Capítulo 6 - Faith

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Não sei exatamente o que o acaso quer me dizer com isso, mas estou ansiosa para descobrir.

O apartamento é melhor do que eu poderia imaginar. Confesso que estava esperando algo mais largado, menos agradável do que era. Um pouco como o homem que agora estava diante de mim, limpando o sangue dos meus cotovelos com soro. Estou sentada no sofá, enquanto ele está em uma cadeira diante de mim, com uma almofada em seu colo, onde faz com que eu apoie meus braços machucados. Ao seu lado, no chão, uma maleta de primeiro socorros, a mais completa que eu já vi.

Minha memória já estava apagando seus detalhes, sinceramente, imaginei que não o veria novamente. No entanto, eu não havia me esquecido daquelas mãos que, apesar de grandes, não eram ásperas e agora me tocavam com cuidado e precisão.

Ele é bom no que faz, mesmo agora quando passa algo que provoca uma ardência incômoda, tem uma segurança que, pela primeira vez, me impressiona um pouco. O fato de ele estar focado nas escoriações, ao mesmo tempo me conforta e me frustra. Não, não queria que ele me atacasse, só queria que demonstrasse que é tão difícil para ele, quanto é para mim, a nossa proximidade. Se ele erguesse os belos olhos levemente puxados, teria visto como eu observo o seu rosto nesse instante e que quando toca novamente nos ferimentos, não é por conta da dor que eu estremeço.

Finalmente, mexe na maleta e tira dela gazes, uma faixa, uma tesoura e uma espécie de fita adesiva, fazendo com que eu arqueie a sobrancelha direita e puxe um pouco o cotovelo no qual ele se detém:

Não precisa de tudo isso! – protesto.

Ele sorri e segura meu cotovelo na posição que dê para colocar a gaze e depois a faixa:

Permaneça quieta e sem se mexer – mais ordena do que pede, depois olha para minha expressão contrariada – Essa é uma região muito sensível, só estou tentando evitar que sinta dor, toda vez que movimentá-la – corta a faixa, após enrolá-la e a prende com dois pedaços da fita.

Tanto zelo por causa da culpa? – provoquei.

Tenho tanta culpa quanto você – responde, sem dar o braço a torcer, passando para o outro cotovelo, compenetrado, sem me olhar.

Eu continuo achando que você tem mais – discordo.

Pronto! – ignora o meu comentário e olha orgulhoso para o curativo. Tenho que concordar que até que não ficou tão ruim – Deveria me agradecer, pois cumpri a minha parte – agora ergue o rosto para me encarar, enquanto fecha a maleta de primeiros socorros e a coloca no chão, ao lado de onde está sentado.

Agradecer? – sorrio sem acreditar – Isso é o mínimo que poderia fazer, depois de cair em cima de mim.

Realmente – diz e me olha de um jeito malicioso – é o mínimo.

Eu retiro o braço da almofada e o sorriso dele se torna ainda maior.

Alguém aqui acaba de se dar conta do perigo que representa estar no apartamento de um desconhecido.

É a minha vez de sorrir e olhar dentro dos olhos dele.

Não me subestime, por favor.

Não estou subestimando, só estou lhe recordando que, quando propus cuidar dos seus ferimentos, você insinuou que era apenas uma maneira de atraí-la para o meu apartamento.

Como se você não tivesse pensado nisso – digo convencida, incapaz de desviar o meu olhar do dele, fazendo com que ele sorria novamente.

Sim, muitas coisas passaram pela minha cabeça, inclusive isso. Aliás, imaginei outra situação em que adoraria tê-la debaixo de mim – é direto e mantém o olhar fixo nos meus lábios, fazendo com que um calor atravesse o meu corpo – Apesar de não acreditar em destino, é como se nos fosse dada uma segunda chance de concluirmos o que começamos.

O destino ou o acaso não garantem que vá dá certo dessa vez – eu o desafio.

Eu garanto – aproxima-se tanto que sinto o cheiro da sua loção de barbear e de um perfume gostoso, bem discreto. Em vez de me beijar, ele se aproxima do meu ouvido e com os lábios quase encostados nele diz – A menos que você só fique com desconhecidos em banheiros de boates...

Tecnicamente não estamos em uma boate e nem somos mais desconhecidos – praticamente sussurro, quando nossos rostos se encostam. Ele sorri, saboreando a resposta e começa a roçar seu nariz em meu rosto, causando-me arrepios. Quando finalmente nossas bocas estão alinhadas, sou eu quem o beijo e o puxo em minha direção, sem me importar se o movimento brusco me recorda que meus cotovelos estão machucados. Ele se livra da almofada que está em seu colo e ainda sem descolar os lábios dos meus, se coloca ao meu lado no sofá.

Suas mãos estão por toda a parte do meu corpo, nossas respirações aceleradas. Eu não consigo refletir direito. Não quero pensar em nada, só em acabar o que começamos e nesse momento estou muito grata à vida por ela ter me dado uma oportunidade para isso.

Ele para de me beijar para tirar a camisa e eu não resisto e olho os ombros largos e o abdômen sarado. Depois se inclina para mim e dessa vez ele que me beija. Novamente sua boca tem gosto de menta e a sua língua toma conta da minha exigindo-lhe rendição. Assim me beijando, ele coloca os braços por trás do meu corpo e me pega no colo.

Eu não preciso saber que está me levando para o seu quarto. Nós dois temos a mesma pressa, porém, compreendo que, ao trancar a porta quando entramos, ele deixa claro que dessa vez, nada, nem ninguém, será capaz de nos atrapalhar.

ELA (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora