Capítulo Sessenta e Oito

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O poderoso chefão


Eu estava sentado no chão daquela cela fria e escura na delegacia já fazia mais de quatro horas. Assim que chegamos, o tenente fez um relatório sobre tudo que eu havia cometido, desde a invasão na casa de Sarah até a minha fuga. Enquanto escrevia o relatório na frente dos outros agentes que estavam no local ele me encarava com um olhar de repulsa, como se eu realmente fosse um criminoso, mas assim que surgiu uma brecha ele finalmente piscou para mim e eu logo pude entender que tudo aquilo ainda fazia parte do plano dele. Antes de levar o relatório para o delegado do departamento de polícia, Fabrucci me levou até uma cela no subsolo da delegacia aonde ele tirou minhas algemas e me deixou trancado. Ele disse que iria conversar com o delegado e fazer de tudo para me soltar ainda naquele dia. Assenti com a cabeça e agradeci à ele por me ajudar e por fim ele saiu.

Porém aquela altura eu já não tinha tanta certeza de que sairia dali tão cedo. Já fazia um bom tempo que o tenente havia saído. Caso ele tivesse conseguido convencer o delegado a me soltar isso já teria acontecido. Aquela demora só poderia significar uma coisa; eu iria passar mais tempo ali do que eu esperava.

Cada hora naquele lugar sombrio e solitário parecia durar um século. Por um momento eu pude entender o porquê as pessoas que cometem crimes são privadas de sua liberdade e são condicionadas a viverem isoladas em um lugar tão soturno. O simples fato de ficar encarcerado te faz pensar em cada um dos atos que você cometeu em sua vida e no que você poderia ter feito para ter evitado ir parar na cadeia.

Eu nunca havia dedicado tanto para refletir sobre a minha vida como nas horas em que fiquei preso naquela delegacia. De repente eu comecei a estabelecer uma espécie de linha do tempo na minha mente desde a minha infância conturbada até o presente momento em que eu me encontrava. Em poucas horas havia conseguido pensar em toda minha vida. Nas coisas boas que haviam acontecido nos últimos anos, mas principalmente, nas escolhas erradas que eu havia feito mas que só agora eu conseguia enxergar que elas não eram as escolhas certas. Por mais que agora fosse tarde demais consertar os estragos que havia feito, eu pelo menos havia conseguido perceber todas as falhas que havia cometido e certamente depois de tudo o que eu havia passado nunca mais iria cometê-las novamente. Eu agora tentava ver tudo aquilo de uma forma positiva, como uma lição que a vida havia me imposto para que eu pudesse aprender a não cometer os mesmos erros novamente, mas aqueles olhos da Sarah que me encararam de uma forma tão vazia e tão fria quanto a cela em que eu estava não saiam da minha mente.O fato é que ela realmente havia realmente partido para sempre e eu precisaria aprender a conviver com aquilo.

Ouvi som de passos. Alguém estava vindo em direção à minha cela.

-Brandon-Disse o tenente Fabrucci colocando a chave na fechadura e abrindo a cela.-Venha comigo.

Sem nem ao menos questionar me levantei do chão e segui o tenente.

***

Fabrucci permaneceu calado durante todo o tempo enquanto caminhávamos pelo corredor da delegacia. Já passavam das dez horas da noite. A maioria dos funcionários já haviam ído embora. Eu ainda não tinha certeza se seria solto mas ele não havia me algemado ao me retirar da cela então deduzi que aquilo deveria um bom sinal.

Após mais alguns passos chegamos até uma sala. Fabrucci abriu a porta e com um sorriso no rosto inclinou sua cabeça em direção ao interior da sala me convidando para entrar.

La dentro a sala estava escura, iluminada apenas por uma luminária em cima da mesa. Atrás dela, um homem de idade porém muito elegante, com um cabelo escovado para trás e uma barba fina em seu rosto. Ele fumava um charuto que logo identifiquei ser idêntico aos que meu avô costumava fumar em ocasiões especiais. Ainda não sabia qual era o nome dele, mas poderia chamá-lo de Dom Corleone, pois naquela sala ele era tão imponente quanto o poderoso chefão.

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