É a polícia

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"Dama da Noite"

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"Dama da Noite". Ela gostava de ser chamada assim. Era melhor que o peso de Elizabeth, seu nome de batismo, em homenagem à rainha da Inglaterra, e definitivamente mais impactante que Liz, o seu apelido.

Ao contrário do que os jornais faziam parecer, a vida de fora da lei não era fácil. Ela tomava todos os cuidados necessários para resguardar sua identidade. Até mesmo alugara uma casa pequena num subúrbio da cidade para não estocar mercadoria roubada em seu real endereço, um apartamento luxuoso em um bairro nobre.

Na cozinha dessa singela e bem decorada casa térrea, ela analisava calmamente os espólios do último serviço — o mesmo que havia atrapalhado os planos de Marcos — quando um barulho suspeito a alarmou. Rapidamente sacou sua pistola e saiu em busca da origem do som. Saindo pela porta dos fundos, avistou um vulto atrás do caqueiro de begônias. Um invasor.

Era só o que me faltava. O bairro não era lá dos melhores, mas a vizinhança lhe parecia tranquila — formada por assalariados cansados demais para fazer qualquer coisa além de ir de casa para o trabalho e vice-versa. Ela definitivamente não esperava receber a visita de um ladrão de casas àquela hora.

Ainda assim, lá estava o homem: caído no quintal dela, sangrando. Tinha acabado de pular o muro e perdera suas últimas forças ali mesmo. A hemorragia perturbara sua lucidez e tudo o que via à frente eram borrões e diversos pontos brilhosos.

Contudo, nem o desconforto ou a dor eram suficientes para fazê-lo se esquecer, por um segundo sequer, do barulho de uma arma engatilhada. Muito menos menosprezaria o frio do cano de aço encostado na sua testa, pressionado contra ela.

— Você tem um minuto pra me convencer a não enfiar uma bala na sua fuça. — Liz o ameaçou.

— Por favor, moça. Eles tão atrás de mim, me ajude — uma voz débil falava entre arfadas.

— Eles quem? — Empurrou a arma com mais força do que antes.

— A PM. — Ele gemeu de dor.

— Puta merda! — Liz balançou a cabeça, com movimentos amplos, em negação.

Tanto cuidado pra não ter a polícia na minha cola e agora eles tão vindo por algo que nem é culpa minha. Ótimo, ela pensou ironicamente.

Não mais apontava a pistola na direção do homem caído. Estava preocupada, de fato, com os policiais que logo chegariam.

Inquieta, lembrando da quantidade de evidências do seu trabalho mais recente espalhadas no balcão da cozinha americana, segurava a própria cabeça tentando conter seus pensamentos. Estava inquieta diante da ideia de ser pega a despeito de nunca deixar provas substanciais na cena do crime. Parabéns, gênia! — repreendera-se mentalmente.

Liz era uma perfeccionista, uma jovem rica que, em tese, não necessitava viver na ilegalidade. Em tese. Na realidade, travava uma batalha contra o ócio. E perdia. No constante enfado, a ansiedade consumira seu juízo — ao menos era isso que dizia a si mesma — e ela se viu buscando alternativas para matar o tédio.

Crime (im)perfeitoWhere stories live. Discover now