Capitulo Um

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Uma garota chamada Sarah Grace

Dentre todas as mulheres existe um padrão pelo qual 90% dos caras héteros irão se interessar. E se você alguma vez já jogou The Sims vai gostar dessa parte. Certo, começando pelos lábios atraentes cobertos por um batom vermelho ardente em perfeita harmonia com um rosto angelical. Um corpo esbelto repleto de curvas perigosas, que deixaria até mesmo os ''pilotos'' mais experientes com os nervos a flor da pele. Tudo isso perfeitamente encaixado dentro de um belo vestido apertado. Não podemos esquecer, é claro, de um belo par de olhos claros, envoltos por uma maquiagem sedutora, e óbvio, um cabelo incrível daqueles que exalam um delicioso cheiro de rosas silvestres enquanto ela desfila lentamente em seu salto alto. Whoala! Temos uma combinação perfeita que a mídia nos traz quando perguntamos ''O que é uma mulher bonita''? E segundo os babacas de plantão que só falam de sexo e só vivem para satisfazer os seus extintos mais primais, sim, a mídia tem toda razão.

O fato é que ao contrário dessa grande maioria eu faço parte dos outros 10%. Sim, enquanto a maioria dos caras procuram rostos e corpos considerados perfeitos embasados em estereótipos ditados pela sociedade eu procuro as garotas que em geral são consideradas "estranhas". Não que eu as considere estranhas, muito pelo contrário, mas esse é o modo como a mídia e a maioria dos meus amigos as descrevem. Se bem que a maioria deles não sabem nem soletrar ''Massachusetts'' . Então, pouco importa o que pensam. 

É claro que já sai com diversas dessas garotas pelas quais os caras nerd's da universidade deixariam que elas usassem seus quadrinhos raros da Marvel como guardanapo ou papel higiênico, mas elas eram tão burrinhas, artificiais e tão previsíveis que não importava com quantas delas eu saísse, era sempre a mesma coisa, os mesmos assuntos: moda, cabelo, perfume, séries, viagens com suas famílias ricas e claro, ir às festas da universidade e exibir tudo o que tinham. Sei que para os outros jogadores de futebol que não sabem nem ao menos resolver uma simples equação quadrática isso era irrelevante, mas para um cara como eu, fissurado por desafios e disposto a viver cada segundo de modo imprevisível, garotas assim são-Espera deixa eu pensar em uma palavra bem escrota para defini-las. Tá, já sei.- Enfadonhas. 

Concluí que talvez o que me atraísse nas mulheres fosse aquele jeito tímido, recuado e inseguro que algumas delas possuem, tentando passar desapercebidas pelo mundo com suas roupas folgadas, seus tênis All stars, ou então se escondendo por trás de um par de óculos enormes, totalmente o inverso das garotas ''atraentes'' que viviam me perseguindo e exibiam toda a beleza que possuíam por fora, a fim de tentar compensar a falta de conteúdo que possuíam dentro de suas cabeças ocas.

Ao contrário dessas, era como se cada uma daquelas garotas ''estranhas'' fosse um desafio diferente a ser encarado. Como se existisse uma espécie de labirinto entre os olhos delas e seus corações, repletos de armadilhas e caminhos sem saída. Ao contrário das garotas superficiais, para essas garotas, independentemente de quem você fosse, desde um motoboy até o presidente dos Estados Unidos, se você tomasse uma decisão errada, poderia fazê-la te odiar para sempre. Por mais que eu tivesse um gosto peculiar em relação as garotas e estivesse disposto a encarar o desafio de conquistar uma delas, eu vivia cercado pelos meus amigos babacas e ainda não havia tentado me aproximar de nenhuma garota ''estranha'' com receio de que aquilo pudesse interferir de alguma forma na minha popularidade, mas o fato é que eu já estava de saco cheio de fingir ser alguém que eu não era. Talvez fosse a hora de parar de me preocupar com a opinião dos outros e abandonar aquele roteiro monótono.

Por ter herdado uma boa herança do meu falecido avô, que por sinal foi bem tarde, nunca tive problemas em bancar os desejos das garotas com quem saía, e por muitas vezes bancava sozinho festas para centenas de pessoas da universidade na minha humilde mansão.
Bom, acho que não me apresentei ainda. Meu nome é Brandon Fletcher. Capitão do time de futebol americano da Universidade de Shultz nos Estados Unidos, sou um gênio em diversas matérias, principalmente ciências, e poeta nas horas vagas. Tá, eu sei, essa é uma combinação bem fora do comum, geralmente os jogadores de futebol são burros e mal sabem calibrar um telescópio equatorial, os alunos nerd's fissurados por ciências mal conseguem segurar uma bola nas mãos e os poetas vivem em um universo onde a unica coisa que faz sentido são seus próprios sentimentos, mas não tenho culpa, nasci privilegiado, sou bom em tudo que faço, e não tem nada que eu não consiga fazer.

Em resumo, sou o que muitos classificam como o cara perfeito. E não venha me chamar de convencido, afinal, não fui eu que atribuí este título aminha pessoa, mas sim as dezenas de garotas que fazem fila para poder me cumprimentar todos os dias. É claro que eu trato todas elas bem, porém nada mais que um belo sorriso e uma piscada rápida, pois para algumas mulheres, meia palavra de um cara atraente como eu pode soar como um convite para um bate papo de horas e horas, e cai entre nós, ninguém merece uma garota sem cérebro falando na sua orelha sobre moda, fofocas de famosos, roupas, festas, enfim, todas essas coisas que não vão acrescentar nada em sua vida.

Porém existia uma garota. Sarah Grace. Ela já estudava na universidade a um bom tempo mas só havia reparado nela semestre passado. Cara, aquele dia eu buguei. Fiquei cerca de dois minutos olhando ela organizar suas coisas do armário enquanto meus amigos chamavam meu nome e olhavam na mesma direção que eu para tentar entender o que estava roubando minha atenção.  É claro, eles não a enxergavam como eu, então pensaram que eu estava vendo algum espírito no corredor, mas a verdade é que eu estava contemplando o ser mais fascinante e encantador que meus olhos já haviam avistado. Para muitos, ela poderia não ter nada de mais, mas de acordo com o meu radar de garotas ''estranhas'', ela era de longe a garota estranha mais perfeita que eu já havia encontrado.

No início do semestre descobri que teríamos algumas aulas juntos. Achei que aquele seria o gatilho perfeito para poder me aproximar dela, mas estava completamente enganado. Todas as vezes que passava por ela, ou tentava iniciar uma conversa, ela nem ao menos olhava na minha cara, era como se eu simplesmente não existisse no mundo de Sarah Grace. No decorrer das aulas, descobri que ela era incrivelmente inteligente e pela primeira vez cheguei a pensar que havia encontrado naquela universidade alguém tão inteligente quanto eu. 

Por mais que a rejeição dela não me agradasse por um lado, por outro, fazia com que eu me sentisse vivo. Já estava tão acostumado com diversas garotas da universidade correndo atrás de mim e pendurando minha foto em seus armários que havia me esquecido que poderiam existir garotas que não me apreciassem e aquela rejeição de Sarah Grace se tornou para mim um desafio, e quando Brandon Fletcher é desafiado, ele não desiste até ganhar - Espera, por que falei de mim mesmo em terceira pessoa? Enfim.

Nós éramos da mesma classe em ciências naturais, onde Sarah por sua vez sempre foi o destaque da turma, até que eu cheguei. Não que eu tenha ocupado a posição dela de melhor aluna em ciências naturais, isso era meio que impossível até mesmo para mim, mas desde que passamos a dividir a mesma sala, passamos a disputar o titulo de melhor aluno pois ambos sempre atingiam as notas mais altas e levantávamos as mãos ao mesmo tempo para responder as perguntas. Confesso que gostava dessa rivalidade, talvez esse fosse o único vínculo entre nós e isso me motivava a continuar progredindo e me dedicando cada vez mais nas matérias, porém, embora gostasse disso, Sarah não aparentava o mesmo. Aos poucos pude perceber que ela vivia daquilo, aquele era o mundo perfeito de Sarah, e quando aqueles  olhos negros e profundos dela encaravam os meus, sentia como se eles me dissessem ''você já tem o seu lugar de destaque, caia fora do meu''. 

Não era possível identificar quem Sarah Grace realmente era, o que ela gostava ou pensava em fazer da vida. Ela não parecia ser nenhum pouco amigável. A não ser pela dedicação aos estudos, ela era totalmente neutra e misteriosa. Não tinha muitos amigos. Era como uma sombra que não deixava rastros por onde passava. A única ponte que ligava seu interior ao seu exterior eram seus olhos. -E que olhos-. Certo dia após a aula, ela me encarou no corredor. Eu, é claro, resolvi encarar de volta. O que eu não sabia, é que pela primeira vez em toda a minha vida eu me sentiria intimidado pelo olhar de uma mulher. Recuei. Ela percebeu que havia deixado Brandon Fletcher, o cara mais popular e confiante da Universidade sem graça. Rindo, deu as costas para mim como se eu tivesse perdido a disputa. Confesso que perdi aquele duelo de olhares, porém o que ela não sabia, é que eu amava desafios e naquele dia Sarah Grace havia acabado de me desafiar para o desafio mais intenso de toda minha vida.

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