11 - Casada, Churros e Minha

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MINATOZAKI SANA, 12 DE MAIO DE 2023,  COREIA DO SUL

Desde muito pequena, sempre fui observadora. Com a memória boa que eu tinha, - apesar de parecer, não é ironia - lembrava de detalhes muito específicos a ponto de me chatear muito quando uma pessoa simplesmente não entendia as referências. Tinha prós e contras.

Creio que uma das vantagens é poder lembrar exatamente onde as pintinhas de Jihyo ficavam posicionadas. Me senti extremamente grata ao constatar que absolutamente nenhuma havia sido tirada com procedimentos estéticos. Sabe, a avó de Jihyo era chata pra caramba com isso e sempre arrumava um jeito de desmerecer a aparência de Park, apenas porque ela parecia ser mais estrangeira do que coreana.

Estávamos no rio Han, sentadas nas áreas propícias para tal. Agora eu podia ver com clareza todo o sofrimento que Jihyo superou sozinha, através daqueles olhos gigantes que tanto me atraíam. Era Jihyo. A minha Jihyo.

— E então? — Jihyo questionou.

Ela estava tão... diferente? Não sei. Eu só não sabia mais ler ela do mesmo jeito que antes. Digo, era a minha Jihyo, mas não aquela do passado. Óbvio que ela era uma vítima do amadurecimento precoce e da dor. Posso falar isso com propriedade porque acabei sendo outra vítima. Jihyo é o meu passado em carne e osso, não é fácil de engolir assim. Assim como eu também sou o passado dela.

— Eu não sei o que falar, Sana. — Jihyo suspirou, passando a mão nos cabelos agora curtinhos, na altura dos ombros.

Recordo-me bem da vovó Park penteando os fios longos de Jihyo que iam até a cintura. A Park mais nova simplesmente odiava o comprimento das madeixas, mas nunca ousava pestanejar. Morria de vontade de ter os cabelos curtos, assim como estava agora, mas morria mais ainda de medo da vovó Park. Ela era encarregada de cuidar dos fios negros da mais nova e fazia seu papel muito bem.

— Obrigada. — Murmurei, ganhando a atenção de Park. — Por tudo.

Permanecemos quietas por alguns instantes. Reparei como os olhos grandes se enchiam de lágrimas aos poucos, sentindo que os meus acompanhavam o mesmo destino.

— Você não tem que agradecer.

A humildade de Jihyo me assustava.

— Tenho, sim. — Suspirei, procurando as palavras. — Você é a minha melhor memória em tempos sombrios, Hyo. Espero que saiba o quão aliviada eu me sinto por te ver de novo. Simplesmente tão... Jihyo? É, talvez seja.

— Você viveu bem?

— De que importa? Você ficou no inferno, só eu me salvei.

— Importa pra mim, Sana. Sua felicidade sempre vai ser a minha, mesmo que tenhamos nos separado de forma trágica.

A saudade invadiu meu peito sem muitas delongas. Eu reconhecia que não nutria mais sentimentos amorosos por Park, mas, mesmo assim, ainda foi o meu primeiro amor. O carinho e a necessidade do afeto de Jihyo eram situações explícitas.

— Lembra da Dahyun?

— A branquela esquisita? — Jihyo riu e eu a acompanhei.

Que saudade desse som.

— Ela mesmo. — Eu sorri. — Dahyun foi minha luz no fim do túnel, sabe? Me acolheu e moramos juntas até hoje.

— Sério?! — O sorriso de Jihyo aumentou. — E ela vai bem?

— Vai, sim. Nunca vi alguém pra ter um relacionamento mais estável do que Kim Dahyun.

— Fico feliz por ela. Mande lembranças, certo?

Pieces Of Love Where stories live. Discover now