Cela | part 2

865 66 59
                                    

Tinha cachorro chorando, criança latindo e vocês morrendo, então eu trouxe a part 2 para finalizar essa one.

  ▪︎

A perna se balançava em ritmo impressionante, com o pé apoiado na ponta do sapato, Verônica odiava se sentir presa, literalmente e figurativamente falando. O tempo dentro da delegacia parecia correr lento, quase como se por uma brincadeira cósmica ela fosse obrigada a ver sua prisão passando com lentidão, cutucando o resquício mínimo de paciência que possuía. Por vezes fitava as grades que lhe prendiam ali, as contava barra por barra, pensando que assim o tempo passaria, mas estava errada. Das barras aos detalhes mínimos que aquele lugar sem graça possuía, nada deixava sua mente mais calma.

Como que por um segundo, a luz no final de sua mente acelerada, ela sorrira. A cabeça se recostara contra a parede atrás de si, passando a se acalmar pelo simples fato de mirar, ainda que por pensamento, os olhos azuis convidativos que Anita Berlinger possuía. O que será que ela estava fazendo? O passar do tempo poderia sim se agregar a sua imaginação sempre tão fértil, algo muito melhor que contar barras de ferro gastas. Se lembrava dos dedos finos e longos, as unhas pintadas em uma cor não muito chamativa, afinal, o chamativo ficava nos lábios. Vermelho vivo. Combinava bem com a personalidade.

Os olhos se fechavam e ela sorria um tanto mais, sentindo a erupção tomar conta de seu corpo pelo simples pensar. Definitivamente um passa tempo e tanto. A perna se acalmava, o peito pesava e de súbito o corpo amolecera, dando lugar a um tipo de paz estranha que vinha pela mão do desejo. Verônica gostava de desafios, e Anita era um mais do que perfeito. Se fosse parar para analisar, a mulher estava sendo um pé no saco, tão imensamente difícil de se conectar, mas era certo que ela nunca se interessara pelo fácil, pelo que lhe dava atenção sempre que queria. Senso deturpado de querer, de interesse, mas sabia que o fácil não lhe agradava e muito menos a fazia permanecer por muito tempo. Sempre de passagem, como uma andarilha, o tempo se moldava conforme a dificuldade. Mas sempre se distanciava, pelo bem de novas aventuras, afinal, a mesmice nunca lhe agradou em momento algum, em nenhuma área da vida.

Do lado de fora da DHPP, o céu escuro começava a ser desenhado e iluminado por finos traços de luz solar, fazendo com que a cidade começasse a acordar. Berlinger mantinha seus olhos na tela luminosa, todo o foco que colocara ali havia sido extremamente proveitoso, dando um gás necessário para ao menos agilizar todo o trabalho que tinha para fazer. O pescoço se movimentava, liberando a tensão e a dor por estar na mesma posição há tanto tempo, e assim ela finalizara o restante de café que estava ali lhe acompanhando. Por um momento o corpo se recostara contra a cadeira, a fazendo respirar profundamente. Podia não dar o braço a torcer visivelmente, mas sempre em uma brecha de atenção não direcionada era para Verônica que seu pensamento se voltava.

Os pensamentos se aglomeravam, mesclando as mais diversas memórias de momentos em que haviam estado juntas. Anita detestava leis quebradas, mas se fosse parar para analisar, estava quebrando uma importante no momento em que considerara ceder as provocações de Torres. Tão incrívelmente errado e anti profissional, mas imensamente gostoso. Em meio ao corpo um tanto mais relaxado, olhos fechados, um meio sorriso e pensamentos demais, a paz instaurada era colocada em risco. Anita Berlinger abrira seus olhos ao tempo de seu nome ser chamado por duas vezes. Antes Verônica em sua mente, seu foco de atenção. Agora um advogado que ela nem mesmo conhecia. Péssima troca, deveria apenas ter mantido os olhos fechados.

────Delegada Berlinger? Eu vim por Verônica Torres! ────Ela o mapeara em questão de segundos, os olhos passeavam pelo terno lentamente, até chegar ao rosto, que a fizera menear a cabeça, se levantando do conforto de sua cadeira.

────Está cedo para terem se movimentado tão rápido! Incrível o sistema judiciário. ────A mulher forçara um sorriso, fingindo ler os papéis que lhe eram entregues. ────Me acompanha, doutor. ────O advogado prontamente organizara seu terno, passando a seguir a loira.

LASCÍVIA ▪︎ one shot. Where stories live. Discover now