Mentira Explosiva

Capítulo 4*

Bryan e Alejandro me olham assustados e com pena no olhar. Odeio esse olhar, não quero que ninguém tenha pena de mim. Eu já sofri muito, mas consegui me erguer para não me tornar uma depressiva, como minha mãe. Eles dão um passo à frente quando eu ameaço me aproximar de Gabriel, mas com um olhar dele, eles se afastam novamente.

– Camila, eu posso...

– Não me venha com essa cara de cachorro arrependido, montando todo esse teatrinho de merda, porque eu não dou a mínima para os seus sentimentos. Que se dane sua raiva! Você não estava lá quando ela chorava por horas e não sabia o porquê dela chorar, com medo de que eu tivesse feito algo errado. Você não a presenciou em seu estado de depressão, quando ela só queria tocar piano e não saber de mais nada. Meu pai tentava consola-la todos os dias... Tentava anima-la, levando-a ao clube ou para sair, mas ela se negava. Lembro-me de quando ela me ensinava a tocar piano e me olhava com lágrimas nos olhos, dizendo que eu era tão parecida com meu pai. Mas eu não entendia por que todos os amigos do meu pai falavam que eu parecia com minha mãe por causa dos seus olhos, mas que eram apenas os olhos e que eu não tinha nada a ver com meu pai... — Eu estou gritando e tremendo, com lagrimas nos olhos, enquanto Gabriel me olha assustado e também derramando lágrimas.

Agora que ele descobriu a verdade acha que pode me procurar e querer que tudo esteja bem? Que eu o chame de papai e que vivamos felizes para sempre? Não vai acontecer, nunca!

– Camila, se acalme. Eu sei que essa situação pode parecer estranha para você, mas vamos conversar...

– Conversar? Conversar?! Você teve fodidos vinte e dois anos para ir atrás de mim e saber a verdade. Mas não, você decidiu se casar e ter filhos, se tornar um grande advogado, e só realmente se importar se eu estava viva e precisando de você agora, quando descobriu que tudo não passava de uma mentira, mentira de um covarde sem coração maior que você! Eu descobri a verdade quando tinha quinze anos, quando cheguei ao hospital para visitar minha mãe e a ouvi conversar com meu pai sobre você. Ela pedia para Teodoro me proteger de você, que não me deixasse sofrer como você a fez sofrer. Eu vi minha mãe morrer na manhã seguinte, em meus braços, porque ela estava tão enfiada em sua miséria e tristeza que se esquecia de comer, até entrar em uma anemia profunda.

Ele me olha pálido, caindo em sua cadeira, como se tivesse sido baleado. Eu escuto os suspiros dos seguranças atrás de mim, mas não dou importância. Meu foco está no homem a minha frente, com aparência derrotada.

– Você sabia que eu era seu pai durante sete anos e nunca quis saber de mim?

– Eu não queria conhecer o homem responsável pela morte da minha mãe, o homem que nunca se importou comigo e nem com ela, que a abandonou grávida, sabendo que ela não tinha para onde ir... Eu sabia quem você era, via sua foto nos jornais quando solucionava seus casos, fotos suas e com sua família. Mas eu só sentia desprezo por você, eu ainda só sinto desprezo. Você nunca será meu pai! Se é essa a sua intenção depois de todos esses anos, você pode esquecer. Agora, se estivermos terminado aqui, quero ir para a minha casa, onde meu verdadeiro pai deve estar preocupado comigo.

Sinto todos os guardas tensos nesse momento e percebo que Gabriel também fica onde está, sentado em sua cadeira. Por que eles estão assim? Por que sinto que eles não vão me deixar sair dessa casa? A resposta não demora a aparecer.

– Camila, eu percebi que você me odeia e eu realmente entendo, mas não poderei deixar você partir. Quando meu pai morreu e eu soube de você, fui atrás de informações para te encontrar... Pensei que sua mãe ainda estaria viva. Descobri, quando a expulsei de casa, que ela tinha ido embora com Teodoro e pensei que eles tinham seguido com a vida deles... Mas, quando descobri que ela tinha morrido e que você era minha filha... Camila, eu recebi umas fotos anônimas suas de um perseguidor, ele me manda fotos te ameaçando e dizendo que me destruiria usando uma parte de mim, que me faria sentir a dor de perder quem eu amo, como fiz com ele.