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Camila

Dinah está sentada diante de minha escrivaninha quando eu acordo de novo. Está lendo um livro da grossura do seu braço.

– Já passa do meio-dia – diz ela. – Você virou uma preguiçosa total no abrigo para jovens; vou escrever uma carta para o The Telegraph.

– Você não pode simplesmente ir entrando no meu quarto sem bater – falo, sentando e esfregando os olhos. – Mesmo que tenha uma chave mágica.

– Não é uma chave, e eu bati sim. Você é que dorme feito um cadáver.

Eu passo por ela a caminho do banheiro e ela fareja, depois fecha o livro.

– Camila. Você perdeu o controle?

– Mais ou menos. É uma longa história.

– Você foi atacada?

– Não. – Eu fecho a porta do banheiro e elevo a voz. – Te conto mais tarde.

Dinah vai ficar doida quando eu contar a ela que o Mago quer me mandar embora.

Olho para o espelho e tento decidir se devo ou não tomar banho. Meu cabelo está amassado de um lado e arrepiado em cima – eu sempre começo a suar quando perco o controle desse jeito. Eu me sinto toda pegajosa.

Eu tiro minha camisa e esfrego a cruz dourada em volta do meu pescoço. Não sou religiosa – ela é um talismã. Vem sendo passada adiante na família de Ariana há anos, uma proteção contra vampiros. Era preta e manchada quando o Dr. Butera me deu, mas eu a esfreguei até ficar dourada. Às vezes, eu a mordisco. (O que provavelmente é algo ruim de fazer a uma relíquia medieval.) Não preciso usá-la durante todo o verão, na verdade, mas uma vez que você se acostuma a usar uma gargantilha anti-vampiros, parece estúpido tirá-la.

Todas as outras crianças na Assistência Social acham que sou religiosa. (E acham que fumo um maço de cigarros por dia, porque eu meio que estou sempre cheirando a fumaça.)

Olho de novo para o espelho. Dinah tem razão. Estou magra demais. Minhas costelas estão proeminentes. Dá pra ver os músculos na minha barriga, e não é porque eu sou malhada – é porque eu não comi de verdade por três meses.

– Vou tomar um banho! – grito.

– Vai logo, se não perdemos o almoço! – Escuto Dinah se movimentando pelo quarto enquanto vou para debaixo do chuveiro; em seguida, ela fala comigo de novo bem junto à porta: – Ariana já está de volta.

Eu abro o registro.

– Camila, você me ouviu? Ariana está de volta!

Eu escutei.

*****

O que sugerem as regras de etiqueta quando você vai conversar com a sua namorada depois de três meses – e da última vez que você a viu ela estava mãos dadas com a sua nêmese?

(As duas mãos. De frente uma para a outra. Como se estivessem prestes a começar a cantar.)

As coisas ficaram problemáticas com Ariana no ano passado antes mesmo de eu flagrá-la com Lauren na Floresta. Ela estava distante e quieta, e quando eu me feri, em março (alguém mexeu na minha varinha), ela só revirou os olhos. Como se a culpa fosse minha.

Ariana é a única garota que já namorei. Estamos juntas há três anos, desde que tínhamos quinze. No entanto, eu a desejei muito antes disso. Sempre a desejei, desde a primeira vez que a vi – atravessando o Grande Gramado, seu cabelo comprido ao vento. Lembro-me de vê-la e pensar que eu nunca tinha visto nada tão bonito. E se você fosse bonito e gracioso daquele jeito, nada podia realmente lhe tocar. Seria como ser um leão ou um unicórnio. Ninguém podia realmente lhe tocar, porque você não estaria sequer no mesmo plano que as outras pessoas.

Ascensão e queda de Camila CabelloOnde as histórias ganham vida. Descobre agora