Encrenca

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Liz fitava o inquilino dorminhoco esparramado em seu sofá-cama

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Liz fitava o inquilino dorminhoco esparramado em seu sofá-cama. O espertalhão tinha dado conta de estragar o curativo com sua movimentação imprudente. E sobrara para ela a tarefa de refazê-lo.

Retirou as gazes ensopadas de sangue. Por sorte, os pontos não haviam se rompido. Lavou o local com soro. Sem muita experiência, acabara apertando o frasco com força e espalhando o líquido para todo lugar. Se não tivesse reflexos tão bons, teria estragado o próprio sofá com o sangue diluído a escorrer pelos lados do homem.

Não que esse sofá já não esteja podre com essa inhaca de macho suado.

Secava a barriga dele com uma compressa. Devagar e sempre. Tomando seu tempo para admirar o abdome definido diante dela, percebeu-se menos samaritana bondosa e mais tendenciosa.

Ela o salvara por motivos fúteis, Nalu estava certa. Já podia comprar uma camiseta horrorosa com a frase "Salva + os gatos" estampada nela. Enquanto não adquiria a peça de roupa, se contentaria com aquela visão agradável.

— Acho que já tá limpo aí — opinou Cláudio, analisando a limpeza de olhos semicerrados.

— Humpf! Bagunça e quer dar pitaco pra quem tá arrumando, cada uma — resmungou entre dentes.

— Num tô reclamando, princesa — defendeu-se. — É só que cê não precisa de desculpinha pra topar em mim...

Abrindo os olhos, por fim, ele puxou a compressa e a jogou sobre o tampo da mesa de centro. Tomando Liz pelo pulso, moveu a mão dela com delicadeza e paciência, até que os dedos dela tocassem os gominhos de seu abdome.

— Prontinho! — Parou e deu-se por satisfeito. — Fique à vontade, a casa é sua. — Cláudio cruzou as mãos sob a cabeça.

Liz devia ter protestado. A ousadia dele crescia cada vez mais e ela precisava podá-la. No entanto, ele não colaborava.

Ao seu toque, a pele ardente parecia queimar em febre. Não pode ser, não assim, tão entupido de remédio... De fato, não estava febril. O problema dele era outro tipo de calor. Um fogo que o aquecia de dentro para fora.

Contagiada e tentada por aquele queimor, deixou sua mão caminhar no modo automático. Atravessou o 1999 tatuado no meio do abdome, passou por cima do nome de alguma Conceição — talvez a avó ou mãe —, contornou o desenho realista de um tigre e parou na nuca dele.

Liz inclinou-se, deixando seu rosto bem próximo de Cláudio, a ponto de seus narizes e testas se encostarem, de suas respirações se cruzarem, e sussurrou:

— Nos seus sonhos — decretou, distanciando-se abruptamente.

— Nunca diga desta água não beberei — alertou Cláudio, após ser deixado com a boca cheia d'água.

— Não tomo coisa estragada. — Liz encerrou a conversa com um sorriso irônico. Sumiu de vista, entrando depressa no quarto, sem dizer mais nada.

Abusado! Assim o repreendia em pensamento, desapontada consigo mesma. Como pudera ter se desestabilizado perto dele? Permitido aquele estorvo invadir sua mente e abalá-la?

Crime (im)perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora