O Bar da Jandira

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As cartas deslizavam pela mesa

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As cartas deslizavam pela mesa. Ele sentia a sorte ao seu favor. Por "sorte" entendia-se que ele tinha cartas na manga no sentido mais literal da expressão. Cláudio jamais se deixaria perder quando poderia ganhar. E como ganhava!

Estava esvaziando os bolsos de alguns velhos bêbados enquanto bebericava uma Glacial e degustava pasteizinhos tão gelados quanto a cerveja. O pastel respingando óleo e os dedos engordurados eram uma mão na roda para demarcar as cartas. Eram a garantia do sucesso de suas trapaças.

No entanto, a diversão logo acabou quando uma dupla de capangas do Bragança adentrou no Bar da Jandira com cara de poucos amigos. Um deles, um homem de meia idade vestindo uma combinação pior que as do Agostinho Carrara, aproximou-se da mesa como quem não quer nada.

— Podemos jogar também? — perguntou o recém-chegado.

— Acho que não, hein. A mesa tá cheia — Cláudio justificou-se com a desculpa esfarrapada sem desgrudar os olhos das cartas.

O colega do homem mal-encarado apertou o ombro de um de seus companheiros de jogatina.

— Nós fazemos questão — disse ele, apertando o pobre jogador até os nós de seus dedos ficarem esbranquiçados.

— Já que vocês pediram com tanta educação... — Cláudio, por fim, levantou o olhar.

Dois dos homens que jogavam com ele se levantaram apressadamente, temendo por suas vidas. Todo mundo conhecia Gilberto Bragança e sabia que se opor ao homem ou a seus empregados equivalia a assinar uma sentença de morte.

Não demorou para eles irem direto ao ponto.

— O senhor Bragança tá ficando meio impaciente — avisou ele, comedido. — Sabe, Cláudio, ele não faz caridade. Muito menos gosta de gente atrasando pagamento.

Cláudio recolheu o dinheiro que ganhara na partida passada e juntou as cartas para embaralhá-las.

— Quanto você tirou desses otários? — quis saber o outro. Era um homem tão enorme quanto um armário de quatro portas, que não aceitaria seu silêncio como resposta.

— Uns 500 no máximo — mentiu descaradamente.

Cláudio estava jogando desde as 13 horas, o horário em que Jandira — sua velha conhecida e a única comerciante que ainda aceitava lhe vender fiado — costumava abrir o estabelecimento. O bar era movimentado, os bêbados, facilmente enganáveis e cada aposta girava entre 50 e 100 reais por cabeça.

As condições facilitavam o seu trabalho, roubava-os sem sequer enfiar as mãos nos bolsos deles ou apelar para teatrinhos — como quando fingia ser um cantor da moda para furtar itens de lojas.

Passava das 22 horas, ele já tinha ganhado algo em torno de 5 mil reais. Podia oferecer esse valor como entrada e o resto do dinheiro conseguiria depois do seu próximo trabalho. Uns parceiros haviam planejado roubar um posto de gasolina no domingo. Era dinheiro fácil. Sua porcentagem dos espólios seria suficiente para se acertar com Bragança e ainda sobrar um trocado generoso — que usaria para dar um agrado à sua mãe.

Crime (im)perfeitoWhere stories live. Discover now