Sete erros

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Dois furtos bem orquestrados e simultâneos

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Dois furtos bem orquestrados e simultâneos. Nem nas condições mais otimistas isso se trataria de uma coincidência, Marcos estava certo disso. Tudo, absolutamente tudo, estava relacionado.

O sumiço da Dama da Noite, numa espécie de hiato, e o retorno triunfal em dose dupla jamais seria obra do acaso. Ela voltara para mais uma, ou melhor, duas. E não estava sozinha. Retornara à labuta acompanhada por uma espécie de ajudante.

O homem, como ela, sabia bem o que estava fazendo. Tinha por volta de 1,78 metro, pesava uns 80kg e calçava 42. Informações tão úteis na prática quanto as que possuíam sobre ela. Seu associado, entretanto, era um tanto quanto desleixado. Deixara uma bagunça atrás de si, pontas soltas, de certa forma.

Quem quer que fosse o Robin, embora não houvesse deixado escapar um fio de cabelo na cena do crime, esquecera-se de uma das câmeras de um edifício residencial daquele quarteirão e, ainda por cima, furtara um mercado.

Nas filmagens, uma pequena parte do seu rosto mantivera-se coberta pela aba do boné que usava. A outra parte dera as caras por um deslize. A generosa porção das feições foi exposta quando ele, desatento, inclinou a cabeça. Essa sutil falha atingiu Marcos como uma luz no fim do túnel.

Caso conseguisse uma reconstrução de face — para driblar a imagem escura e de baixa resolução — com qualidade o suficiente, solicitaria um reconhecimento facial em massa nas câmeras espalhadas pela cidade. Talvez desse a sorte grande de o sujeito ser fichado e não precisar mover mundos e fundos para o encontrar. Talvez...

— Marquinhos? — Elena, sua colega e amiga, apertou seu ombro com ternura e tirou-o de seus devaneios. — Tudo bem aí? Você tá encarando a tela há quase uma hora.

— Tá tudo bem, Lena. — Pôs a mão sobre a dela em um gesto afetuoso, agradecido pela preocupação e, ao mesmo tempo, dispensando-a. — Só tô cismado com uma potencial pista importante e não consegui tirar os olhos dela — compartilhou. — Eu sei o que você vai dizer — adiantou-se, tendo plena noção de que ela apontaria sua fixação pela Dama da Noite como a responsável pelo seu comportamento. — Mas eu tenho um bom pressentimento desta vez. Estudando o caso melhor, tenho certeza que...

— Melhor? — Ela arqueou a sobrancelha. — Marcos Oliveira — quando ouviu seu nome completo com tamanha severidade, soube que o caldo havia engrossado —, há mais de duas semanas você me vem levando trabalho pra casa e eu me faço de planta pra não denunciar meu amigo, o melhor investigador desta cidade, quiçá do estado. Mas isto, Marcos — apontou para o computador, para a filmagem pausada no exato momento em que o assaltante virara a cabeça —, tá passando dos limites. Tá cada vez pior.

— Lena... — tentou apelar, entretanto, novamente foi interrompido.

— Não me parece saudável focar tanto em um caso e deixar uma pilha de arquivos se acumular em sua mesa. Muitos homens bons se perdem assim. Cuidado — alertou. — Se eu fosse você, trataria do caso de desvio de R$100 milhões antes dos velhacos fugirem pro exterior. Antes da chefa aparecer pra cobrar satisfações e te capar quando vir que você tá obcecado, trabalhando em um caso só. Imagino que tua namorada não irá gostar de te ver capado — provocou-o.

— Se ela não terminar comigo antes — retrucou entre dentes.

— Não acredito, Marquinhos. A Brenda também? — Arqueou a sobrancelha. — Você capricha na hora de estragar relacionamentos. Vou te contar! Tudo isso por uma bandidinha metida a luxuosa? — Ela cruzou os braços.

— Ela não é uma meliante qualquer — corrigiu-a. — Ela é a Dama da Noite. Alguém precisa pará-la. E, pelo visto, esse alguém sou eu.

— Tá bom, Marcos. Você que sabe — concluiu ela, jogando a toalha. — Só... não estrague sua vida a troco de nada. Não idealize. A prisão dela não vai te trazer nada além de uns dias de glória.

— Não tô interessado em dias de glória. Só quero que a ordinária seja presa e pare de consumir meu juízo. Só isso — explicou Marcos.

— Você quer sentir o tesão de prender uma mulher intocável, isso sim — retrucou Elena. — Tá tão afundado nessa merda que vive por isso, respira essa Dama da Noite 24 horas por dia.

— Pode até ser — aquiesceu. — Mas isso não muda o fato de que a polícia tem de agir e parar essa ladra. Muito menos muda minha determinação. Eu vou descobrir quem é essa mulher, Lena. Ponto final.

Como num milagre de Natal, as preces de Marcos foram atendidas

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Como num milagre de Natal, as preces de Marcos foram atendidas. Poucos dias depois, os técnicos conseguiram reconstruir o rosto do criminoso — com a mais perfeita precisão — e o reconhecimento facial fez o resto.

O homem nas filmagens era Cláudio Cleverson Barros, de 22 anos, mais conhecido como Campeão. Tinha apenas uma passagem pela polícia. Era fichado por conta de uma briga de bar (sem maiores repercussões à época). Nada em sua ficha tinha relação com atividades ilícitas, muito menos furtos e roubos.

Mas as fichas criminais dos melhores bandidos nunca os denunciam. E ele era um ótimo criminoso, pelo visto. Devia ser bastante profissional. Claro! A Dama da Noite jamais aceitaria a ajuda de um amador. Habilidoso ele era, mas, ao contrário de sua associada, não se atentava a todos os detalhes. Para a sorte de Marcos.

Embora descobrir a identidade de Cláudio não fosse solucionar todos os seus problemas — até porque precisava saber não somente o nome do sujeito, mas também seu paradeiro —, Marcos adotara uma atitude mais otimista em relação ao caso.

Uma coisa ele sabia ao certo: o fim daquela ladra estava próximo. Ela e seu parceiro, fisicamente ou não, estavam juntos, conectados de alguma forma. Quando encontrassem o tal do Campeão, estariam um passo mais perto da Dama da Noite.

— Ah, sim. Eu vou te pegar, sua ordinária — prometeu Marcos, falando consigo mesmo. — Destá... 

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