À Flor da Pele

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"O que será que me dá?/ Que me queima por dentro, será que me dá/ Que me perturba o sono, será que me dá/ Que todos os tremores me vem agitar/ Que todos os ardores me vem atiçar/ Que todos os suores me vem encharcar"

A semana seguiu tranquila, tiveram aulas da história do teatro brasileiro, com o mesmo professor apresentando muitas aulas teóricas. Fernanda e Pitel pareciam um casal de adolescentes, evitando beijos no local das aulas, mas em momentos privados aproveitavam para curtir uma a outra.

Ao aproximar o final de semana perderam o contato, Fernanda muito atribulada nas suas encomendas e obrigações não encontrava tempo para procurar Pitel. No Rio de Janeiro, Pitel aproveitava para sair com Luana ou Giovanna e curtir as noites cariocas, mas sem desgrudar do celular na esperança de que Fernanda pudesse mandar algum convite em cima da hora.

Segunda-feira começou nublada, um dia ideal para dormir mais um pouco, mas Fernanda acordou animada, hoje era dia de aula com Luisa!

Luisa Arraes, uma atriz, roteirista, autora e diretora que muito contribui para o cenário artístico brasileiro. Muito engajada em vários projetos, aceitou participar do módulo básico da companhia de teatro, mas não poderia dar muitas aulas, seriam aulas pontuais e os alunos não sabiam mas ela ia aproveitar dos seus momentos com eles para selecionar perfis para papéis em alguns projetos que pudessem aparecer na cidade.

Fernanda chegou ao galpão muito animada e aflita, queria ter sua aula com Luisa, mas também estava com muita saudade de Pitel, no final de semana tinham se falado muito pouco. Ela estava concentrada em seu celular quando ouviu a voz de Pitel de longe, entrando no ambiente. Seu coração bateu descompassado, olhou para trás e encontrou a mesma num papo descontraído com Giovanna. Fernanda não entendia como as duas podiam ser tão próximas em tão pouco tempo, achava Giovanna muito bonita, então mesmo no auge dos seus 34 anos, se dava ao luxo de sentir ciúmes de sua menina. A conexão com Pitel era fortíssima e tinha medo de perdê-la, demorou tanto tempo para se entregar a alguém, ao mesmo tempo sabia que Pitel era jovem e não seria justo privar ela de fazer o que queria.

Pitel e Giovanna pararam ao lado de Fernanda, ela tinha voltado a mexer no celular e fingia que não sabia que Pitel tinha chegado.

- Oi gostosa! - Pitel falou naturalmente

- Bom dia! - Fernanda respondeu sorrindo um cumprimento formal para as duas e foi correspondida por Giovanna.

- Você quer sentar aqui com a gente? - Pitel perguntou a Giovanna apontando para o lugar vazio.

- Quero não Pity, prefiro lá com o pessoal mesmo! Mais tarde a gente se fala! - Acenou Giovanna que seguiu andando.

Pitel sentou praticamente colada em Fernanda.

- Oi meu amor, senti sua falta final de semana. - Pitel falou com um sotaque carregado. Fernanda sorriu.

- Eu também senti a sua, e muito.

- O que você faz nos seus dias de folga Nanda?

- Eu não tenho dias de folga. - Fernanda respondeu como se fosse óbvio.

- Eu digo, quando não tem aula.

- Eu trabalho Pitel, tenho meus filhos para sustentar, como você acha que os mantenho?

Pitel nunca havia pensado em uma profissão para Fernanda, ela tinha a aparência extremamente jovem e Pitel esquecia que ela vivia uma dinâmica completamente diferente da sua. Mas a revelação de Fernanda trouxe dúvidas à Pitel. "Com o que Fernanda trabalharia de quinta a domingo?" "Será que ela fazia programas noturnos?" "Moça nem ouse perguntar" a cabeça de Pitel fervilhava.

- Você trabalha com o que? - "Pronto agora foi, seja o que Deus quiser"

- Sou confeiteira, faço diversos doces, mas atualmente pego apenas encomendas de bolos. Trabalho com bolos mais elaborados e por isso aceito poucas encomendas, prefiro fazer bem feito e ganhar na qualidade que fazer muitos e ganhar em volume. Preciso otimizar meu tempo para ficar com os meninos, por isso estou conseguindo conciliar com as aulas. - Fernanda não percebeu mas Pitel respirou aliviada.

