𝐂𝐎𝐍𝐓𝐑𝐎𝐋 | 𝐂𝐀𝐌𝐑𝐄𝐍

𝐕

Se conheciam desde sempre, Lauren lembrava de todos os momentos bons que teve na vida e a maioria deles Zayn sempre esteve ao seu lado, desde a primeira queda até os dias de hoje. Se conheciam desde que eram crianças idiotas que comiam areia e riam do vento, não que isso tenha mudado muito, pelo menos não comiam mais areia. Sempre estiveram um para o outro, sempre que precisavam estavam ali, eles eram prioridade na vida um do outro. Uma dupla inseparável... Nem mesmo seus pais conseguiram separá-los, nem mesmo depois deles picharem o muro da escola e ficarem de castigo por um mês. Nada que uma janela aberta não pudesse juntar de volta.

Zayn se lembrava de todos seus aniversários, pelo menos dos mais importantes e em todos, foi Lauren que estava lá e era sempre ela que recebia o primeiro pedaço. Lembrava também da vez que seu primeiro dente caiu, de Lauren zoando ele dizendo que "parecia ter levado um soco". Era impressionante como todas as vezes ela estava ali, como sempre estiveram presentes. Era estranho quando ela não estava, parecia faltar algo em si... Se sentia diferente, era clichê dizer, mas agora entendia que cada panela tem sua tampa e cada queijo a sua goiabada, não precisavam ser um casal para terem uma ligação forte, compreendeu isso com a garota. Lauren era sua irmã de outra mãe, a irmãzinha mais nova que ele fazia questão de assumir as responsabilidades e cuidar.

Amava tanto aquela garota, mas nunca diria isso em voz alta, o ego dela era alto demais e aumentá-lo não estava em seus planos. Além disso, já demonstrava o suficiente e ela parecia entender suas palavras silenciosas.

Não sabia dizer se foi a maconha misturada com as outras coisas que havia o deixado tão sentimental, mas esperou pela resposta dela como quem esperava seu time ganhar no final de uma copa do mundo. Precisava da certeza que ia ganhar.

Lauren riu, vendo pela visão periférica o rapaz virar de cabeça para baixo, sua cabeça em seus pés. Ele estendeu a mão e ela pegou, sentindo os grãos de areia grudar entre suas palmas.

— Eu já sou sua amiga para sempre, imbecil.

— Não, sua idiota, não é essa a resposta — ele revirou os olhos, focando na escuridão acima deles — O para sempre não é agora, Laur... Nunca seria, se não já saberiamos o futuro. O futuro é daqui a pouco, o para sempre é amanhã, quero saber se vai continuar sendo minha amiga amanhã, depois de amanhã... Mês que vem, quem sabe ano que vem. Quero saber se daqui a trinta anos, quando eu te procurar, ainda vai estar aqui... Fumando um cigarro, olhando o nada e pensando no passado achando que algum dia momentos como aqueles vão voltar — fechou os olhos, imaginando como seria — Quero saber se vamos continuar sendo dois imbecis que não ligam para nada, mas que sentem tudo... Se vamos continuar juntos nessa jornada que chamamos de vida, até nos piores momentos. Quero saber se você quer ser minha amiga, não para sempre, mas do jeito que só o eterno dentro do instante permite.

Só o eterno dentro do instante permite.

Para sempre era pouco tempo, eternamente era o além.

— Serei sua amiga até que meus ossos virem pó, até que não reconheçam meu DNA — apertou firme a mão dele, sentindo o aconchego quando ele apertou de volta — Isso aqui, Malik, é algo do qual não pode se livrar... Vou te perseguir mesmo sendo um fantasma, nas piores horas, vou estar lá... — sentiu algo apertar sua garganta, embargou. Sério mesmo que se emocionou com o discursinho meia tigela de Zayn? Ah, o álcool realmente humilha antes de matar — Se algum dia eu sonhar que você está pensando em se afastar de mim, vou arrancar o seu pau com uma faca.

Zayn riu alto, virando o rosto para o outro lado, não queria que Lauren visse seus olhos marejados. Não queria piadas num momento tão importante como aquele.

— Não vou me afastar, te prometo.

— Não prometa, apenas faça.

Não gostava de promessas; não havia uma que fizeram-lhe comprida. Pedia a Zayn para que não, não fizesse uma promessa. Preferia ações a palavras na maioria das vezes, e ela sabia que ele funcionava melhor daquela forma.