Tatuagem

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— Então, vamos lá, Novak. Que programas animados você planejou para esta noite?

Estávamos no jardim. 

Sam fazia fisioterapia em Dean, levantando as pernas dele até o peito e abaixando-as enquanto Dean estava deitado em um cobertor, seu rosto voltado para o sol, seus braços estendidos, como se estivesse tomando banho de sol.

Eu me sentei no gramado perto deles e comi meus sanduíches. Agora, eu raramente saía para almoçar.

— Por quê?

— Curiosidade. Quero saber como passa seu tempo quando não está aqui.

— Bom... esta noite participarei de uma pequena luta de artes marciais avançadas, depois vou de helicóptero jantar em Monte Carlo. E então, no caminho de volta para casa, talvez tome um drinque em Cannes. Se você olhar para cima às... aah... lá pelas duas da manhã, acenarei para você quando passar— respondi. Abri o meu sanduíche e olhei o recheio. — Acho que vou terminar de ler meu livro. 

Dean deu uma olhada para Sam.

— Dez pratas — disse ele, sorrindo.

Sam enfiou a mão no bolso para pegar o dinheiro e falou:

— Sempre assim.

Olhei para os dois e perguntei:

— Sempre assim o quê?

Sam pôs o dinheiro na mão de Dean.

— Ele disse que você ia ler um livro, eu disse que ia ver TV. Ele sempre ganha a aposta.

O sanduíche grudou nos meus lábios.

— Sempre? Vocês têm apostado quão chata é a minha vida?

— Não usamos essa palavra — respondeu Dean. O olhar levemente culpado me fez pensar em outra coisa. Empertiguei-me.

— Deixe-me ver se entendi. Vocês estão apostando dinheiro se numa noite de sexta-feira eu vou estar em casa para ler um livro ou ver TV?

— Não — respondeu Dean. — Teve uma rodada em que apostei que você iria ver o Corredor na pista.

Sam soltou a perna de Dean. Pegou o braço, esticou-o e começou a massageá-lo a partir do pulso.

— E se eu dissesse que ia fazer uma coisa totalmente diferente?

— Mas você nunca faz — disse Sam.

— Na verdade, vou ficar com o dinheiro — falei, tirando a nota de dez da mão de Dean. — Porque esta noite vocês erraram.

— Você disse que ia ler! — protestou Dean.

— Agora que tenho isto — continuei, mostrando a cédula de dez libras —, vou ao cinema. Pronto. Pode acionar o Juizado de Pequenas Causas ou seja lá como se chame. 

Levantei, guardei o dinheiro no bolso e joguei o resto do meu almoço no saco de papel pardo. Sorri ao me afastar deles mas, estranhamente, e sem qualquer razão aparente, meus olhos se encheram de lágrimas.

Naquela manhã, fiquei uma hora trabalhando no calendário antes de ir para a Granta House. Em alguns dias, eu apenas me sentava na cama e, de lá, olhava o calendário, a caneta na mão, pensando para onde eu poderia levar Dean. 

Ainda não estava convencido de que poderia levá-lo para muito mais longe e, mesmo com a ajuda de Sam, pensar em passar a noite em algum lugar parecia uma ideia assustadora.

Olhei o jornal da cidade, à procura de jogos de futebol e festas regionais, mas, após o fracasso das corridas, tive medo de que a cadeira de Dean atolasse na grama. E ficava preocupado que multidões o fizessem se sentir exposto. Tinha de excluir todos os eventos relacionados com cavalos, o que, na nossa região, significava uma quantidade surpreendente de atividades ao ar livre. 

Como eu era antes de você - DestielOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz