Ciúme | part. 1

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Sim, voltei para cá, quem amou?

E sim, esse capítulo vai ter parte dois, só dividi ele porque já estava enorme demais para o meu gosto. Meu jeitinho 😘

Espero que gostem, boa leitura

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Os olhos azuis podiam ser clínicos se necessário, observando cada mísero detalhe, sendo possível detectar até mesmo pequenas situações que passariam despercebidas por qualquer outra pessoa. Por trás do óculos de astes pretas, Anita mantinha sua postura intacta ao se manter sentada naquela cadeira. As mãos repousavam sobre as pernas cruzadas, o que acabava por fazer a saia de couro preta subir minimamente por suas pernas. Havia escolhido uma blusa vermelha para dia, sabia o quanto a cor ressaltava seus traços, e por tal, abusava dela em suas escolhas. Seu maxilar estava ressaltado, bem delineado demais para esconder suas emoções.

Ainda que recorresse a uma espécie de controle que só parecia fugir cada vez mais, Berlinger estava tentando, com cada fibra de seu ser se fosse honesta consigo mesma, mas ainda sim falhando. Suas emoções eram sempre bem administradas, possuía uma racionalidade ímpar ao lidar com todo tipo de problema ou mesmo situação, porque aquilo fugia a regra? O engolir da saliva se fazia difícil, a respiração pesava e o peito queimava consideravelmente. Não abriria mão do controle, especialmente em seu local de trabalho, mas se pudesse... Bom, isso não era uma opção.

Do outro lado da parede envidraçada de sua sala, a cena que os olhos assistiam era descontraída. Verônica estava sentada na borda de sua mesa com uma postura tranquila, relaxada demais para o ambiente no qual ela trabalhava. Um sorriso amistoso tomava seus lábios rosados, ao passo que seu braço era tocado pela outra mulher com quem conversava animadamente. Luisa.

Anita não esqueceria aquele nome nem se quisesse, nem se manualmente limpasse de sua mente.

Luisa era a mais nova estagiária da DHPP. A mulher possuía um sorriso estonteante, daqueles que prendem pela ingenuidade com o qual é dado, sendo alguém agradável de se ter por perto. Era jovem demais para entender tudo que circundava aquele ambiente e ainda sim, talvez pela falta de conhecimento, ela conseguia trazer um tom divertido para toda conversa que iniciava. Não fora difícil para Verônica se render aos encantos que nem mesmo possuíam o intuito de lhe conquistar, elas eram similares nos gostos, nos assuntos e na forma de ver o mundo, ainda que as idades fossem consideravelmente diferentes.

Ainda que Torres não percebesse que sua conversa estava sendo mapeada, a delegada cerrava seus punhos, sendo essa a única atitude que podia tomar mediante a seus sentimentos em fúria. Do lado de fora, o assunto parecia ter uma continuidade infindável, por ambas a conversa duraria um dia todo ou até mais, tamanha a compatibilidade. Luisa possuía ciência do relacionamento amoroso que a mulher mantinha com Anita, porém, mantinha seus desejos para si, apenas aproveitando da companhia que fazia seus olhos brilharem em vista do trabalho que exercia. Mas que atração, Luisa possuía admiração pela escrivã.

────Você conseguiu assistir aquela serie que te indiquei? ────A mão da mais nova repousava em seu antebraço, apertando despreocupadamente. ────Ah Verô, diz que viu! Eu preciso comentar com alguém. ────Os olhos castanhos a fitavam, negando com a cabeça.

────Eu te prometi que veria... Mas doze temporadas, Luisa? Não tenho mais pique para passar esse tanto de tempo olhando para uma tv. ────A mão da menina deslizava para baixo, acabando por encontrar a mão de Torres, se afastando assim que ouvira o barulho da porta se abrindo.

────Escrivã Verônica? ────Os lábios vermelhos estavam comprimidos, a expressão séria demais acabava destoando do modo como Anita costumeiramente aparecia, sempre séria, mas não como se pudesse trucidar alguém com os olhos. ────Os documentos que te pedi há vinte minutos atrás... ────Sua mão dominante gesticulava no ar naquele momento. ────...Vai conseguir traze-los ainda nessa vida ou eu devo esperar como se não tivesse um caso para resolver? ────A mulher mais nova se virara para ela com um sorriso sem graça.

LASCÍVIA ▪︎ one shot. Место, где живут истории. Откройте их для себя