Capítulo 10 - Faith

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Eu sou pontual apenas quando me interessa. Hoje, por exemplo. Examino a minha roupa mais uma vez, antes de descer do táxi. Um pouco formal. Não, na realidade, formal demais, estou me sentindo como uma senhora. Deveria ter escolhido uma saia mais curta, uma blusa com decote, mas isso teria aborrecido meu tio, já não basta não ter aceitado a carona, só faltava ter me vestido de uma maneira que ele desaprovasse.

Além disso, estou um pouco nervosa. É a primeira vez que apresentarei o meu documentário para um público especializado. Não é só pela reação, mas por tudo o que significa para mim. Caminho até a portaria, onde uma mulher simpática me atende.

Eu tenho um encontro com o diretor Eckhart – explico. Prefiro não mencionar que ele é meu tio.

Você faz parte da equipe da cineasta? – ela me pergunta inocentemente e eu sorrio.

Não há uma equipe propriamente dita, eu sou a cineasta, Faith Nichols – eu me apresento e sinto o constrangimento da mulher à minha frente.

Por favor, desculpe-me. É que é tão jovem... – tenta se explicar constrangida. Nem sou tão jovem assim, já tenho vinte e seis.

Tudo bem – minimizo.

O diretor avisou que a senhorita viria. Vou ligar para a secretária dele e ela lhe conduzirá até o auditório. Enquanto isso, eu preciso dos seus dados para liberá-la como visitante.

Retiro da minha bolsa a carteira de motorista e a estendo para ela. Estou na entrada norte do New York Memorial Hospital Center, aquela que leva à ala particular. Chego a suspirar ao imaginar que eu me livrei daquilo, pois se tivesse seguido a vontade dos meus pais, principalmente da minha mãe e do meu tio, teria cursado medicina. Somente quando me formei em cinema é que eles desistiram, entretanto pressionaram bastante. Como falei, anteriormente, sou o plano que não deu certo.

Estou um pouco nervosa e um pouco cansada também, acho que é a tensão de estar ali. Quando a recepcionista me entrega o crachá e faz uma ligação parece que estou lá há, pelo menos, meia hora e só se passaram dez minutos. Poucos minutos depois, uma mulher ruiva, muito bonita por sinal, vem em minha direção.

Senhorita Nichols? – perguntou-me, estendendo a mão para me cumprimentar – Eu me chamo Kirsten Reynolds e sou a secretária do senhor Eckhart. Ele me pediu que a conduzisse.

Será que a minha tia sabe disso? Pensei bem-humorada, diante da femme fatale. Ainda bem que ela não consegue ler pensamentos, senão me olharia com censura.

Prazer – cumprimentei-a, tentando soar tão profissional quanto ela.

Vou conduzi-la até o auditório no qual o filme será exibido, para que veja se é adequado.

Sabe para quantas pessoas ele será exibido? – questionei curiosa, afinal quero saber se meu tio cumpriu a palavra.

Para a equipe de neurologia, alguns médicos e para todos os residentes que estiverem no hospital – respondeu rapidamente – Um grupo pequeno, umas vinte e cinco pessoas, contando o diretor, é claro.

Bem, não é uma plateia magnífica, mas até que não é ruim. Sei muito bem que é um contingente muito grande para se afastar da rotina de um grande hospital, ainda que seja por uma hora.


ELA (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora