01 | BEM-VINDO AO INFERNO

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Lizzie não sabia mais dizer há quanto tempo estava presa na Clareira.

No início, ela se sentiu confusa e com medo. Não sabia o porquê de estar naquele lugar cheio de garotos, sem carregar consigo qualquer vestígio de sua vida antes dali.

Ela buscou, durante meses, algo familiar. Algum rosto, voz, palavra, qualquer coisa que fosse capaz de lhe trazer o tão aguardado sentimento de deja vu. Mas o mais próximo de uma lembrança que ela já conseguira chegar haviam sido sonhos estranhos e desconexos. Eram nas noites mais silenciosas, enquanto sua consciência viajava para outro plano, muito distante da Clareira e dos garotos perdidos, que ela escutava as vozes.

─ É estranho ─ ela contou para Clint naquela manhã, quando o procurou na enfermaria, alegando estar sentindo uma forte dor de cabeça ─ Eu nunca consigo identificar nenhum rosto nesses sonhos, é quase como se o rosto das pessoas fosse só uma superfície lisa e vazia, e tudo o que resta são as vozes.

─ São só sonhos, não precisam fazer sentido ─ o garoto deu de ombros enquanto separava um comprimido de dor para entregar a ela.

─ Não são só sonhos ─ Lizzie teimou, mesmo que não soubesse explicar, com certeza, sobre o quê aquilo se tratava. A garota hesitou por um momento, mas então se aproximou um pouco mais de Clint, abaixando seu tom de voz para nada mais que um mero sussurro, como se estivesse prestes a contar um segredo a ele ─ Eu acho que podem ser memórias.

Clint ficou em silêncio, apenas encarando Lizzie com atenção. Os olhos do garoto buscavam qualquer sinal de que aquela fosse mais uma das brincadeiras dela, apenas outra tentativa de pregar uma peça em algum dos Clareanos. Então ele riu.

─ Estou falando sério!

─ Claro que sim ─ ele respondeu com ironia enquanto o riso cessava ─ Nenhum de nós tem memórias, Lizzie.

─ Bom, parece que eu tenho.

─ Conta outra.

Lizzie se sentiu frustrada.

Estava claro para ela que Clint não a levaria a sério, assim como vários outros Clareanos. Ela já imaginava que aquilo poderia acontecer, mas esperou que o garoto ao menos consideraria o que ela estava lhe dizendo. Afinal, ela estava sempre o ajudando na enfermaria, mesmo não sendo uma socorrista, e os dois passavam um tempo considerável juntos.

Assim, Lizzie pôs-se de pé e estendeu uma das mãos para pegar o comprimido que tinha ido buscar com o rapaz. Ela o jogou em direção a garganta, engolindo-o com a ajuda de um grande gole de água.

Sem se dar ao trabalho de dirigir mais uma única palavra a Clint, ela se encaminhou em direção ao lado de fora, não se preocupando em agradecer pelo remédio.

─ Lizzie! ─ ele a chamou ─ Pensei que fosse me ajudar hoje.

─ Não vou mais.

Clint apenas a olhou enquanto se afastava, andando pela Clareira. Ela não hesitou nem por um momento, mantendo seus passos firmes e decididos enquanto o deixava ali, repentinamente perdendo toda a vontade de continuar na enfermaria. Sequer era uma socorrista, afinal. Não era sua responsabilidade.

 Não era sua responsabilidade

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GAME OF SURVIVAL, minho (maze runner)Where stories live. Discover now