024. O RECOMEÇO.

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Giovanna Scarpa
📍São Paulo, SP

Desde que Raphael foi embora, não nos falamos mais. Decidi respeitar seu espaço e pelo jeito ele fazia o mesmo comigo, se limitando a apenas curtir tudo o que eu colocava no close friends — ainda não estava preparada para postar publicamente e agradecia todos os dias por existir essa opção.

E no meu estavam apenas: Jullie, Piquerez, Raphael e seus pais, Bruna, minha mãe, Gustavo e Sarah.

Meu pai era daqueles que só possuía perfil nas redes para manter contato com os demais familiares mas não fazia questão de postar nada, muito menos de saber da minha vida no momento, mas conhecendo minha mãe, com certeza ela mostrava tudo o que eu postava a ele.
Eu poderia pensar que Sarah fazia o mesmo com meu irmão, mas sempre que eu postava algo, o user de Gustavo aparecia entre as visualizações.

Só o que eu não conseguia visualizar era um nome para a nossa empreitada. Jullie e eu, em um dia que não tínhamos lições da faculdade para fazer, decidimos nos reunir na casa dela, onde morava antes de me juntar a Raphael, e dar início ao nosso sonho.

— Que tal, G&J? — Sugiro, na esperança de ouvir uma resposta positiva.

— Parece coisa de casal, amiga. Não tô afim de furar o olho do Rapha, ainda que você seja uma gostosa e eu também te ame... — Jullie respondeu, rindo. — Você não tem o que o outro gostoso ali tem! — Apontou a um Piquerez de folga, jogado no sofá e concentrado no videogame, que nem prestou atenção no que Jullie disse. Pelo menos era o que eu achava, até notar no sorriso de canto em seu rosto.

— Besta! — Rio. — Então, dá uma ideia e para de ficar babando nesse bobão. — O uruguaio joga uma almofada em mim e eu jogo outra de volta, dando início a uma guerrinha nos fazendo rir mais ainda.

— Poderia ser algo com nossos sobrenomes, o que acha? Marcharpa?

Faço uma careta com a sugestão da minha melhor amiga.

— No tiene un pokémon con ese nome? — Gargalho com a pergunta de Piquerez. Agora foi a vez de Jullie arremessar uma almofada nele. — Ai!

— Mas o caminho é esse, sobrenomes dão uma imagem mais chique, elegante. — Deduzo. — Scarpetti? — Jullie reprova. — Melhor que o pokémon! — Gargalho outra vez.

— Mas esse ficou parecendo nome de prato de restaurante italiano, Gio.

— Concordo, mi amor! — Piquerez disse, deixando o videogame de lado e olhando algo no celular. — Quieren comer algo? Essa conversa me deixou com fome.

Concordamos e deixamos o jogador escolher, de estômago cheio conseguiríamos pensar melhor e deixar as ideias fluírem.

— Scarpa & Marchetti Store! — Dissemos, em uníssono. Após um rodízio de hambúrguer e batata-frita e vários nomes recusados por ambas.

— Chique e moderno ao mesmo tempo, não poderia ter nome melhor. — Jullie disse, concordo batendo palmas animadamente. — Site ou rede social, por onde é melhor começar?

— Vamos por partes! Primeiro, abrimos um perfil no instagram com nossos desenhos como spoiler do que pretendemos oferecer e de como serão as roupas que iremos fazer. Depois, com tudo regularizado, faremos o lançamento do site e consequentemente, das vendas.

— Ótimo! Não vejo a hora de ver nosso sonho se tornando realidade, amiga.

— Eu também! Aliás, o que acha da Bruna pra ser nossa modelo exclusiva? Mídia não falta pra ela e traria isso pra nossa loja também.

Pela cara que tanto ela quanto Piquerez fizeram...

— Creo que no es una boa, Gio.

— Mi amor, obrigada por responder por mim o que eu responderia com mil palavrões. — Jullie diz, lhe dando um selinho em seguida. — Me lembra de trabalhar e meditar para ter essa sua educação, principalmente quando se trata de certas pessoas.

— Não tá mais aqui quem falou, então! — Levanto às mãos, em rendição. Deixo um longo suspiro escapar, meus amigos percebem e me olham com ternura e também preocupação.

