Capítulo 20 (+18) - penúltimo

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Levanto o pulso, batendo de novo. Demora um bom tempo para ela responder, como se tivesse se afastado e pensasse em deixar a porta fechada. Então a porta abre e Dulce imediatamente anda na direção do banheiro:

Dul: Entre. Sente em qualquer lugar, menos na cama. Não tente ser fofo, não tire a roupa e deixe suas mãos longe da minha calcinha. - Vou para a cadeira no canto, segurando uma risada. – Estou lavando o rosto porque está na hora, não porque você mandou. Se eu não tivesse a sensação de meu rosto despedaçando, deixaria por toda a duração da sua curtíssima visita só pra te irritar, seu calhorda. – Ela anda em direção ao banheiro, fecha a porta e escuto o som da água corrente quando ela liga o chuveiro. Puta merda. Acho que ela vai me perdoar.

Dulce aparece depois de dez minutos, de novo dentro do roupão, mas com o cabelo solto e molhado, o rosto limpo da máscara. Sinto como se não conseguisse respirar direito, como se a visão dela provocasse um curto-circuito nos meus instintos básicos: respirar, piscar, engolir. É uma visão inacreditável:

Dul: Você tocou na minha calcinha? – ela pergunta, indo na direção da mala. Com esforço, fecho a boca, inspiro e engulo, então consigo falar:

Ucker: Sim. Esfreguei por todo o meu peito suado. - Ela bufa e me dá um olhar feio.

Dul: Não seja engraçadinho. Estou furiosa com você. - Meu sorriso desaparece sem nenhum esforço.

Ucker: Eu sei. - Ela alcança uma escova na bolsa e começa a escovar os cabelos, observando-me.

Dul: Mas é difícil ficar brava com você quando você vem até aqui desse jeito.

Ucker: Isso é... bom, certo? – Olho para minha camiseta desbotada, meu jeans velho, meu tênis de lona vermelho favorito. Não vejo nada especial, mas o modo como ela olha para mim me fez sentir como se eu estivesse de smoking. O nó no meu peito se afrouxa.

Dul: Isso é mais fácil? – ela pergunta baixinho, acrescentando: – Me encontrar aqui, em um restaurante chique, ou um hotel chique, com o rosto cheio de máscara, em vez de tentar me encaixar ali, perto do barco? - O nó aperta de novo.

Ucker: Eu estava bravo, Dul. Por isso agi como idiota.

Dul: Eu sei. Sou uma perdoadora instantânea. Se uma pessoa com quem me importo diz que está arrependida, está feito.

Ucker: Eu não sou assim – admito. – Você já tinha ido embora no momento que decidi que estava perdoada. - Ela morde o lábio inferior, olhos abertos e frágeis. Sei que ela não faz ideia que está olhando para mim desse jeito, e isso me deixa querendo abrir meu peito para que ela veja como meu coração está batendo rápido. Inclino-me para a frente, olhando ao redor da suíte. – Sabe que nunca dormi em um hotel a não ser naquela viagem a Las Vegas? - Ela fica parada, prendendo a respiração.

Dul: Nem mesmo durante o Pedalar e Construir?

Ucker: Não. Algumas pessoas sim, mas nós ficávamos em casas de família ou acampando. Tem sido a minha vida. Tirando os dois anos que passei na faculdade, sempre estive aqui. Soei como um canalha quando disse que você parecia inadequada ali, mas não quis dizer que não gosto de ver você ali. Só queria dizer que meu mundo não se parece assim. Não se parece com você. - Ela abaixa a escova e descansa, apoiando as costas contra a escrivaninha. – Não saio pra beber toda quinta à noite, nem compro café na Starbucks toda manhã. Não saio de férias nem podia chamar um amigo produtor para vir despejar uma tonelada de dinheiro para consertar meu barco.

Dul: Você pode agora, provavelmente. Sua vida vai mudar completamente.

Ucker: Eu sei – digo, descansando os cotovelos sobre os joelhos. – Acho que é o que estou dizendo.

No sé si es AmorTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon