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Os papeis repousavam espalhados sobre a mesa na mais pura e caótica desorganização

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Os papeis repousavam espalhados sobre a mesa na mais pura e caótica desorganização. O café esfriara na caneca, esquecido. Marcos apenas tinha olhos para as fotografias. Fixado na tela do computador, batia na mesma tecla para avançar as imagens. Via e revia cada uma delas, como se elas fossem se alterar de uma hora para a outra e ele precisasse manter-se alerta.

Estava em negação, essa era a verdade. Embora escrutinasse as fotos — e àquela altura já soubesse de cor e salteado cada pixel delas —, negava-se a acreditar no que elas mostravam.

— Só assim pra descobrirem a identidade da tal Dama da Noite, não é mesmo, Marquinhos? — Elena interrogou, sentando-se sobre a quina da mesa e furtando a atenção de Marcos, que quase saltou da cadeira com o susto provocado pela interação com alguém depois de horas do mais obsessivo silêncio.

Elena, que acabara de chegar no serviço, ciente apenas da morte da criminosa — completamente por fora dos rostos que constavam nas imagens recebidas —, inclinou-se e virou a cabeça para bisbilhotar a não tão atual obsessão de Marcos. Nisso, ela se deparou com uma foto em alta resolução da ladra misteriosa.

Não precisou nem checar milhões de vezes como seu amigo fizera. De imediato, sacou de quem se tratava. E se deu conta de um erro seu: sua falta de tato. Percebendo quão infeliz fora sua fala, Elena retratou-se.

— Desculpe a insensibilidade. Foi que eu pensei... — tentou explicar-se, mas faltaram as palavras certas. — Não importa o que eu pensei. Foi insensível da minha parte.

— Ela estava debaixo do meu nariz esse tempo todo, Lena. Tem noção do quanto isso me arrasou?

Elena meneou a cabeça. Marcos antecipara sua resposta. Tinha plena noção de que ninguém sabia como ele se sentia naquele momento.

— Só posso imaginar — admitiu ela. — Você se dedicou tanto ao caso...

— Perdi noites e mais noites. Pus minha vida pessoal em segundo plano. Tudo isso pra essa desgraçada ser minha namorada. Pra eu não saber até onde ela mentiu. Se alguma vez falou a verdade. Se de fato me amava, ou pelo menos gostava de mim, e por isso se relacionava comigo. Se só me usava pra verificar se tinha apagado direito os seus rastros, por saber que eu me dedico ao trabalho e levo material pra casa. — Ele cerrou os punhos. Raiva e incredulidade se misturavam em sua voz. — Mas nem isso eu sei. E agora é tarde demais pra investigar.

O rosto de Marcos traduzia todo o seu cansaço. O pobre homem parecia um morto-vivo. Tinha nadado tanto para morrer na praia... Tornara-se um poço de arrependimentos.

Perguntava a si mesmo o que havia feito de errado, o que havia deixado de fazer para que a maldita Dama da Noite tivesse lhe escapado tanto durante as investigações, mas tivesse o encontrado fora do trabalho, vindo em sua direção como uma gatinha manhosa, dividido a cama e a vida com ele. Por que sua mulher perfeita também era a ladra perfeita? Isso não era justo.

Crime (im)perfeitoWhere stories live. Discover now