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Um dia inteiro já havia se passado, já era de manhã. Sento-me no meu novo lar e olho ao redor, não havia nada além da porta, era pequena, quase do meu tamanho exato, só havia espaço para conseguir esticar as pernas e só me era permitido dormir encolhida.

Uma sensação de nojo começa a percorrer meu corpo ao ponto de sentir um arrepio, me sentia um animal.

Escuto a porta da casa ser aberta e olho por entre as frestas da jaula. O homem alto e imponente passa pela porta, me questiono se o som dos seus passos pesados eram mesmo tão audíveis ou eu estava ficando louca ao ponto de criar os sons na minha própria cabeça.
Quando notei que já estava perto, senti meu peito pulsar cada vez mais forte ao ponto de sentir minha visão trêmula ou que nada que estou vivendo fosse real.

O homem fica de cócoras a minha frente e eu podia quase sentir o frio da corrente da pequena porta que ele tenta abrir.

- Estou faminto. - Ele diz, sinto meu corpo inteiro arrepiar com a sua voz. Pela jaula ser pequena, sua voz parecia quase como um trovão. Solto um suspiro assustado quando seus olhos encontram os meus. - Você já sabe o que fazer. - Ele levanta-se e fica em pé ao lado da porta e eu entendo que posso sair.

Saio lentamente e devagar como se a qualquer passo ou gesto em falso pudesse desencadear ações dele que eu não estava disposta a lidar.

Entro na casa, seguindo seus passos. Tudo estava um completo silêncio e estava tudo no seu devido lugar como se nada tivesse acontecido.
Escuto seu pigarrear e entendo que devo fazer o que me foi mandado. Rapidamente faço seu café em seguida do Almoço.

Eu observava o homem comendo calmamente como se não tivesse falado que estava faminto. Ele parecia estar se forçando a mastigar cada colherada que levava a boca. Engulo em seco e resolvo desviar o olhar, me permitindo sentar ao chão com a minha refeição em mãos. Tento comer na mesma calmaria mas meu estômago estava vazio demais para que eu conseguisse me controlar.

Comi tudo em segundos e quando levantei a cabeça, seus olhos estavam em mim. Sem dizer uma palavra, ele me puxa pelo braço, levando-me para fora da casa até a jaula. Entro para dentro sem que ele precise me forçar.

Logo a noite chegou novamente e eu tentei me concentrar no barulho dos insetos que de alguma forma me passava uma certa calmaria. Respirei fundo esperando que pelo menos aliviaria tudo isso que estou sendo obrigada a viver. Fecho os olhos e tento novamente a me concentrar no barulho quase irritante de um grilo e chego a conclusão que nem isso consegue me desvencilhar dos meus próprios pensamentos que gritam tão alto que mal sou capaz de organiza-los.

Abri os olhos no exato momento que escuto novamente a porta abrir. O homem caminha até mim em passos apressados. Logo fico em prontidão para sair.

- Faça-me o jantar, meretriz. - Ordena. Quase solto um resmungo de reprovação pela última palavra, eu odiava que eles me chamassem assim. Eu não era nenhuma prostituta. Saio do lugar igualmente apressada e caminho até a casa e em passos rápidos vou para a cozinha já preparando todo seu jantar.

Já estava quase terminando quando meus ouvidos captam o som de algo sendo quebrado em seguida e vários desse mesmo som. Tiro a panela do fogo e corro para ver do que se tratava.

Arregalo os olhos diante da visão da sala sendo destruída. Todos os vasos caros e objetos que gritavam riqueza e que a senhora Darcy os exibia para mim com tanta soberba estavam agora todos no chão, quebrados.
O homem para assim que nota minha presença. Fecho a boca que até o momento eu não havia percebido que tinha aberto e pisco, sem reação.

Ele caminha em minha direção e por um segundo eu me vejo correndo até a porta. Tento usar toda a minha força para conseguir fugir dele. Seus sapatos e passos pesados me acompanham com mais velocidade do que eu gostaria. Saio pela porta mas não chego muito longe assim que sinto sua mão agarrar meus cabelos meu corpo cai no chão e eu sinto o cheiro da terra e a grama recém amassada entrar pelas minhas narinas.

- Acha que consegue fugir de mim? - Ele me sacoleja. - Hm?!. - Fecho os olhos quando sinto a dor de ter o cabelo sendo usado como uma corda, ele me levanta pelo mesmo e mal abro os olhos e ele me dá uma tapa violento no rosto. Sinto o gosto metálico do sangue.

- Achei que valesse ovelhas, mas na verdade não vale coisa alguma. - Ele me guia pelo cabelo de volta para casa. - O que lhe faz pensar que conseguiria fugir de mim? Caso não tenha reparado suas pernas são curtas, um passo meu, são cinco seus! - Ele me joga no chão da sala e o primeiro chute é dado nas minhas pernas. Em seguida de um soco no rosto.
- Não me subestime vadia! Eu não preciso de você, posso me livrar de você quando eu quiser!

...

O dia já havia amanhecido a algumas horas, e o homem até agora não havia aparecido.
Tento empurrar a pequena porta e o único som que consigo fazer e das correntes baterem uma na outra e mesmo assim não era tão alto ao ponto dele vir aqui.

Minha barriga ronca e eu estava faminta. Embora na casa dos meus pais ou antigos donos eu raramente comesse, aqui eu comia até que regularmente, agora eu tinha medo de não conseguir aguentar mais tanto tempo sem alimento. Solto um suspiro, desistindo da ideia de fazer algum som para chamar a sua atenção.

Levanto um pouco meu vestido para ver o pequeno corte que ganhei na panturrilha. E mais alguns arranhões que marcaram minha pele assim que cai no chão. Não eram machucados graves e eu agradecia imensamente por isso. Ele não me machucou muito, apenas falou coisas cruéis as quais eu já estava acostumada, além de ter me culpado pela morte da sua família. Permaneci em silêncio o tempo inteiro principalmente depois de ter notado que o homem estava bêbado.

Não fazia ideia de como ele se sentia porque aparentemente ele amava e era amado, mas eu sabia qual era a sensação de não ter ninguém. Gostaria de ter a força dele ou até mesmo a raiva porque seria mais fácil de lidar com o fato de ter sido vendida e pior, ter sido vendida como se fosse uma prostituta.

Engulo em seco diante meu pensamento, eu não podia admirar esse homem ou muito menos sentir alguma inveja, mas era inevitável. Agora éramos mais parecidos que nunca, rezo apenas para só eu ter reparado nisso. Meu dono jamais aceitaria ser parecido com alguém como eu, mesmo que sejam apenas experiências. Não o conhecia bem, mas sabia que ele jamais seria piedoso para comigo e de alguma modo ele estava certo. Eu sou apenas uma escrava.


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Chave pix para quem quiser ajudar e dar um apoio e incentivo para a autora que está com celular horrível para escrever. Qualquer valor ajuda.

Chave: autora.1whatsername@gmail.com.

A L D R I KWhere stories live. Discover now