A Professora Hansen ensina História da Idade Média em uma universidade Normal, e é uma historiadora mágica.

Ela publicou toda uma prateleira de livros bruxos, mas não ganha nenhum dinheiro fazendo isso. Não existem bruxos o bastante para apoiar as artes e as ciências mágicas como carreiras. Meu pai ganha bem como médico mágico porque ele é um dos poucos com o treinamento adequado, e todo mundo precisa de um médico. O pai de Dinah ensinava Linguística numa universidade local, mas agora trabalha em tempo integral para a Irmandade, pesquisando o Insípidum. Ele tem até sua própria equipe de investigadores, que trabalha com ele no laboratório do andar de cima. Já estou aqui há quase dois dias e ainda não o vi.

– Ele só sai para pegar chá e sanduíches. – disse Dinah quando lhe perguntei a respeito. Ela também tem alguns irmãos mais novos; eu os reconheço de Watford. Há um acampado na sala de estar agora mesmo, assistindo o equivalente a três meses de Eastenders, e ao menos mais um lá em cima, preso à internet. Todos eles são terrivelmente independentes. Acho que eles nem têm horários de refeições. Apenas vagam até a cozinha em busca de tigelas de cereal e torradas com queijo.

– Estamos fazendo biscoitos de gengibre. – diz Dinah, em resposta à mãe. – Para Camila.

– Dá um tempo, Dinah. – diz a mãe dela, colocando o notebook no balcão e conferindo nossos biscoitos. – Você vai ver Camila em uma ou duas semanas, tenho certeza de que ela irá reconhecê-la. Ah, Ariana, francamente, será que as bonequinhas de gengibre têm que usar cor-de-rosa?

– Eu gosto de cor-de-rosa. – digo.

– É bom ver vocês passando algum tempo juntas, Dinah nunca convida outras amigas. – diz ela.

– Porque a nossa casa está fervilhando com as suas amigas. – resmunga Dinah.

– Não tenho amigas. – diz a mãe dela. – Tenho colegas. E filhos. – Ela apanha uma das minhas bonecas de biscoito de gengibre e dá uma mordida.

– Bem, estou apenas evitando outras pessoas. – diz Dinah.

– Eu tenho muitas amigas. – digo. – Queria poder ir para a escola com elas. – não pela primeira vez hoje, penso que estou desperdiçando um dia com minhas amigas de verdade, minhas amigas Normais, só para agradar Dinah.

– Bem, você vai estar com elas no ano que vem, na universidade. – me diz a mãe dela. – O que você vai estudar, Ariana?

Dou de ombros. Ainda não sei. Não deveria ter que saber – só tenho dezoito anos. Não estou destinada a nada. E meus pais não me tratam como se eu tivesse que me elevar à grandeza. Se Dinah não descobrir a cura do câncer e encontrar as fadas, acho que sua mãe ficará ligeiramente desapontada.

A Professora Hansen franze o cenho.

– Hmm. Tenho certeza de que você vai dar um jeito. – a chaleira clica e ela serve seu chá. – Querem uma xícara fresquinha, meninas? – Dinah estende a dela, e sua mãe pega a minha xícara também. – Na idade de vocês, eu tinha amigas; tive uma melhor amiga, Aleida... – ela ri, como se lembrasse de algo. – Éramos unha e carne.

– Ainda são amigas? – pergunto.

Ela coloca nossas canecas no balcão e olha para mim, como se só estivesse prestando atenção de leve à nossa conversa até aquele momento.

– Eu seria – disse ela –, se ela aparecesse. Aleida partiu para a América alguns anos depois da escola. Nós não nos vimos mais depois que saímos de Watford, de qualquer maneira.

– Por que não? – indaga Dinah.

– Eu não gostava do namorado dela. – diz a mãe.

– Por quê? – pergunta Dinah. Deus, os pais de Dinah devem ter ouvido essa pergunta umas cem mil vezes a essa altura.

Ascensão e queda de Camila CabelloOnde as histórias ganham vida. Descobre agora