Tia Gi

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Anahi chegou em casa com Poncho algumas horas depois.
- Desculpe se fui muito apressado... É que nunca conheci uma mulher como você Annie...
- Conheceu sim! - ela brincou dando um empurrãozinho nele. - Bem igual, aliás!
- Deeer... - ele mostrou a língua para ela, que riu. - Não estou falando nesse sentido!
- Eu sei.. Estou brincando... Mas espero que me entenda Poncho... Eu fui muito machucada e ainda estou tentando curar essas feridas... Não suportaria feridas novas, meu coração não iria agüentar.. - suspirou.
- Eu jamais te feriria Anahi.. O que eu quero é cuidar de você!
Anahi baixou os olhos e ele suspirou.
- Todos temos marcas do passado Annie... Todos temos dúvidas e traumas!
Anahi levantou os olhos, o encarando.
- Até você?
Poncho coçou a garganta, visivelmente desconcertado. Desviou os olhos dos dela e pigarreou.
- Isso não vem ao caso... - murmurou encarando o horizonte.
Anahi ficou muda. Viu que havia tocado em um ponto onde ele não queria se abrir, e como ela mesma não podia contar seus segredos, era injusto pedir isso dele.
Poncho se mexeu, incomodado com o silêncio e olhou para ela, sorrindo de canto.
- Então vou indo... - deu-lhe um beijo na bochecha, que a deixou vermelha.
Saiu em seguida deixando Anahi olhando-o na porta do prédio.
- Tchau estranho... - disse e ele se virou em seguida, sorrindo abertamente.
- Tchau estranha! - sorriu e ele acenou com a mão.