— O que aconteceu? Do nada ficou cabisbaixa. Ânimo, Gio! — Jullie disse, me abraçando. — Se foi o que eu disse de não concordar com a Bru...

— Não, não é isso. — Respiro fundo. — É só um leve medo das pessoas me rejeitarem por ter sido acompanhante de luxo ou pensarem que usei a fama e também o dinheiro do Raphael pra agora aparecer fazendo algo totalmente diferente. Sendo que estamos começando do zero, como sempre deveria ter sido.

De leve meu medo não tinha nada.
E eu sabia como o mundinho da moda conseguia ser cruel na maioria das vezes.
Mas eu não quero ser modelo, nunca quis.
Só quero desenhar minhas roupas junto a Jullie e ser feliz fazendo o que verdadeiramente amo, será que é pedir muito?

— Todo começo é difícil, o recomeço mais ainda. Mas somos determinadas o bastante pra não desistir e toda vez que pensar em fazer, pense também no quão você batalhou pra chegar até aqui!

Me emociono, a abraçando. Piquerez não resiste e tira uma foto desse momento.

— Competente, gostosa e também fala bonito! Tirou a sorte gigante, hein Joaco? — Digo brincando, fazendo ambos rirem.

Eu não seria eu se não fizesse uma tirada daquelas e também não sei onde estaria sem aqueles dois ao meu lado. Não só eles...

Raphael Veiga
📍Tailândia

— Veio pra cá pra ficar nesse celular? — Gabriel perguntou, indignado comigo preferindo dar atenção a uma tela do que pra visão que tínhamos no restaurante, prontos para um café da manhã decente depois de horas no avião.

— Não lembro de ter te proibido de ficar no seu! — Brinco, o vendo revirar os olhos. — Mas tem razão, a vista é bem bonita mesmo. — Digo, pegando o cardápio e só entendendo o que está escrito por estar em inglês. — Já sabe o que vai pedir?

— O mesmo que você! — Assinto e faço o pedido. Desde que chegamos, dormimos o dia todo sendo acordados pelos nossos estômagos implorando por comida. — Tava falando com a Giovanna?

O assunto que eu pensei ser proibido, mas até aqui não conseguia não pensar nela. Não que eu tivesse deixado de fazer isso alguma vez.

— Não nos falamos mais desde o dia da despedida. — E que despedida, puta que pariu! Cheguei até a sonhar com aquele momento novamente, mas meu irmão não precisava saber dessas coisas e com certeza não estava interessado. — E a Duda, como andam as coisas entre vocês?

Duda era a namorada de Gabriel, carinhosamente chamada pelos meus pais de: nossa filha.
A filha que eles não tiveram.

— Ela só não veio por causa do trabalho, agradece por não ficar de vela. — Gargalha, chamando a atenção das poucas pessoas que estavam ali. Coloco meus óculos pra disfarçar a vergonha que Gabriel me fez sentir no momento.

— Ah, qual foi? Vai ficar com vergonha agora, Raphael? — Diz, praticamente arrancando o objeto dos meus olhos. — Até parece nunca fudeu...

— Pelo amor de Deus, Gabriel! Tem criança aqui, cara. — Solto um riso sem graça, mesmo sabendo que ninguém ali entendia o que falávamos por sermos de outro país.

E falando em crianças, uma música animada pairava no ambiente e algumas delas dançavam como se estivessem em uma festa.

Vou no embalo e mesmo sentado na mesa, começo a brincar com uma simpática menininha que estava acompanhada com a família na mesa atrás da nossa.

Eu dançava, enrolando meus braços algumas vezes e parando, apontando pra ela continuar.
E ela, que pelo seu tamanho conseguia ficar de pé onde a maioria das pessoas sentam, fazia o mesmo comigo.

Ambos sorrindo como se não houvesse mais nada nem ninguém ali. De certo a pequena não sabia o que era ter problemas ou boletos para pagar, já eu...

— Filma, Gabriel! — Peço rapidamente, voltando a atenção praquela pequenina.

Meu irmão fez melhor, posicionou o telefone e ativou o botão de gravar, já no meu perfil do instagram para que fosse direto...

Para os meus stories.

escort, raphael veiga.Where stories live. Discover now