19.

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Ashton abriu a porta da rua e antes de sair lá para fora não conseguiu evitar que os seus olhos varressem a rua numa tentativa de verificar se esta se encontrava desimpedida. Eles tinham sempre o receio que andasse por ali alguém atrás deles, apesar de saberem que ninguém sabia que eles estavam escondidos no interior daquela modesta casa. Ele saiu e Valerie foi atrás dele, tinham combinado no dia anterior que hoje iriam ao cemitério, a pedido de Valerie e por isso eles estavam agora a abandonar aquela casa.

Ashton mandou parar um táxi que ia mesmo a passar quando ele chegou ao passeio. Depois de este parar os dois entraram no seu interior e o rapaz disse para onde queriam ir. A viagem era ainda um pouco demorada, visto que o cemitério se situava praticamente na outra ponta da cidade, na zona onde Valerie vivia, e igualmente, na zona onde se situava o hospital psiquiátrico. Eles sabiam o enorme risco que estavam a correr naquele momento, porém tinham sempre a esperança de que não seriam apanhados. Seria azar demais alguém ir procurá-los no cemitério logo hoje.

Valerie limitou-se a passar toda a viagem com o rosto virado na direcção da janela, completamente perdida em pensamentos. Para além disso, naquele momento nenhum deles estava com vontade de falar. Valerie por se sentir nervosa, há imenso tempo que não ia ao cemitério visto que era algo que sempre lhe custava bastante. E Ashton mantinha-se em silêncio por não saber o que dizer, ou melhor, ele achava que naquele momento a rapariga loira merecia o seu espaço.

O táxi parou de andar quando por fim chegaram ao cemitério, e depois de pagaram ambos saíram do carro. O dia de hoje tinha começado frio e repleto de nuvens, que pareciam prestes a rebentar em chuva. Valerie sentia-se daquela forma, talvez o dia tivesse nascido mesmo a combinar com o seu estado de espírito naquele momento. Eles começaram a andar e o olhar de Valerie parou sobre um canteiro de flores que havia mesmo à entrada do cemitério. Ela baixou-se ligeiramente e de entre todas as flores ali existentes, repletas das mais variadas cores, ela arrancou uma de cor amarela, a cor preferida da irmã.

Os olhos de Ashton encontraram os de Valerie e ele deixou que um pequeno sorriso fosse visível nos seus lábios. Eles continuaram a andar, entrando no interior do cemitério. Este estava completamente deserto, não se via ninguém por ali, o que era algo que agradava aos dois, quanto mais sozinhos estivessem melhor era. A rapariga seguia ligeiramente à frente, percorrendo o pavimento e contornando todas as campas até por fim chegar à de Ivy. Ela logo sentiu os seus olhos encherem-se de lágrimas quando os seus olhos repousaram sobre a pedra onde estava gravado o nome dela.

Ela aproximou-se mais até ficar mesmo em frente da campa e baixou depois ligeiramente o seu corpo de maneira a poder pousar a flor amarela. Os seus dedos demoraram-se um pouco mais, quando se roçaram ligeiramente pelos contornos do nome de Ivy. Voltou a colocar-se direita e logo algumas lágrimas descontroladas começaram a correr pelo seu rosto abaixo. Ela não conseguia evitar, era como se elas sempre tivessem estado ali à espera do momento em que poderiam abandonar os seus olhos e correr livremente. A rapariga engoliu em seco, não conseguindo evitar os soluços que começaram a acompanhar as lágrimas. Ela sentiu o seu corpo desmoronar quando os seus joelhos cederam e ela ficou de joelhos sobre o chão. Toda a sua força parecia ter abandonado o seu corpo naquele momento. Todas as suas tentativas para tentar ficar melhor e para tentar superar aquilo pareciam naquele momento ter ido por água abaixo. Tudo tinha voltado a ficar mal, a dor havia-se tornado de novo insuportável. E doía tanto. Ela era como um frágil castelo de cartas, que com um simples toque poderia ser derrubado.


- Ivy! – eu ria-me perdidamente, ao mesmo tempo que atirava a almofada novamente contra o corpo da minha irmã. Ela estava na cama ao lado da minha, com as mãos na barriga como se isso pudesse parar todas as gargalhadas que saiam de forma descontrolada por entre os seus lábios. A almofada bateu em cheio na sua cabeça o que me fez ficar ainda com mais vontade de rir. Levantei-me da cama logo depois e caminhei até à enorme janela que havia no nosso quarto. Os meus olhos focaram-se na rua mas logo tive de os cerrar ligeiramente devido ao sol que era bastante forte no dia de hoje.

Recovery || a.i.Onde histórias criam vida. Descubra agora