11 | VOZES ESTRANHAS

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Lizzie estava dentro de sua casa. Tinha cerca de cinco anos e andava pelo corredor escuro, com ambas as mãos esticadas, tateando as paredes e tomando cuidado para não tropeçar em nada enquanto ia em direção ao quarto dos pais.

A garotinha tocou na maçaneta da porta fechada, prestes a abri-la, mas interrompeu seu movimento ao escutar as vozes abafadas dos pais do outro lado da parede.

Um pouco hesitante, encostou uma das orelhas na porta, para escutar melhor a conversa. Eles pareciam preocupados. Definitivamente era um assunto sério, do tipo que os fariam dizer que não era algo para crianças se preocuparem, caso ela perguntasse.

─ As pessoas estão chamando de Fulgor ─ falou o pai.

─ Isso é horrível. Se já ganhou um nome, quer dizer que é grande e está sendo comentado ─ respondeu a mão, aflita.

Era possível escutar barulhos de passos vindo de dentro do quarto. Mesmo sem conseguir ver, Lizzie sabia eram da mãe, que nunca conseguia deixar as pernas imóveis em momentos de tensão, as balançando ou ficando de pé para andar em círculos. Ver a mãe daquela forma costumava deixar Lizzie nervosa também, mesmo que não compreendesse bem o que estava acontecendo.

─ Lori, sente, por favor ─ o homem pediu para sua esposa ─ Não precisa se preocupar, estamos seguros aqui.

─ E por quanto tempo vamos continuar assim?

─ Não se preocupe ─ ele repetiu.

Houve um momento de silêncio, que deixou Lizzie frustrada. Não tinha conseguido entender qual era o assunto dos pais ─ nunca escutara falar sobre algo chamado Fulgor antes.

─ A situação já vai ser controlada e vamos ficar bem, eu prometo. Todos nós.

─ Eu já ouvi isso antes ─ falou a mãe, em um tom um pouco mais baixo, de modo que Lizzie quase não conseguisse compreender as palavras.

Não houve uma resposta.

Mas dessa vez, a menina sabia do que eles estavam falando.

Ela enfim afastou a orelha da porta, imaginando que os dois não voltariam ao assunto inicial.

Pensou em voltar para o quarto, onde deveria estar, mas logo essa ideia foi afugentada. Ainda estava com medo ─ provavelmente mais do que quando acordara. Sabia que não conseguiria voltar a dormir sozinha.

Então, com cuidado, ela abriu a porta do quarto dos pais, lentamente, enquanto fingia um bocejo, para que pensassem que tinha acabado de chegar ali.

─ Oi, princesa ─ cumprimentou o pai ─ Não conseguiu dormir?

Ela balançou a cabeça de um lado para o outro e encostou a porta, correndo para a cama dos pais ou ver o homem dar batidinhas no colchão para chamá-la.

─ Tive um pesadelo.

─ Outro? ─ perguntou a mãe, preocupada ─ Quer contar como foi?

Lizzie negou. Não queria falar sobre o sonho, assim como em todas as outras vezes em que ele a havia atormentado.

As lembranças do terrível dia da explosão ainda eram vívidas em sua memória, mesmo depois de um ano, assim como a imagem do corpo queimado do tio que encontraram poucas horas depois.

Compreensiva, a mãe puxou a menina para mais perto de si, se deitando na cama enquanto a abraçava, acariciando seus pequenos cachos.

O conforto trazido pelo calor dos braços da mãe a segurando acalmaram a menina, da mesma forma como sempre fazia. Saber que a mãe estava ali, bem ao seu lado, a abraçando era tudo o que a criança precisava. Gostava de pensar que era tudo o que sempre precisaria, para toda a vida.

GAME OF SURVIVAL, minho (maze runner)Where stories live. Discover now