Aquilo Que Dá No Coração

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"Aquilo se pega de jeito/ Te dá um sacode pra lá de além./ O mundo mudo estremece/ O caos acontece, não poupa ninguém/ Avassalador"

Apesar de não ter dormido em casa Fernanda acordava no mesmo horário. Queria até ficar mais na cama. Era uma cama apertada, obrigando ela e Pitel ficar o mais próximas possível, sentir o corpo e o cheiro daquela mulher dava a ela uma energia eletrizante e a desconcentrava, porém não o suficiente para esquecer dos filhos. Levantou, ligou para sua mãe para saber se estava tudo em ordem, mesmo sabendo que ia estar ligou, pois o sentimento materno nela era enorme e precisava ter certeza. Quando terminou a ligação voltou sua atenção para Pitel, que começava a despertar.

- Bom dia patroa - Pitel disse com voz de sono - Por que acordou tão cedo?

Fernanda deu um sorriso puro e apaixonado para a morena.

- Bom dia meu amor! Queria saber como estavam as crianças. Além do que estou um pouco ansiosa pra hoje também!

- Vai dar tudo certo Nanda, vamos estar juntas nessa - Pitel respondeu reconfortando.

Pitel começou a se arrumar para a aula, quando olhou para Fernanda sentada em sua cama, usando apenas a lingerie vermelha do dia anterior.

- Não vai se arrumar também, mulher?

- Só se eu for pro ensaio assim - Disse apontando para os trajes íntimos, com as mãos em direção aos seios - Não trouxe roupa, meu bem. Dessa vez preciso que você me empreste.

Pitel sorriu se dando conta da noite anterior e como tudo começou. Abriu seu guarda roupa, escolheu um vestido e quando viu Fernanda vestida nele, suspirou. Elas saíram do quarto, deixando ainda no chão o sobretudo que Nanda havia usado na  noite anterior.

Ao chegar na cozinha encontraram com Luana, que foi apresentada à Fernanda como uma amiga do teatro. Luana sorriu com segundas intenções para Pitel. Ela não era boba, já estava bem próxima dela para conhecer a amiga o suficiente e saber que ela não deixaria aquela mulher escultural passar ilesa.

Como Pitel morava muito próxima à Companhia de Artes Fernanda a deixou na porta e pegou seu uber de lá.

- Pity, eu queria tanto que você fosse comigo...- Fernanda disse com uma pontada de tristeza em ficar longe da mulher que prendia sua atenção.

- Eu também queria Nanda, mas fica tranquila vai dar certo. Além do que Alane vai estar lá com você. - O tom de Pitel era de tristeza, mas continha uma leve acidez, que não passou despercebida por Fernanda.

- Não fale assim minha linda - Fernanda a beijou na porta do espaço.

Alguns alunos que estavam entrando viram o beijo e começou um burburinho.

Alane já se encontrava no Teatro Poeira quando Fernanda chegou, ao ver a mulher entrando Alane sorriu e foi em direção a ela:

- Ei Fernanda! Bom dia!

- Bom dia - Fernanda respondeu com um sorriso cordial.

- Ai Fernanda, estou muito ansiosa. Tenho medo deles não gostarem de mim, será que vamos conseguir agradar a todos?

Fernanda também se sentia ansiosa, mas ao ver a menina tão jovem se cobrando tanto, sentiu que deveria dar um apoio à mesma.

- Fica tranquila, Luisa não ia chamar a gente se não tivesse certeza da nossa capacidade. Vamos dar o nosso melhor!- Alane se identificou com Fernanda de cara e resolveu ficar mais próxima dela. 

Os ensaios da peça já tinham começado algumas semanas antes e o elenco já estava bastante entrosado, mas mesmo assim foram bem receptivos. A protagonista do musical seria Cláudia Raia e a peça seria dirigida por Miguel Falabella. Fernanda decorava todas as falas, movimentos, cenários, tudo que a rodeava, queria muito compartilhar tudo com Pitel sobre aquela experiência mágica. Em alguns momentos ela e Alane faziam comentários maravilhadas com a oportunidade. 

Já era noite quando chegou uma mensagem no telefone de Pitel:

"Filha, 

Como está no Rio? Cheguei a conclusão que você precisa de um carro, não quero que algo te aconteça. Quero que você vá amanhã a uma concessionária e compre um carro. O valor máximo dele tem que ser R$ 150.000,00. Quando comprar tire foto e mande pra sua mãe! Vamos fazer uma surpresa pra ela.

Beijos, te amo"

Era seu pai. Pitel ficou eufórica, ia ganhar um carro! Sentia falta dos confortos que tinha em Maceió, mas tinha um problema, a casa onde morava não tinha garagem, além do mais não sabia andar no Rio, até então só tinha ido em bares na Lapa e em Niterói. Pitel ligou para seu pai.

- Oi filha.

- Oi pai, como estão todos aí?

-Tudo bem! Você viu minha mensagem né?

- Vi pai, então...- Pitel fez uma pausa - Pai aqui onde moro não tem garagem. O Rio é muito difícil de dirigir. Amanhã vou comprar o carro, mas queria deixar ele com Fernanda.

- Quem é Fernanda? - O pai perguntou assustado.

- Fernanda é minha amiga que mora aqui pai.

- Pitel não quero você com motorista, o carro é seu, ele deve ficar com você.

-Pai, Fernanda não será minha motorista, ela também não é só minha amiga. Estamos juntas, estamos saindo, a casa dela tem garagem e sinto que vou aproveitar mais o carro com ela.

O pai de Pitel já havia sido apresentado a outras mulheres que ela levava pra dormir na sua casa nos tempos de faculdade, não era uma novidade pra ele. Ele confiava muito na sua filha, então aceitou.

-Tudo bem Pitel, espero que saiba o que está fazendo. Assim que chegar na concessionária, me ligue para fechar.

No dia seguinte, quarta-feira, Pitel ligou cedo para Fernanda queria saber sobre seus horários e ver com ela se elas poderiam sair juntas. Fernanda não queria, estava sempre ocupada com compras para as encomendas, rotina dos filhos e agora o ritmo de ensaios era diferente. Tinha até mesmo combinado da Alane ir para sua casa, passar algumas coreografias aquele dia.

- Que presepada é essa, patroa? Quero saber de Alane em casa de mulher minha não.

- Você pode muito falar de mim né Pitel, sendo que você está todo dia em algum bar diferente com a Giovanna.

- É diferente, Giovanna é minha amiga. Fernanda escuta o que estou falando se você não me buscar na companhia hoje, não precisa me ligar, não aceito não como resposta. - Pitel disse um pouco brava. Não se sentia confortável com Fernanda e Alane juntas, na sua cabeça só existia Fernanda e ela, mas principalmente porque queria fazer uma surpresa pra sua mulher.

- Ok - Fernanda respondeu desligando a ligação e revirando os olhos.

As 17h em ponto Fernanda estava na porta do galpão, cumprimentou os amigos que saíam junto de Pitel e deu um selinho em sua mulher. O que não passou despercebido. Desde que Fernanda tinha pedido para  Pitel não falar das duas que a mais nova tinha respeitado sua decisão, então essas manifestações de carinho públicas eram sempre observadas. 

Pitel pediu o uber sem falar o endereço, ao chegar na porta da concessionária Fernanda assustou, não entendeu o que iam fazer ali, perguntou a companheira que desconversou. Após orçamentos, explicações sobre os carros, Pitel fechou a compra de um Compass, ao receber as chaves, entregou para Fernanda:

- É nosso.

- Que isso Pitel tá maluca? 

- Nanda eu quero que este carro fique com você, é nosso. Vai te ajudar a levar os meninos na escola e agora que você precisa vir ao Rio mais vezes vai ficar mais fácil de se deslocar.

- Pitel não, não precisa. Vou comprar meu carro com meu dinheiro.

- Nanda não insista, nós estamos juntas, eu não me imagino sem você. Esse carro vai ser da nossa família: Eu, você, Marcelo e Laura. Ele ficar com você é a mesma coisa de ficar comigo. Mas tem uma condição dona Fernanda: não quero você carregando Alane pra baixo e pra cima nele.

- Lógico que não né, Pitel - Fernanda respondeu sorrindo revirando os olhos, "Será que Pitel tinha ciúmes dela?"

Tudo Sobre VocêWhere stories live. Discover now