Não me deixe sozinha

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Eles se olham sem dizer uma palavra, mas nesse momento não precisa de palavras; seus olhares falam por si.

- Eu quero você para sempre na minha vida, Alexia. - Benício completa e dá outro longo beijo.

As pessoas em volta aplaudiram o casal. Vanusa olhava poucos passos de distância, com os olhos marejados de lágrimas. Para ela, não havia mulher como Alexia.

De longe, Dafne apertava fortemente a taça em suas mãos. Mais uma vez, seu plano falhou. As pessoas pareciam não ter acreditado nas fotos. Durante anos, Alexia nunca deu sequer um motivo para fofocas.

- Fizeram lavagem cerebral nesse povinho. - Dafne resmunga baixinho.

Com raiva queimando em seus olhos, ela descontou suas frustrações e apertou fortemente o vidro frágil da taça, acabou quebrando, fazendo um grande corte em suas mãos.

Mesmo com a música alta, deu para ser ouvido seus gritos de dor. Benício olha para onde veio o grito e ao ver que era Dafne, ele sai correndo, deixando Alexia sozinha novamente.

- Dafne, meu Deus, está sangrando. - Ele fala, afastando as pessoas, de volta dela.

- Pode deixar, filho, eu cuido dela. Volta lá com a sua namorada! - O pai de Benício fala quase como uma ordem.

- Não! Eu cuido. Alexia ficará bem.

Dafne olha por cima do ombro de Benício, que estava verdadeiramente preocupado. Ela sorri vitoriosa, mostrando para Alexia que não importa o quanto Benício esteja gostando dela, ele sempre vai escolher ficar com ela.

- Como doi, Benício, não me deixe sozinha... - Ela fala, encarando os olhos de Benício, forçando um choro sem lágrimas. - Fica comigo, amor. - Ela sussura para ele. Ninguém ouviu, somente Benício, mas tinha uma pessoa que sabia fazer leitura labial.

- Mas é um imbecil mesmo, eu quero matar esse idiota. - Fred murmura.

Os convidados olham para Alexia, esperando seus próximos passos, mas ela não tem reação. Benício acabou de dizer que a ama, mas no primeiro instante ele volta novamente ao lado de quem faz tanto mal a ela.

- Estou indo, meninos! - Ela fala como se a antiga Alexia, tivesse voltado. Seus olhos estão sem emoção, sua voz soa rouca e calma.

- Vamos te levar! - os gêmeos falam ao mesmo tempo.

- Não! Eu preciso de um tempo sozinha. - Alexia responde com firmeza. - Vejo vocês no escritório, segunda-feira. Preciso comprar umas coisas para nosso novo produto, porém não encontrei nas cidades vizinhas, pesquisei por lugares mais próximos e vi que tem numa loja no centro de Paris. Quero um de vocês comigo. Mas segunda-feira conversamos.

- Você vai ficar bem? - Júlio pergunta. Pelos anos que ele a conhece, sabe que Alexia só foca no trabalho mais que o normal quando ela está com raiva ou triste. Nesse exato momento nem ela não sabe qual a emoção que a domina.

Alexia sorri. Seus olhos azuis, que sempre teve tanto brilho, estavam gelidos. Com um último olhar em direção a Benício, ela sai do salão. Já do lado de fora, ela olha para o céu estrelado e dá um leve sorriso.

A antiga Alexia fazia isso, era como seu pai estivesse ali com ela e, por alguma razão, ela continuou fazendo isso mesmo sem suas memórias. Sempre que se via triste ou feliz, ela olhava para o céu e sorria.

Ela sai e aperta o alarme do seu carro para ver onde estava estacionado. Por sorte, ele estava quase na porta. Ela desce as escadas e entra. Com os vidros fechados, ela debruça em cima do volante e, pela primeira vez, des que acordou, ela chora descontroladamente sem se importar com os ruídos que fazem do lado de fora. Não é só pelo Benício; ela está se sentindo sozinha. Alexia queria saber se era importante para alguém e também, essa data em si trás sempre uma tristeza incomum para ela, hoje está fazendo 10 anos que Alexia perdeu seu pai e todo o ano ela se isola num canto. Não muito diferente da nova Alexia.

Enxugando as suas lágrimas, ela dá a partida no carro e sai. Andando pela pequena cidade, que antes era tão vazia, hoje tem vida por todos os lados. Ela para na igreja, mesmo com ela fechada. Alexia senta no banco que tem de frente a ela e fica ali pensando no que fazer. Sua decisão já estava tomada, tem um tempo que ela pensa em sair da casa do Benício e com os últimos acontecimentos, não tem motivos para continuar ali.

Já mais calma, Alexia se levanta para ir embora, mas avista num corredor estreito um pequeno menino que havia recém completado seus 4 anos. Ele estava encolhido de frio, com uma cobertinha fina. Logo ao lado, uma senhora, aparenta ter 50 anos, ela tenta acordar a mulher, mas sem sucesso.

A senhora se chama Joana, seu vício em drogas e bebidas alcoólicas fizeram perder tudo. Ela estava muito bêbada e mal conseguiu chegar até ali. Foi carregada por outros bêbados que jogaram ela no corredor. O pequeno menino sempre fica sozinho ali, assustado, com medo e muita fome. Sua única saída era dormir.

Ouvindo um gemido baixinho, a criança se encolhia. Não era o frio que o incomodava, e sim a fome. Com delicadeza, Alexia acorda o menino.

- Oii... - Ela fala baixinho para não assusta-lo. Porém ele vive na rua des que nasceu, o medo era constante para ele.

- Quem é você? Por que está aqui?- ele pergunta com seus olhos azuis arregalados e um pouco assustado.

Lembranças Perdidas Where stories live. Discover now