𝗲𝘀𝗰𝗼𝗿𝘁, raphael veiga.

013. PROCURA-SE!

Raphael Veiga
📍 São Paulo, SP

— O que procuramos? — Piquerez pergunta, perdido e ao mesmo tempo tentando me ajudar vasculhando pelo carro assim que chegamos em casa.

— Ah foi mal, Pique! Estamos procurando uma agenda vermelha com G.S escrito na capa, quem achar primeiro grita, ok? — Expliquei, Joaco assentiu e então continuamos a busca.

Sem sucesso.

— Não é possível, tem que estar aqui...

— E por que é tão importante? Perdeu, pena... Mas é só comprar outra, no? - Joaco perguntou, me fazendo arrepiar.

O uruguaio é um dos meus melhores amigos, mas será que devo contar a verdade a ele? Que meu namoro com Giovanna não passa de um acordo financeiro entre nós para que ninguém descubra seu segredo e que em dezembro o mesmo chegará ao fim?!
Decido contar, antes saber por mim do que por alguma maldita página de fofoca.

— Acontece que não é uma agenda qualquer, a Giovanna usava ela pra... — Quando começo a explicar, uma voz feminina interrompe.

Giovanna.

— Marcar clientes para desenhar e fazer roupas para festas, casamentos e por aí vai! Como estou terminando a faculdade, vou aproveitar e voltar com esse... trabalho. — A ênfase que ela deu na última palavra e o olhar que me lançou me deixou com medo e ao mesmo tempo excitado pra saber como ela é na cama quando brava. — Se quiser posso fazer um terno pra você, Piquerez!

— Gracias! Mas no voy casar... — Joaco respondeu, rindo.

— Ternos não se usam só em casamentos e formaturas, querido. — Giovanna retruca. — Em velórios também! — Mais um olhar feroz em minha direção. Ok, agora brochei! Ela seria capaz?

— Que horror, amiga! — Jullie diz, visivelmente cansada daquela situação. — Por que não conta logo a verdade?

— Era o que eu ia fazer antes de alguém chegar e me interromper. — Digo, agora sem medo do que Giovanna poderia fazer. Piquerez sempre foi de minha extrema confiança, nunca tivemos segredos.

— Então tá, conta! A casa é sua, faça o que quiser... — Giovanna diz, se jogando no sofá.

— Tô confuso! — Joaco diz, sentando no sofá ao lado.

— Acontece que esses dois não são um casal tradicional. — Jullie começa a explicar. — O Rapha pegou o número da Gio no jornal e...

— No jornal? Como? Es asi se que flerta por aqui? — Não consegui não soltar um riso ao ouvir Piquerez perguntar isso. Tão inteligente pra muita coisa, mas tão ingênuo pra outras.

— Não foi flerte, eu... — Giovanna tentava ter coragem para dizer. Eu apenas a olhava balançando a cabeça positivamente, como se quem dissesse que poderia contar com Joaco também. — Eu era acompanhante de luxo, Joaquín. — Pique arregala os olhos, ele definitivamente não esperava aquela resposta. — Por isso o Raphael conseguiu meu número tão facilmente, ele era divulgado em certas sessões dos jornais. Mas desde que estamos morando juntos eu não saí com mais nenhum outro cara, tanto que meus planos são terminar a faculdade e seguir no ramo da moda.

— Mas seus pais no podiam...

— Não queria depender do dinheiro deles e muito menos do meu irmão. — Giovanna disse, agora em pé. — Acham mesmo que eu não entreguei currículo em todos os lugares que eu achava ter chance de trabalhar? Eu estava desesperada, sempre que era chamada para entrevistas nunca conseguia por não ter a tal experiência que era exigida. — Lágrimas no seu rosto a cada palavra e meu coração apertado ao vê-la desabafar de uma forma nunca vista antes por mim. — Se eles descobrem... Não gosto nem de pensar mas com certeza fariam de conta que não me conhecem e que nunca fiz parte da família.

— Uh... Ahora entiendo. — Piquerez disse, indo em direção a Giovanna e a abraçando. — No te preocupes, tienes un amigo!

— Obrigada, obrigada aos três! — Giovanna disse, emocionada. Jullie e eu nos olhamos e nos juntamos ao abraço.

— Você já olhou sua bolsa e eu meu carro, essa agenda sumiu Gio. E agora? — Pergunto, algum plano ela deveria ter.

— Vou lidar com as consequências sejam elas quais forem, fui eu que procurei isso então...

Se houve um momento que passei a admirar Giovanna ainda mais pela coragem, o momento foi esse. Ao mesmo tempo que eu sentia uma vontade de protegê-la de todo mal e sem nenhuma malícia, protegê-la como se eu fosse um... escudo.

Mas algo ainda me incomodava, decidi falar com Jullie depois que Piquerez havia ido embora e Giovanna subiu para tomar banho e tirar o nervosismo e tensão de seu corpo.

— Como é que é? É por que não contou isso antes? — Jullie perguntou indignada, após ouvir meu relato sobre Bruna.

— Porque de longe eu não tive certeza do que era, mas ela chegou uns cinco minutos depois de vocês e mais, não tinha mais nada no chão que chamasse a atenção além desse caderno.

— Que agora você acha que pode ser a agenda da Gio!

— Exato! Meu medo é: e se ela viu tudo acontecer, fingiu que chegou depois de vocês, encontrou a agenda e guardou para despistar? Vindo dela eu não duvido de nada, além de mentirosa também ser ladra.

— Mentirosa? Essa parte eu não entendi!

Respiro fundo. Odiava relembrar de tudo que Bruna havia feito comigo.

— A traição veio dela, não de mim! — Jullie me olhou surpresa, com certeza havia acreditado nas notas que Bruna plantou na época. — Não fui suficiente então ela pensou que me trair ficando com vários na mesma noite, ao invés de ser sincera e terminar, seria uma ótima ideia.

— Caramba, se a Giovanna souber disso tudo, vai mudar na hora a imagem que tinha ou ainda tem de você e também vai passar a me dar razão quando digo que não confio e muito menos gosto dessa mulher!

— Não conta nada ainda até termos certeza, ok? — Jullie assente, concordando. — Tudo irá acontecer na hora certa.