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Os dias foram passando, uns atrás dos outros enquanto Valerie e Ashton tentavam manter-se longe de todos os lugares onde os pudessem encontrar. Se bem que estavam numa parte da cidade longe de onde eles viviam e longe do hospital, por isso seria mais complicado conseguirem encontrá-los, porém todo o cuidado era pouco.

Nos dias a seguir de terem fugido os dois limitaram-se a ficar fechados no interior daquela casa, e só alguns dias depois é que saíram para a rua. Todas as pessoas pareciam reparar neles, como se soubessem o que eles estavam a esconder, mas obviamente não passavam de coisas provenientes da sua imaginação.

- Já tinha tantas saudades de andar pela rua. – comentou Valerie com um sorriso a delinear os seus lábios, enquanto sentia o sol quente a bater contra o seu rosto, aquecendo o mesmo e deixando-a a sentir-se cada vez mais otimista.

- E eu. – Ashton sorria também enquanto caminhavam pelas ruas. – As pessoas têm mesmo razão quando dizem que só damos valor às coisas quando as perdemos. – o seu sorriso desvaneceu-se um pouco, assim como o da rapariga. – Nunca dei tanto valor a estar aqui como dou agora.

- Pois é. – Valerie suspirou e baixou o seu olhar, focando o mesmo nos seus pés à medida que ia andando. – Acho que só quando perdi a Ivy é que comecei a perceber todo o valor que ela tinha. É claro que eu já lhe dava valor, mas de uma forma diferente entendes? Era como se tê-la comigo fosse algo tão natural que eu não tivesse nunca de me preocupar. E depois, do nada, eu perdi-a e aí percebi que ela era ainda mais importante do que eu alguma vez tinha pensado que fosse.

- É sempre assim. Em relação a tudo. – Ashton disse com um longo suspiro a abandonar os seus lábios.


" 18 de Janeiro, 2015

Cada vez é mais difícil viver sem ti. É tudo tão estranho, tão sem cor, tão sem vida. Quero desaparecer e não consigo."


- É tão estranho ainda ninguém ter aparecido à nossa procura. – Ashton disse ao fim de algum tempo.

- Sim. – a rapariga engoliu em seco, sentindo algo na sua barriga embrulhar-se devido ao nervosismo que aquele assunto a fazia sentir. Odiava pensar naquilo, sentia tanto e tanto medo.

- Vou ligar ao Ben, para ver se ele sabe de algo. – o rapaz disse quando os seus olhos foram de encontro a um telefone público que se encontrava uns metros mais à frente de onde eles se encontravam naquele momento.

Eles caminharam até lá, Ashton retirou algumas moedas do bolso das suas calças de ganga e depois de as colocar na ranhura própria para as mesmas, marcou o número de telemóvel do amigo. Só foi preciso deixar tocar duas vezes até o outro atender a chamada.

- Ben? É o Ashton. – ele disse, um pouco baixo, como se estivesse com medo de alguém ouvir aquela conversa, apesar de ninguém se encontrar por perto. Valerie encontrava-se um pouco atrás dele, a olhar em volta, como se estivesse com o mesmo receio que ele. – Era só para perguntar se sabes de alguma coisa. Se alguém anda atrás de nós, se viste algo estranho, qualquer coisa.

- Não. Não sei de nada, nem vi ninguém por aqui, Ashton. Se andam à vossa procura estão a ser muito discretos.

Ashton assentiu com a cabeça, apesar de o outro não o estar a ver e depois de se despedirem ele desligou a chamada. Pousou o telefone no seu devido lugar e virou-se para Valerie, que se encontrava agora mais perto dele.

- Então? – ela apressou-se a perguntar, deixando transparecer alguma curiosidade no seu tom de voz.

- Nada. – Ashton suspirou e encolheu os seus ombros. – Ele não ouviu falar de nada sobre nós termos fugido. – o rapaz nem sequer sabia se devia sentir-se aliviado por isso ou não. Era bom sinal não ouvir falar de nada, porém era mais do que óbvio que alguém andaria à procura deles.

