Capítulo 14

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A BRUXA

 Três cobras brancas serpenteavam pela cama da esbelta mulher enquanto ela despertava. Havia ido dormir tarde na noite anterior, pois queria aproveitar cada segundo do luar e das energias noturnas, para conseguir atrair tudo o que desejava e precisava. Era próximo do final da tarde e os raios fracos de sol mal chegavam no chalé de madeira dela. Devido as inúmeras árvores altas que preenchiam todo o lugar, a claridade da luz do dia e os resquícios de sol que ali chegava eram fracos. Se sentia feliz com isso.

 Aquele local, em meio a mata, era o lugar perfeito para ela. A falta de caminhos e estradas trilhadas traziam à ela o privilegio de ninguém passar ali diariamente para a importunar e, assim, ela ficava longe das pessoas. Muitas vezes, quem ousasse por ali passar, não saia ileso.

 Ela gostava de paz, silêncio e acima de tudo, solidão.

 — Bom dia, meus amores. Como estamos hoje? — Passou seus longos dedos pelas escamas geladas das cobras — Hoje é dia de defumar o lar com rosas enquanto esperamos — Sentou-se majestosamente na cama — Vamos?

 Abriu a porta gentilmente e começou a percorrer a mata ao redor do chalé enquanto as cobras a seguiam. Seus passos muitas vezes eram errôneos por causa de sua visão mas ela e as cobras já estavam acostumadas. A madeira envelhecida da casa era rodeada de caules e espinhos que iam subindo pela parede, preenchendo-a. A mulher foi cortando as poucas rosas que ali haviam crescido nas últimas semanas e as jogou no chão de qualquer jeito. Elas possuíam um vermelho vivo, como sangue pingado ao chão de um corte recém feito. Apesar de seus olhos mal enxergarem os botões de rosas à sua frente, o toque delas em sua pele transmitia toda a beleza e suavidade que elas possuíam.

 — É realmente perfeito — Proferiu, ao puxar a rosa para si, inalando seu aroma — Tão perfeito quanto uma alma recém chegada em meu recinto, dançando fantasmagoricamente e sutilmente pelo assoalho frio, vindo em minha direção — Abriu um enorme sorriso — E gritando eternamente em agonia — Gargalhou maldosamente, sua voz ecoando entre os galhos secos das árvores, fazendo com que os pássaros se assustassem e erguessem voo no mesmo instante.

 Juntou vagarosamente todos os botões avermelhados do chão e puxou seu vestido para cima, fazendo uma cesta improvisada. Descalço, foi pisando na grama até chegar à porta de entrada novamente e adentrou a casa, deixando-a aberta atrás de si, para que o ar fresco entrasse no cômodo.

 Pegou sua grande panela de ferro, colocou todas as rosas dentro dela, pedaços de madeira e iniciou um fogo. Proferia palavras inaudíveis aos ouvidos e serpenteava seus longos dedos ao redor das chamas. Logo, a fumaça começou a subir e invadiu a casa com o aroma adocicado e amadeirado que se fez.

 — Agora sim a casa está perfeita! — Proferiu, sorrindo — E espero que logo, logo, eu tenha em minhas mãos o que eu busco! Que os corvos cheguem logo e me tragam notícias boas, assim como minhas belas cobras me trazem bons presságios — Sorriu mais uma vez. Suas mãos balançavam lentamente ao redor de seu corpo, fazendo com que toda a fumaça a cercasse em uma dança silenciosa. Os dias passavam lentamente para ela, mas isso não a abalava. Nada jamais a abalava.


DENNA

 Uma grande placa rústica estava fixada ao chão com enormes letras marcadas nelas — Erlhösunngh — Balbuciou a jovem para o dragão que permanecia ao seu lado — Não me recordo de já ter ouvido falar desse lugar mas, já que estamos aqui, vamos dar uma chance, certo?

 Chegaram na cidade quando o sol estava se pondo. As cores fortes alaranjadas se mesclavam com um tom azulado em meio às nuvens que escondiam a lua cheia naquele pôr-do-sol. As luzes da cidade já estavam acesas enquanto as pessoas perambulavam pelas estradas, algumas ocupadas finalizando seus afazeres, outras apenas passeando por ali. "Parece uma vizinhança tranquila", concluiu em pensamentos.

Perdida, Nunca EncontradaOnde histórias criam vida. Descubra agora