele afundou até o pescoço e tocou o abdômen definido.
Oito gomos. Nada mal. Melhor que o corpo original.

"Alfas são mais fortes... ômegas são menores", dizia o folheto que ele lera mais cedo.
E, ao pensar em Bai Tang, a diferença entre as duas categorias ficou ainda mais evidente.

Ele era tão magro que a panturrilha parecia mais fina que o braço de Yunshu.
E a cabeça dele mal chegava na clavícula de Jiang Yunshu.
Colocados lado a lado, era quase um adulto e uma criança.

E o relacionamento entre os dois... complicado demais para entender em poucas horas.

A água esfriou. Jiang Yunshu levantou-se, secou o corpo e saiu — molhando metade do piso de mármore.
Ele balançou a cabeça. "Deixa. Vou entender aos poucos. Não tem como apressar."

Quando abriu a porta do banheiro, encontrou Bai Tang esperando, agora usando roupas de casa — uma camiseta branca simples, larga demais, que pendia do ombro frágil e deixava aparecer uma grande porção da pele pálida. A nuca exposta mostrava ossos proeminentes, como se qualquer toque pudesse quebrá-lo ainda mais.

— Senhor... posso limpar o banheiro — murmurou Bai Tang.

— Já limpei. — respondeu Jiang Yunshu.

Bai Tang arregalou levemente os olhos, surpreso, mas não insistiu.

— Você já tomou banho? — perguntou Jiang Yunshu.

— S-sim, senhor.

Ele assentiu. E, com certa dificuldade, falou:

— Bai Tang, hoje vou dormir no sofá. Não estou acostumado a dividir cama. Desculpe.

Bai Tang ficou paralisado por um momento.

— Eu... eu nunca dormi com o senhor — disse baixinho.

Hã?

Os dois chegaram ao quarto. Jiang Yunshu viu o pequeno colchão dobrável no chão, ao lado da cama de casal.
Ele piscou.

— ...não me diga que você dorme AQUI.

Porque, se não dormiam juntos, por que não comprar outra cama?
E por que o ômega — com a saúde extremamente frágil — era o que dormia no chão frio?

Bai Tang apenas abaixou os ombros e ficou quieto, encolhido.

Jiang Yunshu suspirou, pegou um travesseiro e decidiu dormir no sofá.

Mas, quando saiu, Bai Tang entrou em pânico. Agarrou a barra da camisa dele com tanta pressa que parecia que ia chorar.

— S-senhor! D-desculpe! Eu durmo lá fora! O senhor pode dormir na cama! Eu... me desculpe...

O rosto dele empalideceu instantaneamente, como se estivesse prestes a ser punido.

Jiang Yunshu parou. Algo acendeu na cabeça dele por um segundo — um fio de compreensão, um estalo — mas escapou antes que conseguisse segurar.

Ele apenas disse:

— Eu vou. Durma cedo.

Se fosse analisar profundamente, a verdade era simples:
Jiang Yunshu não era o dono daquela casa.
Bai Tang, sim.

Mas naquela noite, Bai Tang não dormiu na cama.

Pouco antes de Jiang Yunshu finalmente pegar no sono no sofá, algo macio, frio e úmido tocou sua panturrilha — como a cauda de um peixe.

Ele deu um pulo.

Abriu os olhos e viu Bai Tang, nu, meio deitado sobre ele no sofá, iluminado pelo luar. A pele branca parecia brilhar, os cabelos longos desciam pelos ombros estreitos. Era como um espírito noturno, mudo e suplicante.

Jiang Yunshu rolou para o lado, assustado.

Bai Tang caiu no chão com um baque seco, e ficou encolhido, abraçando os joelhos.

A cena era tão surreal que Jiang Yunshu demorou longos segundos para reagir.
Por fim, jogou a colcha sobre Bai Tang e respirou fundo.

Ele ia reclamar — mas parou.
Bai Tang... agora era seu ômega.
O que ele queria... era normal, nesse mundo.

— Desculpe — Jiang Yunshu disse, limpando a garganta. — Não estou com cabeça pra isso. Pode voltar para o quarto.

Bai Tang apenas agradeceu baixinho e correu, ainda nu. A pele branca refletiu a luz da lua, deixando Jiang Yunshu virar o rosto, constrangido.

Na manhã seguinte, a coluna e o pescoço de Jiang Yunshu estavam destruídos.
Dormir encolhido num sofá pequeno com quase dois metros de altura não era exatamente ideal.

Depois de beber água e espreguiçar, ele foi para a cozinha procurar arroz.

A porta do quarto se abriu com um clique suave.
Jiang Yunshu levantou os olhos — e viu Bai Tang surgindo, sonolento, descabelado, tropeçando na barra da calça, bocejando como um filhote tonto. A camiseta escorregou pelo ombro fino, revelando mais pele do que deveria.

Pela primeira vez, Bai Tang parecia... natural. Relaxado. Humano.

Até ver Jiang Yunshu.

Em um instante, todo o corpo dele se enrijeceu, como se um botão invisível fosse apertado.
A leveza desapareceu.
A proteção voltou.

E Bai Tang se escondeu dentro dela de novo.

Why Is It Possible For This Type Of A To Also Have An O?Where stories live. Discover now