-/-

Anahi decidiu que não queria se trancar em casa. Decidiu dar uma volta pelo parque próximo ao seu prédio, sentou em um banco qualquer e fechou os olhos sentindo o cheiro da grama recém cortada e ouvindo ao longe o som dos patos que brincavam juntos na lagoa.
Suspirou sorrindo e abriu os olhos, deparando-se com uma menininha que ela tinha certeza que conhecia.
Os mesmos olhos, o mesmo sorriso, a mesma cor de cabelo. Seria ela mesma?
Apesar de ter apenas um ano quando foi presa, sabia que aquela criança era Johanna, sua sobrinha. Sentiu lágrimas chegarem aos seus olhos, vendo-a tão grande e linda. Lembrou de como eram grudadas, tia e sobrinha que não se largavam.
Anahi ainda a olhava quando os olhares delas se encontraram e a menina arregalou os olhos, assustada. Correu em sua direção e a observou, com os olhinhos curiosos.
- Oi... - Anahi sussurrou tentando segurar as lágrimas.
- Oi... Você é muito parecida com a minha mãe... - a menina disse confusa.
Anahi sentiu vontade de chorar. A irmã a havia apagado da vida de sua sobrinha, por isso a menina não a conhecia. Mal deveria saber que a sua mãe tinha uma irmã gêmea. - Isso é estranho... Vocês parecem as minhas amigas gêmeas da escola...
Anahi decidiu que o melhor seria não revelar nada para a menina, pois podia assusta-la.
- Ahhh jura? Que estranho não é mesmo?
- Sim... Mas seus olhos são azuis... Como os meus, enquanto a minha mamãe tem os olhos verdes... E o cabelo também é diferente...
- E como você se chama?
- Johanna.. - ela sorriu. - Johanna Alexandra Portilla Lagos.. E você?
Anahi tinha medo de falar seu verdadeiro nome e a menina comentar em casa.
- Giovanna.. - disse sorrindo. - Seu nome é lindo!
- Obrigada.. O seu também... Ahhh, pode me chamar de Johis! É assim que minhas amigas me chamam!
- E você pode pode me chamar de Gi... Ou tia Gi... Minhas sobrinhas me chamam assim.. - mentiu.
- Ok!! - ela sorriu. - Você é legal, e muito bonita.. Como a minha mãe...
- Como se chama sua mãe?
- Anabelle... E o meu papai é Thomas... E a minha irmãzinha vai chamar Lorena...
- Ahh quer dizer que sua mamãe está gravida?
- Sim... Acho que nasce no fim desse ano porque ouvi meu papai falando que no Natal ela já vai estar lá na em casa...
- Que legal Johis! E você gostou da idéia de ter uma irmã?
- No começo não gostei não... Mas minha mamãe falou que é muito legal ter uma irmã, alguém para conversar, para brincar, uma pessoa que vai ser a sua amiga para o resto da vida, mesmo quando todo mundo me abandonar, ainda vou ter a minha irmã... - Anahi sentiu seus olhos encherem de lágrimas, era isso que sempre falavam quando estavam juntas. - Não sei como ela sabe disso, minha mamãe não tem irmã... Mas a partir dai eu achei legal a idéia de uma amiga para a vida toda...
- É verdade... Ter uma irmã é muito legal.. - Anahi sussurrou e uma lágrima escorreu de seus olhos.
- O que foi, tia Gi? - a menina perguntou preocupada. - Por que está chorando?
- É que... Er... - gaguejou e já logo veio a solução em sua cabeça. - Eu também tenho uma irmã e estou muito longe dela... Sinto muita saudade dela...
- E por que não procura ela? - perguntou arqueando a sobrancelha.
- Ela.. Er.. Ela mora em outro país..
- Ahh, que pena... - ela soltou um muxoxo. - E como é o nome dela?
- Er... - Anahi precisava pensar rápido. - Christine... - sussurrou mas logo se arrependeu quando a menina arregalou os olhos.
- Esse é o segundo nome da minha mãe!! - ela quase gritou. - Anabelle Christine...
- Puxa... - Anahi cerrou os olhos. - Que coincidência não...
- Pois é.. - ela arqueou a sobrancelha
de novo. - Opa, tenho que ir, minha amiga Sam deve estar me procurando!
- Tudo bem querida! - Anahi sorriu engolindo em seco.
- Você vem sempre nesse parque? - ela perguntou.
- As vezes... - respondeu simplesmente.
- Seria legal te ver de novo... Você é legal Tia Gi! Eu sempre venho aqui com a minha amiga Sam... As vezes até podemos nos ver de novo!
- Você também é legal Johis! - Anahi sorriu. - Mas... Er... - ela precisava pensar em uma desculpa, não podia deixar que Anabelle descobrisse que tinha revisto sua filha. - Acho melhor não contar para os seus pais isso... Afinal eles vão ficar com medo por você conversar com um estranho né?
- Ahh é verdade... - ela colocou o dedinho na bochecha. - Eles não vão gostar...
- Mas vamos fazer assim: esse vai ser nosso segredo!
- Tipo amigas secretas?? - ela sorriu com os olhos brilhando.
- Isso! - Anahi sorriu junto, sua sobrinha era encantadora.
- JOHANNA!!! Cade você Johis??? - uma voz feminina a chamou.
- Ixi.. É a tia Sophia, mamãe da Sam.. Preciso ir!
- Nosso segredo? - disse sorrindo.
- Nosso segredo! Tchau tia Gi! - deu um beijo na bochecha da morena e saiu correndo. - Estou aqui tia Sophia!!!
Anahi ainda ficou um tempo sentada no banco, repassando esses últimos acontecimentos. Não podia contar que Johanna realmente guardasse segredo, mas tinha que tentar a sorte... Se Johanna não contasse, seria bom, afinal poderia se encontrar e matar a saudade da sobrinha sempre que pudesse.. Mas se ela contasse, iria dar um susto em Anabelle, que também seria uma coisa boa, pensando que ela só estaria se aproximando da menina pela vingança.