- Que legal Nanda, eu adoro bolo. Você poderia fazer um pra mim!

Fernanda que estava sentada ao lado de Pitel, olhou para ela pegou em sua mão sorrindo, um sorriso largo e disse:

- Meu amor, por você eu faço o que você quiser! É só escolher o sabor.

Pitel foi ao céu e voltou, "que mulher era aquela?" Pitel tinha certeza que era a mulher de sua vida. Recobrou a consciência com Luisa entrando muito animada.

- Bom dia meus queridos! Como estão todos? Soube que vocês tiveram suas aulas da história do teatro brasileiro. Quero todo mundo com Paulo Autran e Bibi Ferreira na cabeça! Tivemos grandes nomes no nosso teatro e devemos sempre identificar neles pontos cardeais para o rumo que vamos tomar daqui pra frente. - Luisa falava olhando nos olhos de cada um ali presente - Hoje queria fazer com vocês uma dinâmica em dupla.- Pitel procurou a mão de Fernanda - Quero sentir a presença de corpo de vocês, vamos fazer uma dança. A dança pode ser como quiserem funk, pagode, jazz, ballet, mas será em dupla e detalhe importante: vocês tem que se conectar sem se encostar - Luisa foi enfática neste detalhe.- Vamos, o palco é de vocês! - Disse saindo do centro com os braços levantados, bastante animada.

As duplas foram sendo formadas Giovanna dançou com Binn, Alane com Bia, Michel com Marcus, e muitas outras duplas se apresentaram. Luisa tomava notas em seu caderno, assistia tudo atentamente. Ao chegar a vez de Fernanda e Pitel, a mais velha estava tranquila já a mais nova um pouco nervosa. Fernanda começou a dançar um jazz contemporâneo, seu corpo fluía em um movimento leve que parecia estar tomado por um êxtase total, ela fazia contato visual com Pitel que apesar de nervosa inicialmente foi se entregando ao movimento que o corpo de Fernanda ditava e apesar de não acompanhar aquele movimento que parecia muito pessoal da companheira, fazia movimentos que os completavam. Os olhos de Pitel corriam dos olhos para a boca de Fernanda, e isso despertava nela um desejo pela mulher na sua frente.

O salão observava atento, as pessoas sentiam a conexão forte das duas, e por vezes chegavam a imaginar que elas iriam se beijar. Giovanna olhava incrédula, não perdia nenhum detalhe, sabia do interesse da sua amiga na mulher em questão e por dentro chegava a se imaginar na pele dela. Fernanda dominava o espaço e estava irresistível. Luisa colocou uma estrela ao lado do nome de Fernanda. Só duas pessoas tinham ganhado aquela estrela: Fernanda e Alane.

- Pessoal por hoje foi só! Boas aulas a todos, temos muita coisa boa vindo pela frente! - Luisa se despediu com a promessa de voltar no próximo mês.

- O que foi aquilo mulher? - Perguntou Pitel

- Aquilo o que? A dança?

- Aquilo que vocês fez, eu mal conseguia te acompanhar, você estava uma gostosa dançando daquele jeito. Me deu vontade de transar com você na frente de todo mundo - Fernanda deu uma gargalhada com as palavras de Pitel.

- Deixa de ser boba Pity, apenas deixei meu corpo fluir. Mas olhar pra você ajudou muito, talvez eu estivesse fazendo uma dança do acasalamento. - Terminou de falar ainda com um sorriso no rosto e deu uma piscadinha para sua mulher.

Pitel não respondeu, continuou boquiaberta, "aquela mulher era um espetáculo e o melhor: era sua."

-Alô Andréa? - Luisa fazia uma ligação.

- Oi Luisa como você está? - Do outro lado da linha estava Andréa Beltrão, idealizadora do Teatro Poeira com Marieta Severo.

- Estou bem e você? Andréa aquele musical que você vai lançar em agosto já está preenchido? Estou com dois nomes quentes pra você.

- Então Luisa, já está preenchido sim, mas você sabe como são figurantes... pode me passar os nomes que eles podem ensaiar junto com a equipe e ficam para substituir caso necessário.

- Ótimo! Você não vai se arrepender! Os nomes são: Alane Dias e Fernanda Bande.

Tudo Sobre VocêWhere stories live. Discover now