Gênio

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Pov Castiel Novak

Não dormi aquela noite. 

Fiquei deitado no meu quarto olhando o teto e reconstruindo cuidadosamente os dois últimos meses com base no que eu agora sabia. 

Foi como se tudo tivesse sido modificado, fragmentado e rearrumado de outra maneira, em um padrão que eu mal reconhecia. 

Senti-me enganado, o estúpido subordinado que não sabia o que estava acontecendo. 

Senti que eles deviam ter rido escondido de minhas tentativas de oferecer legumes para Dean comer, ou de cortar seus cabelos — pequenas coisas para fazê-lo se sentir melhor. 

Qual tinha sido o sentido de tudo isso, afinal? Repassei diversas vezes a conversa que ouvi, tentando interpretá-la de algum outro jeito, tentando convencer a mim mesmo de que eu havia entendido mal oque eles disseram. Mas a Dignitas não era exatamente o lugar a que se ia para tirar umas férias. 

Eu não conseguia acreditar que Mary Winchester pudesse pensar em fazer aquilo com o filho.

Sim, eu a achava fria, e sim, esquisita perto dele. Era difícil imaginá-la fazendo carinho em Dean, como minha mãe fazia conosco (de maneira firme, jovial) até nos afastarmos nos retorcendo, pedindo para ela nos soltar. 

Para ser sincero, eu achava que era assim que a classe alta lidava com os filhos. Afinal, eu tinha acabado de ler o livro de Dean, Love in aCold Climate. Mas, ativamente, concordar em colaborar na morte do próprio filho? 

Pensando em retrospecto, o comportamento dela parecia ainda mais frio, suas ações imbuídas de alguma intenção funesta. Eu estava furioso com ela, e com Dean. Furioso com eles por me fazerem acreditar numa fachada. Furioso por todas as vezes em que fiquei pensando em como poderia melhorar as coisas para ele, fazê-lo se sentir confortável ou feliz. 

Quando não ficava furioso, eu ficava triste. Eu podia me lembrar da sutil interrupção na voz dela ao tentar confortar Charlie, e me senti muito triste por ela. Ela estava, eu sabia, numa posição insuportável. Mas, acima de tudo, eu me senti tomado de horror. 

Estava assustado com oque agora sabia. Como alguém pode viver com a consciência de que está apenas deixando os dias correrem até sua própria morte? Como poderia esse homem, cuja pele, hoje de manhã, eu tinha sentido sob meus dedos — cálida e viva —, querer simplesmente acabar consigo mesmo? 

Como poderia ser que, com o consentimento de todos, dali a seis meses, essa mesma pele estaria se decompondo embaixo da terra?

Eu não podia contar para ninguém. E isso era quase o pior de tudo. Eu agora era cúmplice do segredo dos Winchester. 

Indisposto e indiferente, liguei para Balthazar para avisar que não estava bem e ia ficar em casa. 

Tudo certo, ele estava numa corrida de dez quilômetros, disse. Provavelmente, não teria terminado suas atividades no clube de atletismo antes das nove da noite. Nós nos veríamos no sábado. Ele pareceu distraído, como se já estivesse em outro lugar, mais além, em alguma pista de corrida mítica. 

Eu não quis jantar. Fiquei na cama até meus pensamentos escurecerem e se solidificarem ao ponto de eu não aguentar mais o peso deles, e, às oito e meia, desci e fiquei sentado silenciosamente vendo TV, empoleirado ao lado de vovô, que era a única pessoa na nossa família que com certeza não iria me perguntar nada. 

Ele estava sentado em sua poltrona predileta e olhava fixamente para a tela com intensos olhos vidrados. Eu nunca tinha certeza se ele assistia ao programa ou se sua mente estava em algo completamente diferente.

Como eu era antes de você - DestielWhere stories live. Discover now