-/-

- Oi mamãe... - Johanna entrou em casa e Anabelle correu para abraçá-la.
- Oi bebê... Por que está suja de terra Johanna? - perguntou arqueando a sobrancelha.
- Fomos brincar no parque mamãe... A tia Sophia também foi!
- Johanna Alexandra! Eu te disse para não saírem de casa! - bufou nervosa passando a mão pelo cabelo.
- Mas mamãe! - a menina parecia confusa. - Sempre que vou à casa da Sam, a tia Sophia leva a gente no parque...
- Ah Ok... Mas como está? Como foi o passeio? - ela perguntou rápido mexendo no cabelo da filha e procurando algum sinal de machucado na menina.
- Foi legal mamãe... - ela respondeu arqueando a sobrancelha. - Por que está fazendo isso? - perguntou notando que a mãe procurava alguma coisa nela.
- Só queria ver se estava bem... - Anabelle suspirou ao notar quanto estava sendo ridícula.
- Eu estou mamãe... - ela respondeu e deu um beijo na bochecha da mãe. - Comi na casa da Sam... Posso me deitar? Estou cansada...
- Cla-Cla-claro bebê... Vai dormir princesa... - deu um beijo na testa da filha enquanto ela corria para o quarto.
O telefone tocou em seguida, fazendo Anabelle dar um pequeno pulo do chão.
- A-a-alô?
- Virou gaga agora Anabelle? - a risada malévola dela surgiu do outro lado.
- Oi Anahi... - ela suspirou.
- Como vai Johanna? Já foi dormir depois do passeio no parque?
Anabelle arregalou os olhos.
- Você estava seguindo a minha filha????? - ela gritou.
- Oh... Não! Claro que não! - mais uma risada. - Acha que eu seria capaz disso?
- Sua... Sua... - Anabelle falou com lágrimas escorrendo de seus olhos.
- O que? - Anahi perguntou divertida.
- Não se atreva a se aproximar da minha filha Anahi...
- Mas ela é tão linda... Ahhhh tive uma idéia incrível!! Acho que vou pintar meus cabelos, colocar uma lente verde e aparecer para Johanna, levando ela embora de você... Para sempre!
Tu-tu-tu...
Anabelle tremia dos pés a cabeça, segurou o telefone na orelha por longos minutos apenas ouvindo o som da ligação terminada. Lágrimas escorriam de seus olhos e suas pernas estavam bambas.
- Ela não pode fazer isso comigo.. Ela não pode... - sussurrou para si mesma.

-/-

Andava de um lado para o outro batendo o pé, queria vê-la, precisava falar com ela.
- Isso está ficando obsessivo... - pensou passando as mãos nos cabelos.
Ela era a primeira mulher que mexia com ele depois de muito tempo. Mas também pudera.. Anahi era linda, quer dizer, linda é apelido perto do que aquela mulher era. Era interessante, engraçada, e tinha um lado carente, que fazia Poncho sonhar em cuidar dela a vida toda.
Mas pelo que pode ver ela estava muito machucada e triste. Seu semblante era caído. O que poderia te acontecido com ela para deixá-la desse jeito?
Da mesma maneira que pensava nisso, também pensava em não se envolver, não se deixar levar. Seu subconsciente o alertava cada vez que pensava nela para que ele tomasse cuidado, para que ele evitasse que a situação horrível que ele passou se repetisse.
Tinha a mente dividida entre dar uma chance ao coração ou desistir de vez, buscando não se machucar de novo.
Atravessou o quarto e abriu seu armário, tirou de dentro uma caixinha e sentou na cama, abrindo e olhando seu conteúdo pela milésima vez. Passou as pontas dos dedos pelo tecido branco e suspirou fechando a caixa em seguida e guardando em seu local original.
Como ele mesmo disse, todos tem marcas do passado e com ele não era diferente.
E por outro lado, não conseguia parar de pensar em Anabelle. Como seria possível a companheira de trabalho ser daquele jeito que Anahi descreveu e ele nunca ter percebido?
Poderia ser apenas um problema de família, poderia ser alguma coisa mal resolvida entre elas apenas... Afinal nenhuma das duas parecia ser uma má pessoa, afinal, elas eram idênticas.
Porém ele já começava a perceber a personalidade diferenciada das duas, enquanto Anabelle era forte e segura, Anahi mais parecia uma menina insegura quando se permitia revelar. Ele pode perceber que ela finge uma pose durona para tentar esconder a menina doce que há dentro dela.
Abriu a geladeira e não se surpreendeu quando não encontrou nada. Bufou se dirigindo a padaria pela terceira vez apenas naquela semana.

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