ELA (Degustação)

Capítulo 9 - Zachary

Dois dias se passaram e nenhum sinal dela. Dizem que todo criminoso volta à cena do crime, deve ser verdade. Para mim era claro que ela morava a poucos metros dali, talvez estivéssemos mais perto do que eu poderia imaginar. Este foi o meu segundo dia no Central Park, imaginando que a encontraria a qualquer momento. Infelizmente nenhuma das mulheres que corria era ela. Nenhum dos telefones que consegui era o dela.

Só quando a noite caiu é que desisti da minha vigília e voltei para casa, rezando para que Chris não tivesse levado a Maya para suas sessões quentes de sexo. Ok, não mentiria se dissesse que a alegria dos dois tem me incomodado bastante, nessas quase quarenta e oito horas.

Felizmente ele não levou ninguém para casa e, mais do que isso, arrastou-me para beber com os caras do hospital. Era uma tentativa de melhorar meu humor, que ele julgava péssimo somente por conta do afastamento. Ainda que minha vida profissional estivesse naufragando, se eu pudesse passar meus dias confinados ao lado da mulher misteriosa, eu não ligaria.

Além dos rapazes, Chang e Alicia acabaram aparecendo no bar, causando-me certo desconforto, já que eu havia tido um caso breve com a Chang, logo que nos conhecemos; e, atualmente, não éramos o que se pode chamar de bons amigos. Consegui escapar ileso, apesar das tantas indiretas. Além disso, tinha algo mais para me preocupar:

— Foi o que eu soube – Logan declarou com ares de mistério.

— Seria arbitrário demais julgarem o meu futuro no hospital sem que eu estivesse presente – tentei minimizar o que havia escutado.

— Mas, você presente não mudaria nada, talvez até complicasse – Alicia intrometeu-se.

— Duvido. Poderia falar em minha própria defesa – realmente discordava que pudesse me prejudicar. Eu já havia entendido, queriam alguém polido e suficientemente hipócrita, e eu poderia fingir, se esse era o tipo de médico que desejavam.

— Se não lhe chamaram, creio que seja melhor assim – Logan opinou, sem eu ter perguntado.

— Vocês estão perdendo o tempo, Zach só enxerga a si mesmo, não se importa com a opinião de vocês – proferiu a gata de origem asiática, apanhando o copo e levantando-se da mesa – Ele ainda não entendeu que nem todos estão aos seus pés e que não é tão irresistível quanto supõe – emendou, falando de mim e me ignorando, como se eu não estivesse à mesa. Antes de sair, trocou olhares com Alicia e nos deixou.

Não que fosse da minha conta, porém, descobri o significado desses olhares logo em seguida, quando a vi sair acompanhada do bar. O homem devia ter idade para ser pai dela.

— Uau, depois dessa, nem sei o que dizer – Chris brincou, mas eu ignorei, então mudou o alvo – Logan estava me contando que naquela noite em que fomos à boate, ele saiu de lá acompanhado de uma gata incrível. Eu não vi isso, você viu? – perguntou-me.

Antes que eu respondesse, vi Alicia levantar-se.

— Vocês são completos idiotas, quando começam a falar de mulheres, então para que eu não me aborreça, vou indo.

— Não é para tanto Alicia – Chris sorriu, analisando dos pés à cabeça a futura pediatra – Se quiser, pode nos falar de rapazes – sugeriu, brincando.

— Vá se danar, Chris! – rosnou antes de se levantar e meu amigo acompanhou seu trajeto até que fosse embora. Apesar de Alicia ser comprometida com um jogador de basquete muito mais alto do que ele, Chris vivia cortejando-a. Havia prometido que traçaria a beleza negra do grupo, assim como eu tinha feito com a joia oriental.

Quando ela sumiu de vista, Chris voltou ao assunto, virando-se para mim:

– Você viu a mulher invisível, a companhia do Logan?

— Talvez eu tenha visto – comentei de má vontade. Não acreditava que aquele almofadinha a tivesse tocado.

— Eu não lhe falei? – Logan sorriu convencido, diante de um Chris boquiaberto.

— E foram para onde? – quis saber, assim que se recompôs. Eu não estava gostando da conversa, não queria detalhes.

— Para o apartamento dela – Logan comentou seguro e sou obrigado a retirar o que disse, pois agora eu queria saber apenas um detalhe: o endereço.

— E então? – Chris fez um gesto para que ele falasse mais.

— O restante vocês sabem... Como diria o Zach, mandamos ver – sorriu malicioso e eu tive vontade de esmurrá-lo.

— E, se isso é verdade, por que não foram para a sua casa? – não consegui segurar a minha língua.

— Porque ela não quis, e também estava muito bem hospedada – ele deu de ombros – não vi problemas...

— Está estranho, Logan – continuei – Antes, contou que foram para o apartamento dela, agora fala no local onde ela estava hospedada...

— É verdade – Chris concordou alheio ao meu interesse, achando que eu só o interrogava para pressioná-lo – Decida-se.

— Ela estava em um hotel, tudo bem? – Logan falou sem perder a calma, revelando em seguida o nome do hotel. Eu guardei esta informação na memória, um pouco decepcionado, pois o local que ele dissera era realmente perto do Central Park. Eu era infinitamente melhor que Logan, logo não entendia como ela pôde ficar com ele. Tive vontade de perguntar o nome dela, mas como soaria estranho, desisti da ideia. Seria muito esquisito ir até o hotel sem saber o nome dela? Logo eu descobriria.

— Amanhã a que horas será essa reunião? – tentei afastar tais pensamentos e, propositalmente, mudei de assunto, questionando Chris.

— O que adianta saber? – Logan intrometeu-se e recebeu como resposta a minha indiferença.

— Por favor, cara, não vá aparecer – Chris pediu-me e eu sorri. Nesse exato momento, ele soube que era exatamente isso o que eu faria.