- Os meus pais são muito discretos em tudo o que fazem. – Valerie disse quando começaram de novo a andar pela rua. – Por isso devem andar à nossa procura de forma discreta para não darem nas vistas. Além disso, se ninguém souber de nada quer dizer que nós também não iremos saber e...

- E não sabemos onde nos estão a procurar, ou quem nos está a procurar e por isso é mais fácil para eles conseguirem aproximar-se sem nós fugirmos para mais longe. – Ashton continuou a falar concluindo assim o pensamento de Valerie.

Depois de Ashton acabar de falar, eles acabaram por permanecer em silêncio, deixando que aquilo fosse tudo o que preenchesse os seus pensamentos naquele momento. Só voltaram a falar quando ao fim de uns minutos se aperceberam que estavam em frente ao McDonald's, eles olharam um para o outro, como se cada uma soubesse o que o outro estava a pensar e ambos começaram a rir-se.

- Vamos. – disse Ashton começando a caminhar para o interior daquele estabelecimento. Ambos se colocaram na curta fila em frente do balcão e uns breves minutos depois já estavam sentados a uma mesa com os tabuleiros repletos de comida à frente deles.

- Oh meu Deus, Ashton tenho tantas saudades de comer estas coisas. – Valerie falava de forma bastante animada, como se tivesse sido privada daquelas coisas durante muito tempo. Ela pegou numa batata, mergulhou a mesma em ketchup e levou-a depois à boca, deliciando-se com o sabor que preencheu a sua boca.

- Não és a única. – murmurou o rapaz antes de levar o seu hambúrguer à boca. Mordeu o lábio quando sentiu uma explosão de sabores no interior da sua boca.

Os dois nem falaram mais nada, limitaram-se a saborear aquela comida repleta de gordura e de tudo aquilo que fazia mal. Mas eles não queriam saber disso para nada, apenas queriam matar as saudades das coisas das quais eles sentiam falta. Era mesmo quando ficávamos privados das coisas que depois elas ficavam com muito mais valor para nós. E Valerie e Ashton estavam cada vez mais a aperceber-se disso, mesmo em relação a coisas mais estúpidas, como ir comer ao McDonald's.

- Ashton... - Valerie começou a falar, quando acabaram de comer e se deixaram ficar na mesma sentados nas cadeiras onde se encontravam. Aquele lugar estava agora mais vazio, contudo não deixava de haver um certo barulho de fundo em redor deles.

- Sim? – ele perguntou, com uma sobrancelha arqueada enquanto olhava para a rapariga que se encontrava à sua frente.

- Achas que já podemos ir ao cemitério? – ela perguntou, engolindo em seco ao ter de proferir aquela palavra. Imensas coisas vinham à sua memória e nenhuma delas era agradável.

- Sim. – ele disse assentindo levemente com a cabeça. – Penso que sim. Amanhã iremos lá, pode ser?

- Claro. – Valerie murmurou e deixou um pequeno sorriso aparecer por entre os seus lábios, um sorriso triste, porém.

Ashton sorriu também, sabendo o quanto aquilo era difícil para Valerie e ele nem sequer queria pensar em como seria no dia seguinte, quando ela estivesse em frente à campa da irmã. Ashton tinha medo de como Valerie iria ficar, tinha a certeza que ela ia ficar pior do que já estava caso isso fosse possível. Contudo, ele estaria lá para a consertar quando ela se partisse em mil bocadinhos.


" 01 de Fevereiro, 2015

Porque é que nunca nos ensinam a suportar a dor de perder alguém? Passamos a vida a aprender coisas completamente desnecessárias e aquelas que fazem realmente falta, nunca ninguém nos ensina."


N/A: Aqui está mais um capítulo e eu nem sei que dizer... estou desejosa de acabar de publicar esta história para poder começar a publicar a nova que ando a escrever e com a qual ando muito entusiasmada.

No próximo capítulo eles vão mesmo ao cemitério e bem, vai ser triste!

Muito obrigada por todas as leituras, que já vão em 2.5k e por todos os votos e comentários!



Recovery || a.i.Where stories live. Discover now