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Passaram-se duas semanas, e com elas surgiu uma espécie de rotina.

Todos os dias eu chegava na Granta House às oito da manhã, avisava que estava lá e, quando Sam terminava de ajudar Dean a se vestir, eu ouvia cuidadosamente ele me dizer o que eu precisava saber a respeito dos medicamentos de Dean e, o mais importante, como estava o humor dele.

Depois que Sam saía, eu sintonizava o rádio ou a TV para Dean, dava seus comprimidos, às vezes amassando-os no pequeno pilão de mármore.

Geralmente, depois de mais ou menos dez minutos ele deixava claro que estava cansado da minha presença.

Eu então realizava com dificuldade as pequenas tarefas domésticas do anexo, lavando panos de prato que não estavam sujos ou usando partes aleatórias do aspirador para limpar os menores cantinhos de cortinas ou peitoris de janelas, enfiando minha cabeça pela porta religiosamente a cada quinze minutos, conforme a Sra. Winchester me pedira.

E, quando eu fazia isso, Dean continuava sentado em sua cadeira, olhando para fora na direção do jardim.

Mais tarde, eu levava um copo d'água, ou uma daquelas bebidas calóricas que serviam supostamente para manter seu peso e que pareciam cola para papel de parede num tom pastel, ou lhe dava comida.

Ele podia mexer um pouco as mãos, mas não os braços, por isso precisava ser alimentado garfada a garfada.

Essa era a pior parte do dia; parecia errado que, de algum modo, um adulto recebesse comida na boca e meu embaraço me fazia parecer desajeitado e inábil.

Dean odiava tanto isso que não conseguia nem me olhar enquanto eu o alimentava.

E então, pouco antes da uma da tarde, Sam chegava e eu pegava o meu sobretudo e sumia para andar pelas ruas.

Às vezes comia meu almoço no ponto de ônibus que ficava do lado de fora do castelo. Fazia frio e provavelmente eu parecia patético empoleirado ali, comendo sanduíches, mas eu não ligava.

Não conseguia passar o dia inteiro dentro daquela casa.

À tarde, eu colocava um filme — Dean era sócio de uma locadora de DVDs e chegavam filmes novos pelo correio todos os dias —, mas ele nunca me convidou para assistir a nenhum com ele, então eu costumava ficar na cozinha ou no quarto extra.

Passei a levar um livro ou uma revista, mas me sentia estranhamente culpado por não estar trabalhando de verdade, e não conseguia me concentrar nem um pouco nas palavras.

De vez em quando, no final do dia, a Sra. Winchester aparecia — embora nunca falasse muita coisa comigo além do "Está tudo bem?", cuja única resposta aceitável parecia ser "Sim".

Ela perguntava a Dean se ele queria alguma coisa, às vezes sugeria algo que ele poderia gostar de fazer no dia seguinte — sair ao ar livre, ou visitar algum amigo que havia perguntado por ele —, e ele quase sempre respondia com desprezo, quando não diretamente com uma grosseria.

Ela parecia magoada, corria os dedos por sua correntinha dourada e sumia de novo.

O pai de Dean, um homem gorducho de aparência gentil, costumava chegar quando eu estava saindo.

Era o tipo do sujeito que pode ser visto assistindo a um jogo de críquete usando um chapéu panamá e que, aparentemente, desde que se aposentara de seu emprego bem-remunerado na cidade, supervisionava a administração do castelo.

Eu desconfiava de que era como um daqueles ricos
fazendeiros que de vez em quando planta alguma coisa ele mesmo, só para "manter a mão na massa".

Ele encerrava o expediente todos os dias às cinco em ponto e vinha ver TV com Dean. Às vezes, ao sair eu o escutava fazer uma observação sobre alguma coisa do noticiário.

Como eu era antes de você - DestielOù les histoires vivent. Découvrez maintenant