Pode ser perigoso

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A noite era fria, o vento uivava lá fora. Alexia não conseguia dormir. Seu coração doía pensando em seu filho Issac, ela tinha tantos planos, tantos sonhos, mas por causa de um acidente ela teve sua vida mudada completamente e sem se dar conta perdeu tudo. Mas sua tristeza maior é por saber que o aniversário de quatro anos do seu filho se aproximava. Com o passar das horas ela revivia os anos de sofrimento, rodeados por mentiras e traições. No entanto, a perda do filho, a pessoa quem mais amava era o que realmente a consumia.

Diante das grandes janelas, Alexia observava as gotas de chuva se juntarem, o reflexo das luzes da cidade dançando nas pequenas poças. Abraçando o próprio corpo, as lágrimas escorriam por seu rosto cansado, marcado pela noite sem dormir. A noite se arrastava e ela permanecia ali, imersa em seus pensamentos e sentimentos contraditórios. A vontade de buscar o amor que sempre desejou e a decepção que lhe foi infligida lutavam em sua alma.

Sem conseguir mais suportar a turbulência emocional, ela toma um demorado banho e veste um vestido vermelho, contrastando com a melancolia da noite. Seus longos e lisos fios de cabelos estavam perfeitos. No espelho, ela mal se reconhece, uma sensação paralisante de fraqueza, que não estava acostumada a sentir.

Mas uma coisa ela aprendeu com a Alexia sem lembranças, que as pessoas tinham medo da armadura que ela mesmo criou, a solidão que sentia era resultado das suas próprias escolhas.

Alexia não gostava de se aproximar de ninguém, por isso tirar as pessoas da sua vida era tarefa fácil para ela.

No entanto, agora sentia uma falta avassaladora de cada pessoa que passou por sua vida nos últimos cinco anos. Seu orgulho ferido falava alto, enterrando qualquer possibilidade de se reaproximar de Benício ou qualquer membro da família Nicolai. A decisão estava tomada, mas ela sabia que a dor da solidão e da perda continuariam a assombrá-la.

Enquanto se maquiava, Alexia começou a falar consigo mesma, tentando convencer a si mesma de que seguir em frente era a melhor decisão.

— Você não pode continuar vivendo no passado, Alexia. Anda, reaja! Você é forte e capaz de superar tudo isso.— ela murmurou para si mesma, tentando se convencer. Mas, por mais que tentasse, seu coração doía com a ausência do filho que nem teve a oportunidade de conhecer.— Eu não posso mais continuar fugindo. Preciso enfrentar toda essa dor de frente.— ela disse em meio às lágrimas, enquanto lutava para se manter firme e decidida.

E assim, com os olhos inchados e o coração pesado, Alexia deu um leve beijo na testa do pequeno Brayan e foi no quarto de Lorena.

— Lorena...— Alexia a chama suavemente.

— Hum... o que aconteceu? Que horas são?— ela fala embolado pelo sono.— Por quê ainda está de noite?

— Estou saindo! Brayan está na minha cama, se quiser ir deitar com ele. Tenho algumas coisas para resolver e não sei que horas chego. Você poderia ficar com ele?

Lorena a olha e concorda com a cabeça.

— Por quê está saindo a essa hora? Espera amanhecer, pode ser perigoso.— Lorena fala preocupada.

— Tenho que ir a um lugar. Não se preocupe, vou ficar bem.

Sem esperar por resposta Alexia desceu os inúmeros degraus da sua mansão. Ela precisava mostrar que suas memórias voltaram e que estava viva e de volta, agora Alexia quer encontrar respostas e confrontar seus demônios. Mas o sentimento de vingança a consumia, as palavras de Fred vinham a incomodando desde que saiu da pequena cidade.

— Eu vou descobrir quem tentou me matar e juro que vou vingar sua morte, filho. Eu juro!— A chuva havia se parado, ela vai na garagem e encontra seu carros, todos impecavelmente limpos e sem uma poeira.— Ah, Matheo, você não existe.

Saindo pelos portões Alexia digita a senha para trancar tudo. Os seguranças não estava em seus postos, eles vinham uma vez ou outra fazer a honda e iam embora. Ela coloca uma música e dirige pela grande Paris, parando no cemitério onde seu pai foi enterrado. Ali ela fica até amanhecer.

— Quanta falta você me faz, pai! Se estivesse vivo, hoje estaria com meu filho nos meus braços e não estaria sentindo esse enorme vazio aqui dentro de mim.

Seus olhos azuis ardiam pelas lágrimas que insistiam em cair. Alexia sai do cemitério e vai em direção a sua empresa. No caminho ela viu como tudo permaneceu igual ela lembrava, as pessoas apressadas, o congestionamento do trânsito. Era como se ela tivesse desacostumado com tudo isso.

Chegando na empresa ela percebe que não tinha ninguém, os sócios, a secretaria e o Matheo ainda não havia chegado, era muita cedo ainda.

Ela caminhava devagar, o eco do seu salto se ouvia de longe. As salas e os escritórios, Alexia passou uma por uma, ela sente que precisase reconectar com seu antigo mundo. Chegando na sua sala ela percebe que tudo estava igual, o quadro do seu pai logo atrás da mesa, seu nome permanecia ali. Alexia senta e abre o computador, seus olhos percorre rapidamente por cada arquivo, e em percebe que as contas bancárias dobraram de valor, ela se encosta na cadeira e gira por todo o escritório.

— Nossa que saudade de você Matheo, espero que venha logo e que a Ana venha com você.— Ela diz com um sorriso deslizando os dedos no porta retrato do casal que está em cima da mesa e percebe que Ana estava grávida.— Não acredito, o meu amigo é pai?— Ela sussura e suspira pesadamente lembrando da sensação que tinha quando estava grávida. Ela encara a imagem da amiga e sorri.— Matheo é um homem de sorte por ter você, Ana.

A porta se abre e Alexia levanta a cabeça, Matheo que estava de cabeça baixa lendo um documento deixa cair de suas mãos com tamanho a surpresa que teve.

— Não acredito, Alexia. Você está viva!

Lembranças Perdidas Where stories live. Discover now